
Se do passeio só se vê um letreiro néon com o nome do Portarossa, em que é fácil não reparar, sobretudo de dia, basta passarmos a entrada para nos sentirmos em espaço simultaneamente acolhedor e cosmopolita. Cá fora, uma esplanada com uma luz encantadora, convidativa num Outono ainda quente; dentro, uma decoração entre o simples e o estilizado: bons materiais e alguns toques de requinte (daquele sem esforço) diferenciadores são o elo de ligação entre as várias salas, sendo que ficámos na última – tanto quanto percebi, a maior -, que é a que tem ligação para a tal esplanada que invejei.
Reserváramos de véspera, na aplicação The Fork, que é muitíssimo prática, e tivemos a sorte de ainda ter lugar, já que o dia pretendido era uma sexta-feira. Simultaneamente, a mesa que nos guardaram era num dos cantos da sala, o que nos proporcionou assento nos sofás encastrados, mais do que confortáveis. A luz, pese embora não seja a melhor para as nossas fotografias iphonianas, é perfeita para um jantar de final de semana, em que os sabores e a conversa se misturam sem horas – o mesmo para o serviço, simpático e diligente sem ser maçador.
Propriedade de Vasco Mourão, o homem-forte da restauração portuense que possui pesos-pesados da gastronomia de que se desfruta na Invicta, como o Cafeína, o Terra ou a Casa Vasco, o Portarossa não engana: temos comida italiana, sim senhores, e da boa, vou já adiantando – falo de (modesta) experiência feita, porque foi a segunda vez que ali jantei.
Curiosamente, se, aquando da primeira visita (há um ano e picos), o couvert não deslumbrou (havia azeitonas, pasta de azeitonas – o que nos pareceu redundante – pão pouco fresco e azeite com um fundo de vinagre), desta feita, mantendo a simplicidade, a coisa soube lindamente: claro que se mantiveram as azeitonas boníssimas, o azeite com vinagre para molhar o pão, o cesto com pão de mistura e gressinos e, a estrela da companhia, um prato com um fundo de azeite e pão ligeiramente tostado e grosseiramente partido, salpicado com flor de sal – é que nos soube mesmo bem, esta coisa super-simples (mais uma daquelas que digo que é tão bom que reproduzirei em casa, embora toda a gente saiba que nunca o faço).
Para beber, optámos pela sangria de vinho tinto (e devo dizer que o preço do jarro de sangria é agora menos escandaloso, porque desceu dos 22€ para os 18€) e como pratos principais só vieram pizzas para a mesa: as pastas também lá moram (e ainda fizeram balançar o TD), mas foram as pizzas que nos chamaram a atenção da primeira vez (porque foi sobre elas que havíamos lido mais elogios) e eu não estava disposta a mudar de clube.
Há um ano, fui aconselhada pela CP (olá, miúda, se estiveres a ler isto!) a provar a Pizza de Cogumelos Trufados, que me caiu de tal modo no goto que a aconselhei ao TD desta feita – e devo dizer que também ele a achou fantástica (só por ela, o Portarossa merece visita!). Quanto a mim, fiquei com a de espargos e ovo, também ela saborosíssima. Todas têm tamanho avantajado e a vantagem de serem de massa tipicamente italiana, finíssima; já os ingredientes, muitíssimo saborosos e usados com conta, peso e medida (e a parcimónia difícil de encontrar, por cá). De destacar a eficiência do serviço: nunca tivemos de encher os copos de sangria ou de água, sendo que a funcionária que o ia fazendo primava pela discrição e jamais nos pareceu intrusiva.
Já algo cheios mas sem sermos capazes de prescindir da ideia (e da concretização) de um doce, lá veio a Pavlova com Mascarpone e Mel para mim (deliciosa, esta conjugação de sabores – e eu nem sequer sou fã de mel) e a Musse de Chocolate com Espetada de Frutas para o TD – que era uma coisa gira, mesclada de pedacinhos de suspiro, mas pecou pela espetada de fruta: o kiwi estava demasiado verde e duro mas, curiosamente, a bola de melão era bem saborosa (já não estamos bem no tempo do melão, pelo que se perceberia o contrário.).
No fim das contas, a conclusão é a de que, não sendo o Portarossa um espaço a ir todos os dias, só porque a brincadeira ficou por 29€ por estômago, é daqueles que valem mesmo a pena – de resto, nenhum de nós sentiu que o valor fosse excessivo, não só porque estivemos alapados das quase 21h00 até depois da 1h da manhã (como se estivéssemos em casa), porque o ambiente é convidativo, mas também porque nos foram proporcionados muitíssimo bons apetites – e, a esses, jamais resistimos.
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