Estava pensada há muitos meses, esta visita – mas, por uma razão ou por outra, só veio a concretizar-se num sábado de outono, antes de um concerto no Coliseu. A ideia era ir com tempo e desfrutar de uma noite amena, pelo que nem me incomodou sobremaneira o facto de que também no Cruel, tal como nos melhores restaurantes da cidade, as reservas se fazem agora por turnos, o que significa que quem, como nós, entrou às 20h, tem necessariamente de se pôr a andar antes das 22h, para que entrem os próximos. Ora isto, já o disse, desagrada-me porque comer por prazer há de ser sempre algo que gosto de fazer com tempo, sem ter um relógio a apressar-me – mas, como o Miguel Araújo cantaria às 22h, não foi um problema.
Depois de passada a pesada cortina de veludo que dá acesso ao restaurante, o acolhimento, bem como todo o serviço, foi afável e competente, se ser demasiado intrusivo (como por vezes acontece). Indicaram-nos uma mesa na primeira sala, mas acabei por, numa ida à casa de banho (que, curiosamente, não demarca os géneros, tendência já conhecida mas, ainda assim, original) espreitar a do fundo: na Rua da Picaria, os estaminés instalaram-se em antigas casas de habitação que têm este formato comprido, certamente com jardim ou pátio ao fundo, e respeitaram-lhes a morfologia.
A decoração e a iluminação (média, quase baixa) fazem pendant com tudo o mais: gosto de espaços com caráter, que não tentam ser senão si mesmos – e, nesse aspeto, o Porto está cada vez mais bem servido. Ora se há caraterística genuína no Cruel é a ementa: dividida em três menus, dirigidos a comensais mais arrojados (Cruel), os que estão dispostos a algo mais do que o normal (Cauteloso) e os mais conservadores (Medroso). Deu-se o caso de se juntarem à mesma mesa alguém sempre cheia de vontade de experimentar sabores e combinações novas (esta vossa criada) e alguém que nem por isso, pelo que acabámos por fazer uma mescla das três ofertas, que permitissem experimentar-se tudo, sem medos.
Antes dos pratos, veio o couvert, de que gostei particularmente: as azeitonas estavam sublimemente temperadas e os três tipos de manteiga caseira eram uma delícia, por apresentarem gostos diferentes, sendo que gostei particularmente da mais picante. O pão, de mistura, era igualmente bom e vinha em quantidade reduzida, o que é ótimo para quem, como eu, come pão até ele acabar.
Como entrada, veio um Rosbife de Porco Preto (Quase Cru) na Brasa, com Molho Tailandês (menu Cruel), que estava uma perfeita delícia, tenro e picante; quanto aos pratos principais, escolhemos apenas um: as Bochechas de Porco Coradas, Confitadas e Grelhadas, servidas com batata a murro e salada, igualmente gostosas e bem confecionadas (menu Cauteloso). Acompanhámos com um vinho de nome igualmente adequado: Infiel, um maduro tinto do Douro.
Nas sobremesas, catrapiscou-me a Torre de Chocolate, sobretudo pelo conceito: o preço é único (e puxadote: 8€) mas podemos escolhê-la na versão Cruel (gigantone), Cauteloso (média) ou Medroso; ora como me ia bater a ela sozinha, optei por esta última e, mesmo assim, asseguro que daria para três pessoas das não absolutamente glutonas, já que se trata de um bolo de chocolate bem alto e denso, entremeado com creme de chocolate, capaz de eliminar qualquer apetite por açúcar – tratei-lhe da saúde, mas com dificuldade. A outra sobremesa, Medrosa, foi uma Mousse de Chocolate com Crocante de Amêndoas, que foi igualmente muito gabada.
A conta saldou-se em 26€ por estômago, o que me parece absolutamente adequado e quero muito voltar para o tártaro, o risotto e o toucinho do inferno – e, paulatinamente, pelo resto da ementa também.
O Cruel é miminho bom, numa cidade com cada vez mais oferta, que nem sempre é proporcional à qualidade.
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Cruel Restaurante | Porto
Localidade: Porto
Telefone: 924 400 259
Horário: Seg a Qui – 19:30 às 24:00 | Sex – 12:30 às 15:00 e 19:30 às 01:00 | Sáb – 13:00 às 15:00 e 19:30 às 01:00 | Dom – 13:00 às 15:00 e 19:30 às 24:00
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