
Parece impossível que nunca aqui tenhamos falado deste estaminé, detentor do único nome que lhe faz jus: que outra designação para um restaurante situado em plena Rua do Ouro, já resvés com o Rio Douro? Como curiosidade, o espaço, feio que dói, de um ponto de vista estético amador (como o meu), tem a carga histórica de ter sido o abrigo dos engenheiros que erigiram a Ponte da Arrábida – e, quanto mais não fosse, só por isso, tem carradas de pinta. Dividido por três andares (o do rés-do-chão, onde se é recebido e se paga, o do meio e o cimeiro, com uma esplanada imperdível em dias de sol), o Casa d’Oro compensa em raça (e paisagem) o que aquele bloco de betão à beira rio não promete, à primeira vista.
Especializado em gastronomia italiana (tal como os seus manos Casanostra e Casanova, da mesma proprietária e sitos a Sul), oferece uma carta diversificada (que pretende cobrir todas as regiões do país) , sem fugir às tradicionais pastas e pizzas, que continuam a ser uma das minhas preferências de sempre.
Nós chegámos com fome da bruta e, talvez por isso, notámos a demora do serviço: ainda que o restaurante estivesse bastante composto, esperámos demasiado tempo quer pela entrada (Bruschetta com Pasta de Azeitonas) quer, sobretudo, entre ela e os pratos principais: uma Pizza Funghi (tomate, mozarela, cogumelos e orégãos) e Salciccia Napoletana (salsicha napolitana fresca com feijão), que demoraram o que nos pareceu uma eternidade a chegar, apesar de haver dois empregados só para o piso onde estávamos – o que me leva a crer que o problema resida na cozinha, de onde as coisas vão chegando por meio de um elevador com que nos deparamos no cimo da escada.
Resmunguices à parte, a verdade é que, se a bruschetta não me encantou de todo (pasta de azeitona preta sobre duas fatias de pão branco tostado mas pouco fresco e com um cheirinho de manteiga é muito menos do que esperava), a pizza de cogumelos estava francamente boa, na sua simplicidade – e eu cada vez aprecio mais pizzas com pouco (mas bons) ingredientes, de massa tão fina e crocante quanto possível. Esta não me desiludiu nem um bocadinho e foi degustada até à última migalha. Já a salsicha napolitana não encantou o PR (nem a mim, que não quis prová-la): não pode dizer-se que a descrição não seja absolutamente rigorosa, mas havemos de convir que uma salsicha pousada num mar de feijão branco (aquele de que menos gosto) não é propriamente o que se espera de um prato pedido num restaurante – francamente, pareceu-me mais algo que eu teria amanhado nos meus tempos de estudante universitária deslocada, caso gostasse de feijão.
Os graus de satisfação eram, por tanto, diversos, de um e de outro lado da mesa – mas a paisagem ajuda a atenuar o que quer que seja: era tarde solarenga de princípios de Dezembro, estávamos sem casacos e havia muito rio para descansar o olhar.
Ainda assim, não desisti da prova: o PR prescindiu da sobremesa (haveria de debicar um nadinha da minha, só para me “ajudar”) mas eu não sairia dali sem provar o tiramisu – que, contudo, não se revelou a melhor das escolhas, sobretudo para quem esteve duas vezes em Itália no último meio ano e os saboreou boníssimos. Este tinha demasiado pão-de-ló e o creme não estava, claramente, acabado de fazer – mas comeu-se sem problema, que o que é doce nunca amargou (já dizia a avó M.).
No final, que prolongámos com um cafezinho (o sol estava demasiado bom para lhe virarmos costas sem mais), veio a conta, que se traduziu em cerca de 15€ por estômago: os apetites podem não ter sido homogéneos ou os melhores do mundo, mas está-se muitíssimo bem na Casa d’Oro e é sítio a voltar, com certeza.
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