Engraçado como as coisas são: saí de casa com o intuito de ir jantar a um estaminé em específico e, porque se tratava da véspera de um feriado e nós não havíamos procedido à marcação, tivemos de mudar de planos. De resto, o erro foi todo nosso: o restaurante em questão (a que voltaremos em breve, porque somos marretas) só aceita marcações para grupos de menos de 6 pessoas de segunda a quinta mas, porque era uma quinta-véspera-de-feriado, assumimos que a regra estaria suspensa e não reservámos mesa (e afinal havia lugar a marcações sim senhores, porque era quinta-feira, independentemente de ser véspera de). Assim, e ainda que o horário fosse tardio (21h30), deram-nos uma previsão de uma hora de espera – o que, para os nossos estômagos esfaimados (e obrigações para o dia a seguir, que há quem trabalhe nos feriados, pois então) era absolutamente intolerável. Agradecemos a simpatia, prometemos regressar (de resto, quando esta posta sair, muito provavelmente já lá teremos ido) e fomos pregar para outra freguesia, que desconhecíamos uma hora antes.

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Na verdade, tendo deixado o carro no parque subterrâneo, em Carlos Alberto, descia em direcção aos Aliados quando reparei num restaurante mexicano que, tanto quanto me lembrava, não existia na Rua José Falcão, perpendicular à rua das Galerias de Paris (mesmo cá ao cimo) até há bem pouco tempo – ou, pelo menos, quando eu ia para a Baixa amiúde, o que já não acontece há muitas luas. De resto, são tantas essas luas que, depois de chegada a casa, verifiquei que a Cantinita (assim se chama o estaminé) está aberta vai para dois anos – e eu a achar que tinha feito uma descoberta estupenda.

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O Espaço

 

Da rua, não é perceptível o espaço generoso e acolhedor, nem as cores garridas e os motivos que decoram as paredes – ao que parece, a proprietária terá querido reproduzir o ambiente vivido e a paparoca degustada aquando de uma viagem de finalistas ao México e, a uma primeira vista, a coisa estava definitivamente feita com primor: não falta a caveira colorida pintada numa das paredes, os cactos, os sombreros e até a música, que coexistem com uma aura cosmopolita e aprazível.

Éramos só duas e, apesar de o restaurante estar quase cheio, lá estava uma mesa à nossa espera, ao fundo, junto ao balcão e à cozinha, o que é tanto melhor para quem gosta de observar o modo de funcionamento, o que sai mais e até a forma como o staff (neste caso, duas pessoas de serviço às mesas) se organiza. As ementas foram-nos facultadas enquanto nos sentávamos e tivemos de passar um bocado a estudar o caso, já que a oferta era imensa (e desconhecida, na sua maioria), entre entradas, pratos principais, pratos vegetarianos, tacos, burritos e tortas – para além das sobremesas, a que gosto de deitar o olho mal assento arraiais, para ir prevendo o desfecho.

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Antojitos

 

Depois de algum debate, a coisa estava decidida: para entrada, viriam os Antojitos, compostos por quesadillas, tacos dorados, sope, empanadas de atum, nachos e tostadas de tinga (8€, prato recomendado para duas pessoas) e, como pratos principais, para dividirmos, Fajitas de Frango (tirinhas de frango salteadas com cebola e pimentos, acompanhadas de feijão e arroz, 12€) e Tacos de Nopales (tacos de cacto com cebola, orégãos e chile, 6,50€). Duas Coronas (2,50€ por garrafa de 35cl, servidas com pedaço de lima e sem copo, como deve ser) e tínhamos o plano da noite-à-mesa, com muita conversa para pôr em dia, feito – vão reparando como as minhas necessidades de conversas postas em dia acabam sempre à mesa e perceberão por que é que os Carapaus têm tantas incursões: há lá forma melhor de conviver?

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Quando chegaram os Antojitos, só não batemos palmas porque somos mulheres adultas e pouco deslumbradas – mentira, batemos mesmo, mas baixinho e só para nós: que festim de coisas boas, caramba! Enquanto a M. se perdeu especialmente com os nachos e o guacamole, eu fui saboreando tudo com o prazer de quem descobre e tenta ligar a iguaria ao nome – e, em termos de sabores, com excepção do molho de natas amargas (que parece um iogurtinho e de que nunca fui fã), ficámos ambas maravilhadas. As texturas e crocâncias estavam no ponto, a temperatura igualmente e, quanto a nós, constatámos ainda mais apetite do que fome – no final das entradas percebemos que a maioria dos estômagos poderia ficar-se por ali e iria muitíssimo bem servido.

Depois, atacámos os tacos, também eles divinos (embora não tenhamos detectado o cacto, mesmo porque não nos lembrámos), a que acrescentámos o molho picante que nos fez passar a uma segunda Corona com uma velocidade que não antevimos. Finalmente, as Fajitas, que não deslumbraram – não porque estivessem más ou fossem mal cozinhadas, mas porque eram apenas aquilo que estava descrito (pelo que nem podíamos esperar mais) ou, muito provavelmente, porque já estávamos cheias que nem loucas. O molho de natas que acompanhava o prato (sabiamente servido à parte) também não nos encheu, de todo, as medidas.

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Taco de Nopales

 

Claro que a sensatez mandar-nos-ia passar ao café e ficarmo-nos por ali, mas esta vossa criada não descansa sem um docinho. Confesso que o olho me tinha ficado nos Nachos doces, descritos como sendo acompanhados por chocolate, manteiga de amendoim e marshmallows e destinados a duas pessoas (5€ e um festim de gordura e doce para os meus sentidos), mas a MJ é a minha antítese nisto das sobremesas: ela gosta é de fruta (pouco doce) e gelatina sem muito açúcar, pelo que não encontrei parceira de crime e tive de me ficar pelo Brownie Mexicano (2,90€) que é como se fosse um fondant mais cozido mas com o aspecto (quadrado e baixo) de um brownie, servido com uma bola de gelado de tangerina e uma folha de hortelã. Lá vieram dois talheres, a ver se ela se entusiasmava, mas para além de uma prova do bolo, que achou demasiado doce (e eu que até estava a pensar que era coisa boa para ela, por ter pouco açúcar) e de ir debicando o gelado, acabei eu por tomar conta da ocorrência.

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O Brownie Mexicano

 

Prescindimos do café, porque a noite ia ser curta e pagámos cerca de 20€ (um bocadinho menos) cada uma, o que nos pareceu perfeitamente justo para o que comemos e para o serviço eficiente e simpático. Já agora, e a este respeito, cumpre-nos dar conta de que a outra metade dos Carapaus, o AV, esteve na La Cantinita há umas semanas e quando, a posteriori (porque nem eu nem ele sabíamos que eu iria lá parar), trocámos impressões sobre o estaminé, nem parecia que estávamos a falar do mesmo restaurante, tanto ao nível da comida como do serviço – o que só prova que as circunstâncias, as horas, a sorte e o azar, os humores ou até o dia que escolhemos para uma incursão podem alterar em absoluto as impressões com que ficamos de um restaurante.

Eu e a MJ saímos de lá muitíssimo bem impressionadas e plenas de bons apetites.

La Cantinita

Morada: Rua Santa Teresa 28, Porto
Telefone: 91 538 8553
Horário: Seg – 19H30 às 24h00 | Ter a Sáb – 12h00 às 15h00 e 19h30 às 24h00
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2 Comments

  1. tudo neste post me pareceu muito surreal até ao final, onde li que outra pessoa tinha lá ido e tinha achado um restaurante completamente diferente. foi essa também a minha experiência.
    fui lá há cerca de um ano e meio e realmente não foi nada como o que aqui foi descrito.
    era um grupo grande, cerca de 10 pessoas. as entradas, uma dessas travessa com um mix de tudo, demoraram mais de meia hora a chegar. e chegou só uma travessa; a outra apareceu mais meia hora depois, quando a primeira já tinha acabado. aquela espécie de rissóis, que eu eu não sei o nome, vinham quentes por fora e congelados por dentro, porque foram feitos no microondas, como tudo lá aliás.
    pedi para tirarem um ingrediente que eu não gostava do prato que pedi, e disseram-me que não podiam fazer isso porque os pratos já vinham feitos – mais uma vez congelados e aquecidos no microondas.
    margaritas muito industriais, tipo aquele vinho de pacote.
    serviço horrível, demorado, fraco, pouco atento, demoramos mais de 2h até terminarmos de comer, porque toda a comida demorava muito tempo a chegar e chegava em alturas diferentes para cada pessoa.
    um sítio definitivamente a não voltar!

    1. Olá Maat. :)
      Não estou certa do que quer dizer com o facto de achar esta crónica “surreal” – o que aqui foi relatado aconteceu exactamente assim, tal como aconteceu o AV ter lá ido e não ter gostado. Ou seja, os restaurantes, como as realidades em geral, não são imutáveis, e nós limitamo-nos a descrever a nossa experiência durante o tempo em que lá estivemos. Nesse sentido, garanto-lhe que a minha experiência foi muito real, a comida estava óptima e o atendimento foi adequado e simpático – e mesmo assim não acho o que relata impossível ou “surreal”, mesmo porque aconteceu há ano e meio (a do AV foi umas semanas antes da minha). Ou seja, não sei se tivemos sorte com o dia que escolhemos, se com o prato que seleccionámos: connosco correu lindamente. :)

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