Há já algum tempo que andávamos para visitar a casa que se diz (e ainda não apareceu outra a disputar o título) ter servido a primeira francesinha.
Afinal, um Cardume nortenho não poderia deixar de mandar uma posta sobre um estaminé tão carismático como o Restaurante A Regaleira, ali no final da Rua do Bonjardim, já junto à Brasileira e ao Teatro de Sá da Bandeira.
E lá fomos, poucos mas bons (os dois Carapaus residentes mais a honorabilíssima IP), em noite fria a pedir estômagos reconfortados.
A primeira sensação, quando se entra na Regaleira, não é propriamente a de acolhimento, quer do espaço quer por parte da equipa de lá trabalha, toda ela parte da mobília e nitidamente sem a formação que hoje em dia se encontra praticamente em qualquer funcionário da área da restauração.
Ainda assim, sem grande simpatia ou efusividade, há eficiência – talvez até por excesso, mas já lá vamos.
A Regaleira é um restaurante antigo, de tecto alto, algo frio e, decididamente, nada bonito.
As cadeiras despertam interesse porque, apesar de nitidamente já terem sustentado muitos corpos, são robustas e têm personalidade.
Uma espécie de arranjo com frutas e garrafas de vinho de volta de um arbusto domina (no pior dos sentidos) o piso térreo, capaz de albergar uma boa centena de pessoas.
Mas naquele dia éramos só nós: três clientes e três empregados, mais as senhoras da cozinha, que saíram ainda antes de darmos o repasto por encerrado, cerca das 22h30 e sendo a hora de fecho definida a meia noite.
Não estaríamos interessados em passar ali muito tempo, é certo, mas a limpeza com que nos despacharam, desde que pedimos os primeiros finos até ao fim, é digna de restaurantes de fast food.
Mas vamos ao que (mais) interessa: as francesinhas.
Pedimos duas francesinhas em pão de forma e uma em pão biju, para a IP, uma vez que ali não se fazem meias francesinhas.
Entretanto, fomos obsequiados com um pratinho com seis croquetes de carne, que picámos entusiasticamente: apesar de feitos há já muitas horas (provavelmente sobrados do almoço, altura em que a casa estará mais composta), eram saborosos.
Se tivessem sido acabados de fritar, mereceriam o único ponto positivo da noite, estou certa.
Ainda antes das francesinhas, a travessa de batata frita: às rodelas, caseiras, teriam tudo para constituir mais um ponto positivo, mas estavam carregadas de óleo e, porque de corte grosso, nada estaladiças (para além de que tinham pouco sal, mas isso resolver-se-ia bem).
Quanto às francesinhas, o que temos para vos dizer é que, se a Regaleira se manteve fiel à original, ainda bem que muitos outros estaminés evoluíram: aqui, seja feita com pão biju ou de forma (ambos rijos e de formato diminuto), o molho só se destaca pelo picante e as carnes resumem-se ao mínimo (linguíça, salsicha fresca e fiambre), para além de que, em vez do tradicional bife, é servida com lombo de porco, o que nos desagrada sempre (até ver).
Tendo ficado com uma certa fomeca, o AV ainda pediu uma tosta mista e essa, pobre, era feita com o mesmo pão de forma de fraca qualidade e dureza tal que se me dissessem que tinha quinze dias eu acreditaria.
O recheio era farto, mas não esteve tempo suficiente na prensa e o queijo não vinha derretido. Mais uma coisa seca e massuda, que até ao AV cortou o apetite.
Faltavam as sobremesas que, após a desilusão generalizada, poderiam vir salvar a honra do convento.
Mas também não foi por aqui: da meia dúzia que a ementa prometia, só havia tarte de maçã e pudim francês (deste, constavam uma boa dezena de exemplares, ainda enformados, devem fazê-lo para uns quantos dias), para além de uma dose de toucinho do céu.
Escolhemos os dois primeiros (a IP dispensou o doce) e, não tendo dado origem a comentários negativos, também não mereceram aclamações – provavelmente também porque ainda íamos a meio da sobremesa e já nos estavam a espetar com os cafés à frente, numa clara de atitude de vejam-lá-se-se-despacham-que-a-malta-quer-fechar-a-chafarica.
E nós despachámos. Pagámos os 17€ que nos eram devidos por cabeça (preço que consideramos demasiado elevado, considerando o que nos serviram e o modo como nos atenderam) e pusemo-nos a andar. Palpita-me que para nunca mais voltar.
Uma boa semana plena de bons apetites, sim, Cardume?
Pois é, a Regaleira já foi ponto de encontro de tantos e tantas coisas, quando os bancos e outros serviços estavam em força na baixa. Trabalhei 38 anos naquela esquina ( não faço publicidade ao Banco ) e aquilo era Wall Street e na Regaleira concretizavam-se e festejavam-se os negócios ou negociatas.. Depois das 16H30M era ver os bancários na época em que ainda havia muito papel ( agora é tudo digitalizado ) a matar o ‘ secão ‘ com uns belos de uns finos e uns camaroezinhos à maneira… Ao almoço enchia com a burgesia the baixa, entre bancários, banqueiros ou aspirantes e proprietários de loja. Hoje, a Regaleira, a Brasileira, os 3 Irmãos ( já fechado e com uma orelheira defumada e grelhada de comer e chorar por mais) são fantasmas. Já quase não há bancérios, os banqueiros mudaram a zona de ataque e os proprietários das lojas ou morreram ou as lojas fecharam. Só há bem pouco tempo, meia dúzia de anos, experimentei a dita francesinha. Não sou amante das mesmas, duas por anos já me satisfazem, mas não gostei…. A panela onde se faz o molho é um ex-libris do restaurante e tem um aspecto tenebroso, mas dizem que é esse ar que lhe dá o gosto ( ao molho, claro) que efectivamente e a quase todos os níveis, parou no tempo…
Parou, sim, Maria. Ainda se nota, aqui e ali, essa lufa-lufa de que fala. Mas estacionou, a Regaleira. E perdeu o andamento. É uma pena…