
Não sei se se passa o mesmo com todos os leitores desta chafarica, mas apelo à memória dos da minha geração: nos anos 80 e princípio dos 90, antes de qualquer Pizza Hut chegar ao Porto (e mesmo depois de por cá se ter instalado a cadeia norte-americana), havia a Pizzaria Meidin – e, francamente, estávamos muitíssimo bem servidos assim. Não estou certa quanto ao estaminé da Boavista, em 5 de Outubro (o de que hoje se fala), mas o de Santa Catarina era o eleito para jantares de amigos, para ir com o namorado antes do cinema ou mesmo para convidar os paizinhos a pagarem-nos o almoço, depois de uma manhã de compras na Baixa.
Quando voltei ao Porto, em 2005, comecei a ir com mais frequência à loja da Boavista, o que se prende com a proximidade de casa e com a maior (que não total) facilidade de estacionamento, para além de que o espaço, sendo menos aconchegante e confortável do que o da Baixa, é bastante maior, o que nos assegura a possibilidade de jantarmos mesmo sem marcação – e a horas tardias, já que só encerra às 23h00.
Desta feita, tratava-se de um jantar com a MJ (que ainda por cima mora e trabalha mesmo ali ao pé), que andávamos a tentar marcar há já uns quinze dias ou três semanas, e que tinha sido adiado por incompatibilidades de agenda (note-se a tónica posta no somos-mulheres-muito-ocupadas); desta vez a coisa deu-se, mesmo que nos tenhamos encontrado às já 22h de uma noite muuuuuito fria, daquelas em que só apetece ficar enroscada em casa. Mas tínhamos conversa para pôr em dia e fome para matar – e o Meidin, sobre que quero escrever há imenso tempo, pareceu-nos a solução indicada.
Tivemos a sorte de estacionar quase à porta e de ter uma mesa à nossa espera: a sala estaria meio cheia, o que é dizer bastante sobre a clientela fiel do Meidin, já que estamos a falar numa terça-feira à noite, num horário pouco assisado. E tudo o mais decorreu com normalidade e a velocidade de que precisávamos, não só porque estávamos desvairadas de fome mas também porque se fazia tarde e ao outro dia haveria labuta para ambas.
De uma ementa bastante completa (entre entradas, pizzas, pastas, crepes salgados e doces, e gelados), começámos por pedir pão de alho com queijo – que, não sendo extraordinário ou sequer distintivo, serviu para nos acalmar as ânsias de comida. Para beber, pedimos o belo do fino (ainda está para nascer o dia em que esta vossa criada e a MJ saiam para comer e a bebida seja outra) e, como pratos principais, uma Pizza Douro para a MJ (com tomate, queijo, orégãos, bacon, cebola e milho – tendo este sido trocado por pimento) e um crepe La Paysanne para mim (com queijo, cogumelhos, espinafres e cenoura).
Note-se que tinha vindo de Milão no dia anterior e apetecia-me tudo menos verificar que não encontro em Portugal sabores italianos como os que saboreio no sítio deles – mas não havia o que temer: o Meidin, dentro da sua gama, não desilude, e ambos os pratos nos souberam pela vida. De todo o modo, se soubesse o que sei hoje, teria trocado a cenoura (cozida ma non troppo) por outra coisa qualquer (provavelmente cebola), que casasse melhor com os restantes ingredientes. As quantidades são bastantes sem serem disparatadas e há, inclusivamente, dois tamanhos de pizza, por forma a satisfazer estômagos com carências diversas: a da MJ foi a pequena (há a normal, maior) e conveio em absoluto à dose de fome que levávamos, sem implicar uma digestão infinita.
Dispensámos as sobremesas (se fosse mais cedo, dificilmente teria resistido a um crepe doce) e passámos aos descafeinados, após o que pedimos a conta, que constituiu um dos momentos altos da noite; caramba, já vai sendo difícil que tragamos aqui contas cujo valor não atinja os dois dígitos por estômago, pelo que pagar 9,25€ foi mesmo a cereja em cima do bolo.
O Meidin, boas gentes, continua a não desiludir e a cumprir o seu papel de sítio-muito-jeitosinho-e-barato, seja para um grupo de adolescentes esfaimados e de orçamento reduzido, seja para quem, como nós, gasta muito dinheiro em comida e adora poder gastar menos, sem comprometer os bons apetites.
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