Se o Porto e arredores têm uma catrefada de estaminés novos para descobrirmos, o que é fator capaz de nos causar um piqueno derrame junto aos neurónios que se encarregam das tomadas de decisão, de cada vez que é preciso alinhavar nova incursão, a verdade é que, em dias de sol bom, deixamos cair o que é novo e queremos é regressar aos do costume, sobretudo se tiverem o sol mesmo ali à babujinha.
E um dos que não tem erro é mesmo o Picaba (que descobri ter o cognome de “Natural Café” – não sei se desde sempre, mas a pessoa, que é um nadinha lenta, só descobriu agora), pese embora esta vossa criada nunca lá tenha feito uma refeição principal. Até àquela tarde de princípio de junho, lembro-me de ter bebido por lá finos, sangria e café; talvez tenha comido uma ou outra tosta, mas nada que me tenha marcado verdadeiramente.
De resto, o Picaba foi, até agora, o sítio-onde-a-malta-se-encontrava-antes-das-corridas-noturnas-e-se-reunia-no-fim-delas, ou seja: é local de boa memória, onde ríamos muito nas noites de Primavera/Verão em que juntávamos um grupo de uma dúzia de pessoas para ir fazer os cerca de 7kms que correspondem ao caminho do Picaba ao Titã, do Titã à Praia da Luz e desta novamente ao Picaba. Punha-se a conversa em dia, bebia-se um copo e ainda se tratava da saúde às pernas, que isto de vida de Carapau também ocorre para além da mesa.
Desta vez, eu e a RV optámos pelo almoço. Chegámos por volta do meio-dia e meia, para termos a certeza de que apanhávamos mesa (a sede de sol e calor era tanta, numa altura em que parecia que a Primavera tardava em fazer-se anunciar, que nunca fiando) e, mesmo assim, já ficámos numa perto da montra (e, portanto, a três filas da “primeira linha” de mesas). Tínhamos sol e sombra, víamos o mar, a areia e as pessoas que passavam: que mais querer?
Já agora, uma nota para o serviço que, no Picaba, é relativamente rápido, próprio de um estaminé que comummente está cheio – embora não o considere propriamente simpático ou acolhedor (provavelmente pelo mesmo motivo, embora não reconheça aqui uma necessária relação de causa-efeito), o que me causa alguma espécie, porque creio que as pessoas que dão a cara pelos sítios deviam ter sempre esta competência maravilhosa de nos cativarem também pelos afetos (provavelmente, estou a ficar cota e sentimentalona).
Foi muito rápido o ato de nos ser facultado o menu, que inclui a oferta habitual e uma pequena adenda com o menu do dia – mas depois não houve aquela sensibilidade para regressar só quando a nossa linguagem corporal indicasse que a escolha havia sido feita: estávamos pegadas na conversa, sim senhores, mas no espaço de menos de dez minutos fomos duas vezes abordadas para fazermos o pedido, o que me pareceu um nadinha desadequado (só porque estávamos de ementa na mão, claramente a debater o que escolher).
Acabámos por decidir-nos assim “sob pressão” e, de uma ementa carregadinha de wraps, bruschettas, saladas, hambúrgueres e outras sandes, para além das sugestões do dia, a RV optou pelos Lombelos com Abacaxi, Batata Assada e Salada (prescindindo da batata e optando por mais salada) e eu quis o Wrap de Salmão, Queijo Fresco, Molho de Ervas e Salada Crocante. Pedimos ainda, ambas, o sumo do dia, de laranja, banana e kiwi – uma pechincha, por apenas 2€, o que me agradou muitíssimo (porque é normal que estes bares de beira-praia se façam valer da localização e da muita procura que se verifica na Primavera e Verão, para cobrarem preços descabidos.
Não estava à espera que qualquer dos pratos fosse uma revelação gastronómica, mas ambos cumpriram e não defraudaram expectativas, o que é bom. Eu cá acho a combinação de salmão, queijo fresco e salada absolutamente vencedora (é, de resto, coisa que como amiúde, em jantares tardios, em casa), sobretudo com tempo quente; para além do mais, é leve mas nutritiva. Já a RV gostou do casamento do porco com o abacaxi (eu não adoro, devo confessar) e também se mostrou satisfeita. O sumo era naturalíssimo e de boa consistência: nem demasiado grosso (há alguns que parecem sopas de lavrador) nem tão fluido e rarefeito que apetece mandar para trás.
Confesso que o que melhor me soube foi mesmo a sobremesa: das quatro opções que nos apresentaram (menos do que as que constam da ementa), escolhemos crumble de maçã (eu) e tarte de mousse de chocolate (a RV), juntamente com os cafés, já que ambas gostamos de os conjugar com o doce. A tarte, segundo a RV, era mais de brigadeiro do que de mousse e tinha uma quantidade anormal de confeitos de chocolate por cima, mas a base de bolacha era boa e o resto também; eu cá adorei o crumble, que parecia o meu (modéstia à parte, o melhor que já comi): ainda morno, de cobertura crocante, carregado de canela e com o gelado de baunilha (que deveria ser de nata) a fazer o contraste de temperaturas. Muito bom.
No final, para além do privilégio de duas horas e meia ao sol (ainda pouco quente mas já janota) e de apetites satisfatórios, acabámos por pagar menos de 12€ cada uma, o que me parece incrível – só a vista vale, pelo menos, metade.
De salientar ainda que o Picaba é famoso também pelas suas taças de iogurte, açaí e granola, fantásticas para um pequeno-almoço (quem sabe, depois de uma horinha de exercício, no passeio da marginal ou no Parque da Cidade, logo acima) ou para um lanche, a meio da tarde ou da manhã, idealmente depois de umas horinhas de praia, mesmo ali em frente (ou perto, seja para o lado da Foz ou em Matosinhos).
É local a fixar, para quem gosta tanto de mar e de praia e de sol como esta vossa serva.