Se há um tipo de estabelecimento em que o Porto é rico é aquele que aglomera os conceitos de restaurante, cervejaria marisqueira e snack-bar. Há-os em quantidade (e qualidade), quase todos na zona (alargada) da Boavista e, normalmente, porque cada cabeça sua sentença, o preferido de uns não é o preferido de outros, embora seja consensual que a qualidade é atributo de praticamente todos. Como se sabe, Carapau é bicho de gosto eclético e dificilmente terá a atitude do “gosto-deste-e-não-vou-a-outro”, o que nos abre um imenso leque de possibilidades; de todo o modo, esta vossa criada tem a tradição familiar dos almoços tardios na (no?!) Cufra desde muito novinha (as refeições de torradas a transbordar de manteiga, a acompanhar camarão da costa, ainda as pernas não eram compridas o suficiente para subir aos assentos do balcão sozinha, são parte das memórias infantis), pelo que há uma sensação de conforto quase caseiro ali – apesar de se tratar de uma casa que alberga dezenas de pessoas e de o sossego não ser a mais marcante das suas propriedades, é a sensação sempre renovada do regresso a um lugar onde já se foi (e continua a ser) feliz.
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E, assim sendo, volta e meia, o ponto de encontro é lá. Desde logo, porque a Cufra, sendo um estaminé capaz de albergar mais de duas centenas de pessoas (entre a sala da esquerda, enorme, mais o balcão e a sala da direita, mais pequena), tem parque de estacionamento próprio, o que facilita muito a vida a quem pensa ir almoçar, por exemplo, num dia da semana, ali pela Boavista – de resto, e passando por lá todos os dias depois do almoço, verifico que é restaurante de afluência constante e em número considerável, mesmo porque a “concorrência” não possui esta mais-valia do carro estacionado no terreno logo abaixo. Pelo mesmo motivo, é ideal para jantares de grupo, desde que marcados com a antecedência devida e se houver paciência para esperar, mesmo com marcação. Se a desoras (almoço tardio, por exemplo, ou jantar noite dentro), a possibilidade de encontrar mesa é maior – e o Cufra serve até às 2h da madrugada, o que não é de somenos, quando se tem horários tão pouco certos como metade do Cardume (eu).
No sábado a que esta posta diz respeito, éramos duas e fomos almoçar depois das 14h. O parque, como o restaurante, estavam muito compostos, ainda que não a abarrotar (felizmente); ainda assim, é muito comum encontrar-se gente conhecida (mas que deconhecemos, nomeadamente figuras públicas da Invicta) ou desconhecidos que conhecemos – desta vez, cruzámo-nos com os honorabilíssimos RC, DB, JC e LC, o que demonstra que, combinados ou não, os bons apetites nunca falham. De todo o modo, não tivemos de esperar por mesa e o serviço (todo assegurado por funcionários do sexo masculinos, como é uso neste tipo de estaminé) foi célere e competente como de costume – ainda que não exactamente afável ou extremamente simpático, a não ser para os habitués, a quem se reserva a familiaridade de quem é visita recorrente da nossa casa.
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Passemos, enfim ao que aqui nos traz: o que se come e o que se bebe. Na Cufra, a oferta é vastíssima, entre mariscos, peixe fresco, as celebradas francesinhas, os pratos do dia, típicos da cozinha tradicional portuguesa ou os bifes – ainda assim, eu raramente vario, oscilando entre o conforto da francesinha ou a divinal textura do bife-rolha, um naco de carne de vaca do lombo, com vários centímetros de altura, mal passado e macio como manteiga. Desta feita, optei pelo bife rolha (porque boas francesinhas sempre vou comendo noutros lados), enquanto a MAA, mais arrojada nestas coisas da diversidade gastronómica, foi na alheira de caça guarnecida. E o que dizer dos pratos servidos neste estaminé? Bom, quanto a mim (e só a mim, pelo que se aceitam opiniões diversas, como sempre), não há “menos bom”, “fraquinho” ou sequer “assim-assim” na Cufra, ali tudo é um win-win: a alheira estava, segundo quem a deglutiu, “óptima”, praticamente só carne e pouco pão ou gordura, bem cozinhada e bem acompanhada; já o bife-rolha, creio ser clara se disser que se trata de um dos melhores bifes que alguma vez me foi dado a provar. Sempre servido “no ponto”, é próprio para apetites médios a vorazes e, tal como a alheira, surgiu servido com batatas fritas caseiras, arroz bem estufado (que eu dispensei) e legumes cozidos que fazem o contraponto saudável. Um festim para o paladar.
Já no que às sobremesas concerne, a escolha também é vasta e, ainda assim, e mais uma vez, quedo-me sempre pelo Gateau Au Chocolat, que rotulo como o melhor bolo de chocolate da cidade (o do Cafeína fica logo a seguir, ex-aequo com o Bolo de Chocolate da Sandra). Trata-de de uma base de bolo densa, coberta por mousse de chocolate amanteigada, própria para quem dispensa sabores leves – um deleite, a que se pode acrescentar o chantilly ou uma bola de gelado, a pedido. Já a MAA optou pelo Leite Creme, servido morno em recipiente de barro e queimado na altura.
Há boas maneiras de terminar uma refeição e estas são daquelas que, se não fosse por mais nada, nos fariam voltar. Café pedido e contas feitas, foram 20€ por cabeça – o que, ali, é um excelente preço, devido exclusivamente ao facto de não termos pedido mais do que uma dose de bebidas (ainda assim, verifique-se os preços exorbitantes de uma Cola de 25cl ou de um quarto de água: 1,95€ e 1,55€, respectivamente).
A Cervejaria/Restaurante/Marisqueira/Snack-Bar Cufra é, portanto, um estaminé com o selo de qualidade dos Carapaus de Comida (hehehehehe, as if…), a que retornaremos bastas vezes, tantas quantas a nossa vontade de valores seguros o ditar.
Tenham bons apetites, sim?