Assumo: o primeiro impacto com a Casa Serrão não foi, de todo, feliz: marcáramos lá um jantar de família, a um sábado à noite, para as 21h; infelizmente, porque estacionar na zona da “rua dos restaurantes” de Matosinhos (como eu lhe chamo) pode ser um perfeito pesadelo, eram já quase 21h15 quando chegámos ao restaurante e, depois de darmos o nome no sentido de nos indicarem mesa, esperámos mais uns 5 minutos, para que soubessem do que falávamos – após o que viemos a saber que haviam sentado cinco pessoas na mesa redonda para seis que reserváramos.
E não tenhamos ilusões, um estaminé como o Serrão, daqueles com esplanada a levar com a fumarada do grelhador de rua, não tem tempo para reclamações ou manifestações de indignação, apelando ao bom senso: ali alimenta-se muita gente por dia e as técnicas de marketing não são uma prioridade. Trata-se de duas salas bem grandes, mais um terraço no primeiro andar e a esplanada cá fora, capazes de albergar muitas dezenas de comensais. Os funcionários são daqueles que aprenderam praticando e o serviço despachado é a marca da casa. Ainda assim, há falhas de comunicação, esperas incompreensíveis e algumas lacunas no que toca à gestão – mas nem por isso o Serrão deixa de estar à pinha, ao contrário de outros estaminés na mesma rua.
A fome era muita, a paciência face à absoluta desorganização estava a chegar ao limite e valeu-nos a simpatia da proprietária, que se dispôs a sentar-nos aqui ou acolá – e nunca aceitámos, por serem mesas para 4 que ela queria transformar em para 6 (mais uma criança). Mas era missão quase impossível, em meados de agosto e àquela hora, arranjar outro restaurante que servisse com peixe grelhado, sem marcação. Por isso, esperámos, e deviam ser umas 22h30 quando nos sentámos, já com os pedidos preparadíssimos (tivemos mais do que tempo para estudar a ementa, como se imagina).
Felizmente, a partir do momento em que nos sentámos, tudo correu maravilhosamente. O funcionário que nos calhou em sorte era competente e educado, soube lidar com alguma desinformação chegada da cozinha (houve pelo menos quatro pratos que quisemos e que só soubemos uns dez minutos depois que não os havia: polvo na brasa, lombinhos de pescada, petinga e peixe espada) e, mais importante do que tudo, optou por alimentar-nos, mesmo sem pedirmos: veio uma ótima broa de milho com centeio, salada mista, salada de ovas, umas das melhores pataniscas que já comi e salada de polvo – e só se ouviram suspiros e elogios, sobretudo por parte dos familiares estrangeiros, que nunca haviam provado algumas das iguarias.
Como pratos principais, optámos por pedir cinco (éramos seis e uma mini de quase 2 anos), para dividir – mais uma vez a conselho do funcionário e mesmo sabendo que 3 de nós são reconhecidas enfardadeiras – e a verdade é que não só chegou como foi penoso não deixar nada por comer. Vieram os Jaquinzinhos com Arroz Malandro, o arroz de Marisco (1/2 dose), as Lulas, uma Dourada e um robalo grelhados, tudo acompanhado de batatas a murro (deliciosas). Estava tudo absolutamente delicioso, não houve sequer um de nós que ficasse desagradado com o que quer que fosse. Acompanhámos tudo com vinho da casa à pressão, em honra dos nossos convidados, que adoram a beberagem (e eu, devo confessar, também).
Mas não ficámos por aqui, porque as sobremesas esperavam por nós: veio um Leite-creme acabadinho de sair do tacho, bem queimado, um Folhado à Braga (com creme de ovos) fresquíssimo, uma Tarte de Amêndoa tão boa como a que a minha mãe fazia em tempos, e um Bolo Brigadeiro, que foi o que menos elogios obteve, por ser assim mais para o seco e banal.
No final, cafés e a conta, que se saldou em cerca de 22€ por estômago, o que me parece valor muito satisfatório, para a qualidade do que nos foi dado a provar. Não me vou esquecer da espera nem da desorganização, também não adorei o espaço, mas tenho de dar a mão à palmatória: na Casa Serrão, os bons apetites são uma certeza.
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