A pessoa acha que está sempre muito bem informada mas a verdade é que nem por isso: então não é que abre um Capa Negra na baixa do Porto e eu só dou por isso duas semanas depois?! Que os deuses da gula me atingissem com um raio se não me retratasse com a maior das brevidades: havia um espetáculo para ver no Rivoli e, por coincidência, o novo Capa na Baixa era mesmo ali ao lado, onde a Rua do Bonjardim encontra a Praça D. João I.
Confesso que a primeira impressão não foi das melhores, quando tentei fazer a reserva de mesa. Comecei por achar que não valeria a pena, porque tencionávamos jantar por volta das 19h30, mas depois lembrei-me de que, para além do concerto a que eu iria assistir, haveria mais um evento dos de relevo, na baixa (o enésimo concerto dos –Ujos), o que indiciaria uma enchente maior do que a normal, numa quinta-feira véspera de feriado. Vai daí, liguei, sendo que a conversa havida foi algo disparatada: primeiro disseram-me que, se ia às sete e meia, não valeria a pena marcar; depois, perguntei se não faziam marcações e responderam-me que sim, mas como já tinham muitas não queriam comprometer-se com a minha, embora a lotação não estivesse esgotada. Quê?!? Enfim…
A verdade é que, uma vez no espaço, que é lindíssimo (desde que se entra, passando pelo espaço dedicado à Super Bock e a acabar na esplanada coberta, que funciona como sala principal), tudo mudou de figura, e a minha vontade de testar a simpatia do serviço foi aniquilada à partida, porque todos os funcionários que me abordaram e com quem me cruzei foram inexcedíveis, tanto em competência como em afabilidade – e isto desarma qualquer mau feitio.
Reparámos que a maioria das mesas estava reservada (para grupos grandes, sobretudo) mas, ainda assim, foi-nos facultada a escolha de qualquer uma que estivesse livre. Evidentemente, quisemos a esplanada (absolutamente encantadora, não me canso de o reiterar), embora não tenhamos ficado no primeiro poiso que escolhemos, porque estava frio: mudámo-nos para uma outra mesa, junto à parede oposta, onde moram umas resistências que aquecem o ambiente, de tal modo que, mesmo já sem o casaco, senti-me a corar ainda antes de comer o que quer que fosse.
Cada mesa tem, normalmente, um cesto com pão diverso e uma bola com um aspeto divino, um pires com manteiga empacotada e o já normal azeite com vinagre balsâmico, para imergir o pão – era o que nos aguardava na primeira mesa onde nos sentámos. Felizmente, na segunda não havia couvert, o que só posso agradecer porque, de outro modo, teria dado cabo dele – e tudo o que viria a ingerir depois não o justificaria (embora a minha gula o quisesse).
Uma vez instaladas, o pedido foi muito simples: finos, claro, mais dois rissóis para entrada (ir ao Capa Negra e não provar os justamente célebres rissóis deveria constituir uma qualquer espécie de pecado), uma salada mista para disfarçar e duas francesinhas à Capa, mais uma dose de batatas à parte. E, nesta matéria, há pouco de original a dizer: a cervejinha é a melhor do mundo e bem tirada, os rissóis são um espanto, sempre acabadinhos de fritar e bem recheados, a francesinha é uma das mais competentes do Porto (o cúmulo de salsicha fresca e boa linguiça, fininha e picante, dá-lhe o travo quase ideal) e até a boa da salada mista é acima da média (porque não se limita ao tradicional alface-mais-tomate-e-pronto). Vai daí, comemos tudo como gente bem comportada e esfregámos o estômago (e o palato) de contentamento.
Para finalizar, e apesar de a outra metade ter arrumado os talheres, eu não resisti ao bolo de chocolate da casa, uma coisa baixinha e húmida, com sabor a cacau bom – embora, para o meu gosto, pudesse estar um nadinha menos cozido. Vieram os cafés e ala que se fazia tarde: havia que dar um girinho pelas redondezas, a ver se a digestão se iniciava antes de nos irmos sentar outra vez, mesmo ali ao lado.
Vinda a conta, temos que os bons apetites tiveram um custo de 18€ por estômago, o que é coisa mais ou menos normal para uma cervejaria tradicional portuense, onde a descontração se cruza com um requinte discreto e encantador.
Saliento ainda que às 20h15 já o estaminé estava à pinha e que às 20h45, quando saímos, havia uma fila à porta de cerca de 15 pessoas – pelo que se aconselha sempre a marcação, sobretudo se aos fins-de-semana.
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