Já lá vão uns bons meses desde que quis entrar, pela primeira vez, no Santa Francesinha, um estaminé dedicado à bela da “sandes” portuense e feito nascer por quatro primos que gostam tanto dela como a maioria de nós – mas têm aquela centelha que faz as coisas acontecerem: abriram o estaminé mesmo ali, na Praça dos Poveiros, onde têm uma vizinhança das mais ingratas para quem quer singrar no mercado das francesinhas. Na verdade, umas dezenas de passos abaixo, em Passos Manuel, moram os dois Santiagos, que nós mesmos apontámos como tendo a-melhor-francesinha-do-Porto (e só o fazemos a pedido e quase sob tortura, uma vez que somos de apetites voláteis e abrangentes e qualquer pódio deste género parece-nos extraordinariamente injusto, porque há inúmeros sítios onde se a come boníssima) e que constituem uma concorrência quase desleal, para quem quer fazer negócio na mesma área.
[adrotate banner=”11″]Mas lá estou eu a tergiversar. Dizia que não foi a minha primeira tentativa de ir conhecer a Santa Francesinha: havia lido sobre este novo restaurante há muito pouco tempo quando, em dia de concerto no Coliseu (só não me lembro de qual, mas talvez lá para Setembro ou Outubro), que é sempre sinónimo de francesinhas, me apeteceu fugir às filas do Santiago (e à mesmice, que nós cá somos sempre por experimentar o que é novo) e ir ali. Infelizmente, a companhia era mais conservadora e não quis arriscar, mesmo porque o Santa Francesinha estava absolutamente vazio, o que, no seu entender, só poderia significar uma coisa: era fraco e não se falava mais nisso.
Ora eu, que sou chata e tenho memória de elefante-fêmea (que há-de ser ainda mais pujante que a do macho), não descansei enquanto não arranjei uma oportunidade para lá voltar e, desta vez, passar mesmo da porta. Aproveitei uma fotografia da Time Out, enviei ao sócio AV e ficou a coisa decidida (que nestas coisas de experimentar o novo estamos sempre em sintonia). Curiosamente, nesse mesmo dia, tínhamos ilustres convidados lisbonenses (mas já batidos nas coisas boas que o Porto tem e nas nossas Carapauzadas: apenas um elemento era estreante), o que calhou ainda melhor, que isto de vir ao Porto e não enfardar uma ou duas francesinhas é como ir ao Vaticano e não ver o Papa.
Marcámos mesa para seis com uma semana de antecedência (nunca facilitamos) e, à hora combinada, lá estávamos – num estaminé ainda desoladoramente vazio, só para nós, o que poderia significar tudo ou nada. Fomos belissimamente recebidos por quem acreditamos ser um dos proprietários, que nos foi explicando a razão da pintura sobre tela na parede (que herdaram do antigo estabelecimento que ali morou) e nos aconselhou umas azeitoninhas para irmos picando com os finos, enquanto as nossas francesinhas eram feitas. Nota máxima para as azeitonas, desde já: sem temperos nem salamaleques, eram das boas e carnudas, nem verdes nem pretas (antes pelo contrário). Paralelamente, os finos e as canecas (eleitos por quatro dos seis convivas acompanhavam a boa impressão): bem tirados, vivaços, fresquinhos – estava o ambiente a compor-se, isso era certinho.
[adrotate banner=”11″]Da ementa, ninguém teve coragem de se atirar à Santa Francesinha que, homónima da casa, é coisa para apetite muito voraz. Só para que tenham noção, a coisa leva fiambre, fiambrino, mortadela, linguiça fresca, salsicha fresca, bife, bacon grelhado, pão, ovo frito, hambúrguer, cebola grelhada, queijo e molho – e fica-se cansado, só com a descrição. Fiz muita força para que um dos homens da mesa, (re)conhecidos pela coragem com que se atiram a estas coisas, atacasse uma destas XXL, mas ninguém estava a fim, pelo que nos ficámos pelas francesinhas normais (3) e francesinhas com bife (mais 3, duas das quais com ovo). Pedimos batata frita, obviamente, e fomos dando à língua e ao dente enquanto o banquete não chegava (entretanto, chegou um casal com um filhote que ocupou outra mesa e a coisa ficou mais composta).
E agora deixem-me ser curta e grossa: que a Santa Francesinha ainda não seja elogiada a cada esquina é de uma profunda injustiça. Que a situação geográfica não lhe seja favorável porque estamos formatados a ir sempre aos mesmos sítios faz com que todos percam: eles, que ainda não têm o fluxo de clientes que julgamos merecerem , e nós, que vamos em filas e aturamos atendimentos menos simpáticos porque não nos dispomos tão só a experimentar coisa diferente. E neste caso perde-se coisa muito boa, caríssimos: o molho é para lá de espectacular, equilibrado, picante, sem ser demasiado atomatado ou acervejado ou outra coisa qualquer: é bom, muito bom – e está sempre a ser reposto, pelo simpático serviço às mesas. E depois há as carnes: de excelsa qualidade, em quantidade mais do que generosa, com um bife tão tenro que me lembra o do Kardoso, e queijo, muito e bom queijo, absolutamente derretido e na quantidade certa. Na mesa, só se ouviram elogios – que aumentaram quando foi trazido um mini-shot de leite quando o funcionário/proprietário se apercebeu que uma das convivas, pouco habituada aos piri-piris, estava um nadinha à nora de início (o leite cortaria o picante, que nem sequer é excessivo, asseguro). Mais: as batatas, caseiras e a escaldar, servidas em vasos de alumínio e que temperamos nós mesmos, com sal grosso que moemos na hora, permanecem quentes durante toda a refeição – e isso é impagável.
No final, três de nós ainda se atiraram a duas das três sobremesas que a casa oferece (poucochinhas, confesso, para quem gosta tanto dos finalmente como do resto – e é o caso desta vossa criada): brigadeiro bom, a saber a leite condensado e no ponto de cozedura, e a natinha, que não é um pastel de nata mas um doce de nata e bolacha. Deixámos cair o manjar branco com molho de frutos vermelhos, que ficará para outras núpcias. Sim, porque voltaremos, com certeza. E espalharemos palavra tanto quanto nos for possível: comemos lindamente, bebemos em conformidade, sobremesámos e cafezámos por 13€ (já com gorjeta) e com uma qualidade que, se me permitem, me vai fazer evitar o Santiago por tanto tempo quanto me for possível. Só porque ali, umas dezenas de passos acima, há uma francesinha tão boa (ou melhor, arriscaria, porque as carnes são mais e mais diversificadas) e um atendimento muitíssimas vezes superior – que merece a atenção de todos aqueles que, mais do que deste ou daquele sítio em particular, gostam é de uma francesinha estupidamente bem-feita e de um molho de se lhe tirar muitos chapéus. Ou uma Santa Francesinha, vamos chamar-lhe assim, para descomplicar.
Como vêem, continuamos com os bons apetites, que não dispensamos – para nós e para todo o nosso (cada vez mais vasto) Cardume.
Hummm que maravilha, já fiquei a salivar e com um enorme desejo de passar a ponte 25 Abril e só parar mesmo sentadinha à espera de uma iguaria dessas!
E nós que estamos aqui tão perto estamos sempre tentados a ir lá repetir a dose :)
Estive no Porto em Dezembro (no fim de semana da Comic Con Portugal) e, com a intenção gorada de experimentar o Café Santiago, ainda ficámos a olhar para o Santa Francesinha mas o facto de estar vazio levou-nos a optar por comer uma francesinha no Snack-Bar Coveiros.
Se esta review tivesse sido publicada mais cedo não me teria escapado, e como boa boca que sou claramente me sentiria tentado pela de tamanho XXL! Fica para uma próxima visita ao Porto ;)
Luis Santos – Devaneios de um Foodie
Pois é Luis, nós também tivemos uma ligeira hesitação, principalmente porque tínhamos convidados e não queríamos que fosse uma incursão das más. Felizmente não cedemos às dúvidas e foi excelente! Não perca a oportunidade numa próxima vinda ao Porto :)
Podiam ter ido para a Santa Francesinha dividida por pois comensais :) Já o fiz mais que uma vez.
E sim, as Francesinhas não ficam nada a dever às do Santiago.
Quem quiser ver uma foto é seguir o link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10153122716649241&set=a.70777154240.64812.542659240&type=1
A ideia é atacar mesmo a gigante, mas ao almoço e sem divisões. :)
Sou cliente já estive lá 2 vezes! ;) Devem experimentar a Santa eles dividem em duas e a combinação com o Hambúrguer com a cebola fica divinal! Sem Medos!
A ideia é mesmo experimentar a Santa, sem dividir nada que nós somos muito egoístas. :=
Eu comi a normal e o marido a santa. Só posso dizer que a minha era divinal e pelos vistos a santa francesinha também! Acho que ficou empatada com a da cufra que até à data sempre foi a minha favorita. Agora vou tentar arriscar a santa!! De salientar para quem é apreciador de cerveja, que a mesma vem servida como se quer (assim dizem os entendidos). Em copos ou canecas acabadas de sair do frio e com a pressão perfeita. Já eu fico muito contente por haver mais um sítio com stout de pressão!
Claúdia
Fico mesmo contente por teres gostado!!
Agora arranjemos data e vamos mas é as duas ao almoço atacar a grande, vá. ;)
Também eu quando fui pela primeira vez fiquei hesitante pelo facto do restaurante estar praticamente vazio, mas as francesinhas são deliciosas, tanto é que comi uma Santa Francesinha sozinha. Apesar da fama, prefiro as francesinhas do Lado B ao Santiago. Para mim o top, é o Café São João em Canelas e depois a Santa Francesinha! Excelente post Ana!
Muito obrigada, Sílvia. :)
Eu por acaso prefiro as francesinhas do Santiago e não fiquei fã das do Lado B, mas as da Santa Francesinha são das minhas preferidas. (Não tenho tops, nunca tive – e os Carapaus também não, somos muito indecisos. :D )