
Iniciemos esta posta com um esclarecimento: é sabido que apenas muito extraordinariamente aceitamos convites de restaurantes para os conhecer ou sequer damos a saber quem somos, quando os visitamos anonimamente – cremos que essa prática nos tolheria a isenção de quem quer dar a conhecer experiências do ponto de vista do cliente comum. Dito isto, não é a primeira exceção que abrimos, e os eventos promovidos pela Zomato, que desde sempre nos acolheu como parceiros, têm sido algumas delas.
Foi nesse contexto que visitámos o Mistu, espaço muito recentemente aberto na Rua do Comércio do Porto, na Ribeira: trata-se do irmão mais novo do já bem afamado Flow, pese embora o conceito se afirme como absolutamente original e independente. Éramos treze convivas, que incluíam o proprietário, Ricardo Graça Moura, que foi o anfitrião perfeito, três membros da equipa da Zomato, e nove bloggers/foodies, entre os quais esta vossa criada.
Fomos recebidos na zona do bar, onde os competentes funcionários nos prepararam cocktails de boas-vindas: eu optei por um Pisco Sour, que estava delicioso e foi a escolha certa para encetar hostilidades e acompanhar a observação do espaço, que é absolutamente magnífico – não só a decoração é de imenso bom-gosto, como a luz, intimista, convida a jantares tranquilos (embora não seja grande coisa para tirar fotografias, como observarão pelas nossas – mas, de todo o modo, não é nem deveria ser esse o objetivo). O pé direito, altíssimo, permite que haja um piso superior, tipo sacada, onde cabem umas quantas mesas e se exibe uma garrafeira de respeito, e a partir do qual a vista sobre todo o espaço é ainda mais encantadora. Uma vez sentados, neste piso, foi-nos introduzida a ementa, em jeito de banquete (dos muitíssimo generosos, como verão).
Em primeiro lugar, um couvert original e absolutamente delicioso, constituído por Tostas no Forno com Azeite (que não consegui parar de comer durante toda a refeição), Legumes em Cama de Gelo (sem qualquer tempero, estaladiços e fresquíssimos) e três molhos: de mascarpone e noz, de cenoura e mizo e de iogurte e lima – e não consegui decidir qual deles o melhor.
Depois, vieram dois ceviches: o Puro de Peixe Branco (que pode ser corvina ou robalo), que achei um dos reis da festa, por ser leve e cítrico, e o Crudo de Salmão e Maracujá, que adorei pela originalidade e combinação de sabores. Logo de seguida, a Salada de Pato, Romã, Maçã, Pinhões e Molho Hoisin, que se revelou um dos pratos preferidos de muitos dos convivas: de facto, a junção de sabores inesperada e o pato, extremamente bem cozinhado, está muito bem conseguida. Veio então um dos meus pratos preferidos da noite: a “Causa” de Caranguejo de Casca Mole e abacate: sou uma fã confessa do primeiro ingrediente e o resultado é algo de fresco e saboroso, que me veria a degustar recorrentemente, sem enjoar.
Era então altura dos quentes (a ementa está, originalmente, dividida apenas entre Pratos Quentes e Frios) e, depois do Polvo no Forno com Batata Doce, Edamame eOvo a Baixa Temperatura (um prazer para o palato e coisa mais tradicional, capaz de agradar aos menos aventureiros nesta coisa das gastronomias), chegaram-nos dois pratos de carne, ambas cozinhadas no formo a carvão. Primeiramente, o Cupim de Boi, Cerveja Preta, Puré de Abóbora, Manteiga e cogumelos, coisa intensa em termos de sabor mas perfeita para partilhar, mesmo porque esta parte do bovino não é facilmente encontrada por aí, já que o cupim costuma ser muitíssimo rijo – e aqui está muito bem conseguido, em forma de croquete gigante, sobretudo pelos sabores que a acompanham. Depois, o NY Strip Steak Maturado, uma delícia para quem gosta de carne de vaca de qualidade, atrelada a sabores de qualidade superior: a polenta foi a melhor que pude provar até hoje e a mescla de legumes estava muito bem confecionada.
Nesta altura, até um estômago tão elástico como o meu começava a dar sinais de exaustão, mas havia que ser resiliente, porque estavam prometidas três sobremesas que jamais poderia ignorar: a Pana Cota de Manga, Lima e Sorvete de Maracujá foi uma surpresa, porque nunca gostei de qualquer outra pana cota e esta estava uma delícia (perfeita para quem gosta de sobremesas leves); o Fontant de Dulche de Leche, Sorvete de Framboesa e Sopa Fria de Frutos Vermelhos é um deleite não só para o palato (sou doida por fondants) como também para o sentido estético; já a Semi Esfera de Caramelo e Flor de Sal, solo de Chocolate e Avelã e Suspiros de Lima foi inevitavelmente a minha preferida (é a mais intensa de todas e maravilhosa). Veio, ainda, de “brinde”, e a pedido de uma das convivas, a Tapioca de Gengibre e Gelado de Amendoim, que se revelou melhor do que eu esperava (é o tipo de sobremesa que não pediria, de moto proprio), mas foi a de que menos gostei – o que é uma questão de juízo de gosto e não de qualidade, como é óbvio.
Tudo foi acompanhado por vinho branco e/ou tinto (eu mantive-me no primeiro) e selado com cafés e descafeinado, para quem quis – e seguiram-se muitas horas de digestão.
Foi um prazer e um privilégio conhecer o Mistu tão aprofundadamente e, ainda assim, voltarei para alguns itens da ementa que ainda não provei, mas sobre os quais tenho muita curiosidade. Recomendo vivamente a visita.