Há já algum tempo que este estaminé, sito ali na zona do Jardim de São Lázaro, estava nos meus planos mais imediatos: desde logo porque gosto de conceitos originais e um restaurante que se proponha a ter uma carta toda com base num dos melhores enchidos à face da terra (a alheira) merece visita; depois porque a zona mais a leste da cidade está a crescer e bem, quanto a mim. Vai daí, quando se tratou de marcar um almoço para um dos rendez-vous costumeiros com a RV, ex-Carapau ativa e para sempre Carapau-honorária, foi o Tabafeira (sinónimo de Alheira, como aprendi na inscrição dos marcadores de mesa, de papel) que escolhemos.
Não tinha uma previsão muito definida quanto ao espaço, mas creio que esperava algo mais tradicional, pelo que me surpreendeu pela positiva a sala comprida e de ar contemporâneo, com um mini-pátio ao fundo (como é típico destas antigas casas de habitação da Baixa), onde aproveitaram para montar uma pequena esplanada que me pareceu bem convidativa. Ainda assim, ficámos dentro: eu havia reservado mesa (como costumo fazer, sempre que possível) e foi-nos oferecida uma das mesas para duas pessoas, à direita de quem entra.
Uma vez sentadas, foi-nos trazida a ementa. Eu sabia que há um menu do dia, porque costumo fazer os trabalhos de casa (nada de muito aprofundado) antes de ir onde quer que seja, mas isso não nos foi comunicado no momento (e perceberão adiante eu teria sido importante, embora estou certa de que, pelo menos uma de nós, não iria por aí), ainda que, na porta, do ainda antes de entrar no estaminé, uma lousa comunicasse que o prato (imagino que de entre os três sugeridos, apenas um declaradamente com alheira), acompanhado de água ou chá e café, para finalizar, ficaria por 5€ (o que me parece muito bom preço).
Depois de algum tempo, e de muita hesitação da minha parte, porque me apetece invariavelmente mais do que uma coisa, vieram recolher o nosso pedido: seria a Beringela Recheada (prato vegetariano) para a RV e os Crepes de Alheira para mim. Ambos os pratos viriam acompanhado de arroz malandrinho de tomate, mas eu resolvi alterar (como nos foi dito que seria possível fazer) para Batata Gratinada com Mozzarela e Salsa, sendo que havia ainda a opção da salada, da batata gratinada simples, da batata palha e dos legumes salteados (e é possível acrescentar qualquer deles ao prato, por 2€).
A Coca Cola que eu pedira foi-me trazida quase imediatamente mas, coitada, ficou tão “mole” como nós, já que entre o pedido e a vinda dos pratos para a mesa passaram um pouco mais de 30 minutos, o que me parece incomportável para quem, como nós (e a maioria dos clientes, certamente), tem horários para cumprir – felizmente, nenhuma de nós pica o ponto, porque estaríamos metidas em trabalhos, se assim fosse. Quando perguntámos à funcionária pela nossa comida, foi-nos dito que havia uma mesa de seis que, entretanto, pedira primeiro do que nós, mas não me pareceu de todo que a demora se justificasse – mesmo porque se trata de uma espécie de “fast food” à nossa moda, que não requer grandes tempos de cozedura.
De todo o modo, há que fazer justiça ao que ali se serve: veio tarde mas estava tudo de facto muito bom. Provei a beringela da RV, recheada de alheira 100% vegetariana, cebola, tomate e queijo parmesão, e é uma daquelas coisas que apetece reproduzir em casa, de tão saboroso; só o arroz de tomate parece excedentário, não combina de todo com um prato que se basta, definitivamente, a si mesmo. Os meus crepes eram de massa filo e o recheio, para além de alheira de aves, tinha cenoura, alho francês e tomate – uma conjugação simples e feliz, capaz de agradar a muita gente. Infelizmente, não cheguei a provar a batata gratinada, porque houve um erro e trocaram-na por uma salada; mas esta, com alface, cenoura, maçã, croutons e queijo fresco, tinha tão bom aspeto que recusei a oferta de reposição do pedido.
Se já estávamos convencidas com a qualidade do que se serve no Tabafeira, mais ainda ficámos com a sobremesa. Ali, não há uma oferta de doces pré-definida, antes se fala em “sugestões do chefe” – o que dá para todo e poderia recair no sempiterno (e chato) “doce da casa”, que acaba por ser uma das infinitas e modestas variações de natas do céu. Mas não: entre outras coisas também apetecíveis, a nossa escolha recaiu sobre um doce-tipo-conventual, de cujo nome não conseguiria lembrar-me (blogger feia, má blogger!) nem para salvar a minha vida, mas cuja confeção consistia em misturar ovos, açúcar e pão. Ficámos imediatamente convencidas e aquilo que parecia uma coisa de quantidade diminuta, servida num maravilhoso tachinho vermelho e à qual pudemos acrescentar amêndoa laminada e canela a gosto, não só chegou perfeitamente para ambas (porque é bastante doce e denso) como foi o complemento perfeito de uma refeição muito agradável, que terminou com café e custou 12,25€ por estômago. Não fora o episódio da demora no serviço (algo que o Tabafeira tem mesmo de melhorar, sob pena de perder clientes) e teríamos apenas gloriosos apetites a relatar.
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