Começo por dizer-vos que quando forem ao Restaurante A Grelha, em Guetim (irão com certeza), levem roupa que não se importem de sujar e bem almofadada: dali, sai-se a rebolar, prometo…
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Iniciemos esta posta com um esclarecimento: é sabido que apenas muito extraordinariamente aceitamos convites de restaurantes para os conhecer ou sequer damos a saber quem somos, quando os visitamos anonimamente – cremos que essa prática nos tolheria a isenção de quem quer dar a conhecer experiências do ponto de vista do cliente comum. Dito isto, não é a primeira exceção que abrimos, e os eventos promovidos pela Zomato, que desde sempre nos acolheu como parceiros, têm sido algumas delas.
Foi nesse contexto que visitámos o Mistu, espaço muito recentemente aberto na Rua do Comércio do Porto, na Ribeira: trata-se do irmão mais novo do já bem afamado Flow, pese embora o conceito se afirme como absolutamente original e independente. Éramos treze convivas, que incluíam o proprietário, Ricardo Graça Moura, que foi o anfitrião perfeito, três membros da equipa da Zomato, e nove bloggers/foodies, entre os quais esta vossa criada.
Fomos recebidos na zona do bar, onde os competentes funcionários nos prepararam cocktails de boas-vindas: eu optei por um Pisco Sour, que estava delicioso e foi a escolha certa para encetar hostilidades e acompanhar a observação do espaço, que é absolutamente magnífico – não só a decoração é de imenso bom-gosto, como a luz, intimista, convida a jantares tranquilos (embora não seja grande coisa para tirar fotografias, como observarão pelas nossas – mas, de todo o modo, não é nem deveria ser esse o objetivo). O pé direito, altíssimo, permite que haja um piso superior, tipo sacada, onde cabem umas quantas mesas e se exibe uma garrafeira de respeito, e a partir do qual a vista sobre todo o espaço é ainda mais encantadora. Uma vez sentados, neste piso, foi-nos introduzida a ementa, em jeito de banquete (dos muitíssimo generosos, como verão).
Em primeiro lugar, um couvert original e absolutamente delicioso, constituído por Tostas no Forno com Azeite (que não consegui parar de comer durante toda a refeição), Legumes em Cama de Gelo (sem qualquer tempero, estaladiços e fresquíssimos) e três molhos: de mascarpone e noz, de cenoura e mizo e de iogurte e lima – e não consegui decidir qual deles o melhor.
Depois, vieram dois ceviches: o Puro de Peixe Branco (que pode ser corvina ou robalo), que achei um dos reis da festa, por ser leve e cítrico, e o Crudo de Salmão e Maracujá, que adorei pela originalidade e combinação de sabores. Logo de seguida, a Salada de Pato, Romã, Maçã, Pinhões e Molho Hoisin, que se revelou um dos pratos preferidos de muitos dos convivas: de facto, a junção de sabores inesperada e o pato, extremamente bem cozinhado, está muito bem conseguida. Veio então um dos meus pratos preferidos da noite: a “Causa” de Caranguejo de Casca Mole e abacate: sou uma fã confessa do primeiro ingrediente e o resultado é algo de fresco e saboroso, que me veria a degustar recorrentemente, sem enjoar.
Era então altura dos quentes (a ementa está, originalmente, dividida apenas entre Pratos Quentes e Frios) e, depois do Polvo no Forno com Batata Doce, Edamame eOvo a Baixa Temperatura (um prazer para o palato e coisa mais tradicional, capaz de agradar aos menos aventureiros nesta coisa das gastronomias), chegaram-nos dois pratos de carne, ambas cozinhadas no formo a carvão. Primeiramente, o Cupim de Boi, Cerveja Preta, Puré de Abóbora, Manteiga e cogumelos, coisa intensa em termos de sabor mas perfeita para partilhar, mesmo porque esta parte do bovino não é facilmente encontrada por aí, já que o cupim costuma ser muitíssimo rijo – e aqui está muito bem conseguido, em forma de croquete gigante, sobretudo pelos sabores que a acompanham. Depois, o NY Strip Steak Maturado, uma delícia para quem gosta de carne de vaca de qualidade, atrelada a sabores de qualidade superior: a polenta foi a melhor que pude provar até hoje e a mescla de legumes estava muito bem confecionada.
Nesta altura, até um estômago tão elástico como o meu começava a dar sinais de exaustão, mas havia que ser resiliente, porque estavam prometidas três sobremesas que jamais poderia ignorar: a Pana Cota de Manga, Lima e Sorvete de Maracujá foi uma surpresa, porque nunca gostei de qualquer outra pana cota e esta estava uma delícia (perfeita para quem gosta de sobremesas leves); o Fontant de Dulche de Leche, Sorvete de Framboesa e Sopa Fria de Frutos Vermelhos é um deleite não só para o palato (sou doida por fondants) como também para o sentido estético; já a Semi Esfera de Caramelo e Flor de Sal, solo de Chocolate e Avelã e Suspiros de Lima foi inevitavelmente a minha preferida (é a mais intensa de todas e maravilhosa). Veio, ainda, de “brinde”, e a pedido de uma das convivas, a Tapioca de Gengibre e Gelado de Amendoim, que se revelou melhor do que eu esperava (é o tipo de sobremesa que não pediria, de moto proprio), mas foi a de que menos gostei – o que é uma questão de juízo de gosto e não de qualidade, como é óbvio.
Tudo foi acompanhado por vinho branco e/ou tinto (eu mantive-me no primeiro) e selado com cafés e descafeinado, para quem quis – e seguiram-se muitas horas de digestão.
Foi um prazer e um privilégio conhecer o Mistu tão aprofundadamente e, ainda assim, voltarei para alguns itens da ementa que ainda não provei, mas sobre os quais tenho muita curiosidade. Recomendo vivamente a visita.
Há já muito tempo que me perguntava o que teria o Santo Burga de especial: todas as apreciações que lia, nomeadamente na Zomato, teciam-lhe rasgados elogios, o que despertava a gula, para além da curiosidade; depois, abriu um Santo Burga ali na zona da Constituição, onde passo amiúde, mas fui-lhe resistindo: a ideia era visitar o original, porque era o que me parecia justo. O problema é que eu raramente vou para Leça, a não ser quando se trata de fazer praia, pelo que a coisa não estava a dar-se, até que o encerramento inesperado do Bar Azul, num dia em que lá íamos aos caracóis, acabou por espoletar a visita – seria naquele dia e não se falava mais nisso.
Chegámos cerca das 13h20 e o estaminé, que tem uma dimensão acanhada (embora muito simpática por ter vidro em três frentes, uma das quais viradas para o mar de Leça), estava cheiíssimo, já com meia dúzia de pessoas à espera. Felizmente, não estávamos com muita pressa, pelo que nos dispusemos a esperar (mesmo tendo percebido que as pessoas que ocupavam o restaurante não estavam propriamente preocupados com as horas que levavam a comer) – para o que também contribuiu a simpatia de quem nos atendeu, que até nos indicou onde devíamos aguardar sem apanhar com a ventania que se fazia sentir naquele dia.
Passados, talvez, uns vinte minutos, já perto das 14h, lá nos sentámos, numa mesinha para duas pessoas, tão gira como o resto da decoração, que alinha numa tendência que não é propriamente original em chafaricas do mesmo calibre, mas que tem alguns toques únicos que são de louvar. A partir daqui, as coisas correram de forma bem lesta, apesar da casa ainda cheia.
Como se tratava de um almoço-com-tudo-aquilo-a-que-temos-direito, começámos por pedir entradas, optando por um Santo Azeiteiro (azeitonas pretas e gordas, em marinada de alho e ervas, servido com o belo pãozinho de água que nos acompanhou sempre) e um Santo Caramelo (pão de alho com cebola caramelizada e mozarela) – e se adorámos o primeiro, não fiquei fã do segundo, senti que algo falhava, e estou convencida de teria gostado mais se o queijo viesse derretido e o pão ligeiramente tostado. Entretanto, decidíramos hidratar a refeição com uma nova cerveja artesanal portuense, a Nortada (a fábrica fica mesmo no centro da cidade, e Sá da Bandeira), sendo que aceitámos a sugestão de quem nos atendeu e fomos para a Bonfim, uma Vienna lager, de que gostei bastante (nada como a Super Bock ou a Sagres, tenho de confessar, mas coisa simpática).
Depois, os pratos principais: o TR foi para o Santo Gema (160g de novilho, queijo cheddar, presunto serrano, ovo estrelado, tomate, alface e mostarda do burga) e eu optei pelo Santo Assunção (160g de novilho, cebola caramelizada, bacon grelhado, queijo da serra amanteigado, tomate e molho burga), sendo que pedimos um com batatas às rodelas e outro com batatas aos palitos, para desfrutarmos de ambas. E que dizer do monte de comida que nos puseram à frente? Uma maravilha, tudo. Claro que, se soubesse o que sei hoje, teria prescindido das entradas, porque tinha as sobremesas em mente e ficámos cheiíssimos.
Não posso deixar de referir o pão: não sou de todo apreciadora do tradicional pão-de-hambúrguer, demasiado refinado e nada saboroso, e aqui o pão (cozido no local) é tipo pão de água, o que valorizo imensamente. Depois, há a torre de ingredientes, de muitíssima qualidade, mas que é impossível comer com dignidade – não aconselhável, portanto, para primeiros encontros e/ou refeições de trabalho com quem não se conhece bem: tentei os talheres, continuei com as mãos e não há hipótese de parecer refinada a comer tamanha delícia. As batatas também são especialmente boas, em qualquer dos formatos, assim como a Nortada na versão Massarelos, que dividimos, só para empurrar o resto.
Evidentemente, não poderíamos sair sem experimentar as sobremesas, sobretudo depois de termos conhecimento de que tudo se faz ali mesmo. Assim, das três possibilidades existentes, optámos pela Tarte de Lima e pela Tarte de Mousse, que dividimos, mais uma vez: a primeira estava mesmo muito boa; da segunda não gostei tanto, porque não apreciei a base, que parecia uma espécie de pão desajustado, mas adorei a mousse, em si.
Contas feitas, a dolorosa não chegou aos 20€ por estômago, mas não esqueçamos as entradas, a opção por cerveja artesanal, e as sobremesas – normalmente, não seria tão glutona, numa hamburgueria, o que desceria imenso a conta. Vale, por isso, a pena, a deslocação a Leça, para juntar a magnífica vista de mar aos bons apetites; agora já me sinto com legitimidade para conhecer o estaminé da Constituição, que fica bem mais perto de mim.
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Há já semanas que queríamos ir ao Mito: mal lhe conheci a ementa, houve um par de pratos por que salivei, só a partir da descrição. Ora sucede que houve duas tentativas prévias, que resultaram em nada: o Mito, ao menos até à data da nossa visita, nunca abriu à hora de almoço – e nós andamos numa fase em que a Baixa tem sido palco mais de almoços do que de jantares. Tratámos, por isso, de abrir uma exceção à regra, marcámos mesa e lá fomos, a meio de uma semana ainda de trabalho, para quebrar rotinas.
À chegada, pouco depois das 20h, tivemos a sorte de ter o espaço sito na Rua José Falcão todo para nós, o que nos permitiu apreciar a decoração minimalista, mas com muitos apontamentos de bom gosto: o chão, as mesas e cadeiras vintage, a iluminação industrial-chic (se o termo não existia, passou a existir), o faqueiro a mimetizar o que era uso há umas décadas. Gostei sobretudo da fachada toda em vidro: são janelas que nos dão a sensação, quando abertas, que a rua também mora ali – ou que nós mesmas estávamos também na rua.
Tratámos de analisar a ementa mais como um pró-forma, uma vez que levávamos o trabalho de casa feito; também sabíamos que queríamos dividir pratos, para saborearmos o máximo que pudéssemos. Assim sendo, pedimos o Tártaro de Alcatra, os Croquetes de Boi Velho e a Salada de Mexilhões Fumados. Para beber, um fino, que veio a ser Estrella Damn – longe de ser uma das minhas cervejas favoritas, continuo a conseguir bebê-la bem.
Entretanto, nos poucos minutos em que esperávamos, fomos debicando os pãezinhos de centeio com a manteiga do dia, caseiríssima, de coentros e lima – e que coisa tão boa, só apetecia trazer meio quilo e não se falava mais nisso.
Meu querido Cardume, o que se seguiu foi a continuação de um festim de sabores: não houve rigorosamente nada que se revelasse menos bom: o Tártaro, servido com gema curada em soja, caldo de cogumelos fumados e lâminas de cogumelos, estava tão bom como eu o imaginara; os Croquetes eram, no dizer da RV, “comme il faut”: sem farinhas, com carne da boa e tenra; a Salada de Mexilhões, com cevada, cebola roxa marinada, coentros, rúcula e citrinos (laranja e toranja) acompanhou os croquetes tão bem que poderiam sempre ser servidos assim.
Dávamos já o caso por encerrado quando, da cozinha, o F. (que foi meu aluno, há já muitas luas) surgiu com um pratinho de Croquetes de Peixe que, segundo ele, não poderíamos deixar de provar – e estavam mesmo muito bons: distinguia-se o bacalhau e o camarão, como é raro acontecer (bem sei que deveria ser regra, mas é exceção) e estavam acabadinhos de sair da fritura, o que os tornou ainda melhores.
Já muito satisfeitas, mas ainda não derrotadas, não poderíamos deixar de experimentar as sobremesas que foram a cereja em cima do bolo e vieram confirmar que, no Mito, é difícil haver o que quer que seja de menos bom: a Pavlova é mais “suspirenta” do que antecipámos e, ainda assim, ótima, e a calda de frutos vermelhos macerados valeria por si só; o cheesecake NY Style, de que pensei que não gostaria, por ter rum na sua composição, era, afinal, uma delícia de lamber a beiçola: bolo de queijo como deve ser, de forno, não os semifrios que se servem para aí, muitos deles sem sequer o aroma de queijo.
Contas feitas, este magnífico repasto quedou-se pelos 17€, o que me parece não apenas justo como até surpreendentemente barato para os bons apetites que nos proporcionou. Quando saímos, a casa estava cheia, numa mescla de turistas e locais constituindo uma ajuntamento eclético e agradável.
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Dia 1 – quarta feira, 2 de agosto de 2017
No primeiro dia, cheguei já depois de almoço (mas sem ter almoçado) e, depois da minha boleia do Oriente para o Chiado (onde ficaria nos próximos quatro dias), achei por bem tratar de repor calorias até à hora do jantar – a única coisa que havia marcado para aquele dia. Antes mesmo de ir deixar as bagagens ao alojamento, entrei no Botequim Brasil, um “boteco” com a melhor limonada de sempre (feita na liquidificadora, e com limão inteiro, não apenas o sumo), que pedi sem açúcar – um copo grande custa 2€. Também tem produção própria de pasteis salgados à moda brasileira (que ouvi serem bons, aos vizinhos de outras mesas), pão de queijo e boas saladas. A decoração mantém as madeiras antigas e é charmosa, os donos são simpáticos e vale a pena a visita, também pela possibilidade de provar os sabores do Brasil, que nem sempre são fáceis de encontrar por cá.
Quando viajo para onde quer que seja, nunca planeio grande coisa de antemão, com uma exceção: os sítios onde quero ir comer. Antes desta estada em Lisboa, fiz o TPC da ordem e decidi de imediato que a Bottega Piadina seria um dos sítios a visitar, tanto mais que ficava pertíssimo da rua onde estava alojada. Confesso que este estaminé de comida de rua italiana (assim se apresenta) superou as minhas expectativas e proporcionou-me um almoço à hora do lanche absolutamente maravilhoso. Gostei muito do espaço, que é charmoso e tem várias mesas (e bancos) altas, para além de uma esplanada, de onde se observa a movimentação da rua, o serviço é competente, simpático e merece aplauso, e minha piadina (a Mare, por conselho competente de quem me atendeu, porque não queria nada de muito pesado) estava de comer e desejar muito mais: quente, a escorrer queijo e carregada de salmão. A limonada é servida sem açúcar, como deveria ser em todo o lado (quem pretender, pode sempre adicioná-lo), tudo é rápido e eficiente e não prometo ir embora sem cá voltar. Do melhor que já vi, em estabelecimentos desta linha.
Tendo a não adorar cafés e restaurantes nos sítios mais turísticos da cidade e o Café Gelo, em pleno Rossio, acaba por ser daqueles sítios para-turista-ver. Passo para comprar uma água e, sobretudo, os copos com fruta cortada ou os sumos de fruta frescos do dia, que são muito bons. Os bolos têm bom ar, mas nem sempre estão frescos e o pão, que nunca comprei, será do mesmo género. Vale pela esplanada (gosto de ver quem passa, quando estou com tempo), pelos sumos e pela fruta.
O jantar já estava marcado há meses, com duas amigas que me levaram ao Italy Café – Lisbona: come-se muitíssimo bem neste espaço sito no Saldanha, que é dos melhores e mais genuínos que me foram dados a conhecer fora de Itália. Começámos com uma Burrata, para entrada, servida com pão de massa de pizza e presuntos cortados em fatias fininhas (coisa deliciosa!), e depois nenhuma de nós conseguiu não pedir a Pasta Alla Forma, uma maravilha de um esparguete envolvido num parmesão gigante, com presunto e cogumelos, feito mesmo ali à nossa frente, o que atiça ainda mais o apetite. Para sobremesa, aconselho vivamente o Semifredo Altorroncino com Cioccolato Caldo, se bem que os Cannoli também são boníssimos. Os preços não são baixos, mas são perfeitamente justos para o que se come e para a mestria do serviço. Só achei o espaço demasiado barulhento, o que me incomoda.
Dia 2 – quinta feira, 3 de agosto de 2017
Começamos a ter concorrência para a Padaria Portuguesa, tanto na oferta como na qualidade, com a diferença de que a Padaria do Bairro do Chiado (há mais três, pela cidade), a meia dúzia de passos da concorrente, tem um ar mais bonito e um ambiente mais tranquilo (ainda que igualmente atarefado.
O pão de deus é um sonho (fresquinho, quase húmido, por causa do doce de ovos) e a padaria tem muitíssimo bom aspeto, para além de uma imensa variedade. Depois deste primeiro dia, em que comi só um pão de deus, bebi um café e comprei uma água, haveria de voltar no sábado, com a família, para um pequeno almoço mais completo: o pão de alfarroba e o de mistura são muito bons, e a merenda também se aconselham. Sumo de laranja como deve ser, serviço simpático e uma sala enorme, que acomoda muita gente.
O almoço deste dia foi num dos mais badalados e consensuais restaurantes de Lisboa: o Pistola y Corazón Taqueria apresenta uma excelente relação qualidade/preço para um restaurante mexicano cheio de pinta. Ao almoço, o menu com as entradas (quesadillas), três tacos à escolha, uma água aromatizada e café fica por 9€. Claro que nos juntámo-lhes uns cocktails (comia mexicana sem marguerita nem sequer sabe bem, na minha humilde opinião) e o bolo de três leites (divino e bem doce, não será para todos os palatos), e a conta foi mais puxada, mas não tem de ser. Palminhas para o serviço cordial e rápido e para a decoração de bom gosto. Único senão: quando cheio (o seu estado normal), é mesmo muito barulhento, o que me deixa com os nervos em franja.
No início da tarde, já na subida para o Príncipe Real, entrámos no The Decadent, um bar de hotel simpático, num patiozinho tão tipicamente lisboeta, numa zona de que gosto particularmente, onde fomos apenas para nos refrescarmos com uma água, numa tarde das bem quentes. Também serve refeições rápidas (devíamos ser as únicas nacionais e as únicas que não estavam a almoçar tardiamente) e apeteceu-me voltar para o brunch.
Acho que nunca entrei num estaminé que cheirasse tão bem como a chocolataria Bettina e Niccòlo Corallo: as tabletes de chocolate e outras iguarias são ali fabricadas e o aroma não engana – estamos no paraíso. Pude provar, graças à simpatia de quem mos ofereceu, o de leite com avelãs, o de sésamo e o de pimenta com flor de sal, e embora tenha um fraquinho por este último, devido às minhas preferências pessoais, todos são do melhor que já me foi dado a provar. O espaço também é bonito e intimista, com a luz de Lisboa e entrar pelas montras grandes. Uma delícia, nem que seja só para tomar café.
Dia 3 – sexta feira, 4 de agosto de 2017
Numa das ruas mais turísticas de Portugal, a Rua Augusta, o Paul, pastelaria de inspiração francesa (e com preços a fazer lembrar os que se praticam em Paris) tem pão e bolos com muitíssimo bom aspeto, melhor inclusivamente do que os sabores. Percebo, mas irrita-me que os valores cobrados sejam mais altos para quem escolhe ficar (a alternativa é comer de pé, na rua, ou enquanto se caminha, o que não adoro). Creio que um espaço destes beneficiaria de uma localização mais sossegada. Ainda assim, e apesar da profusão de gente a entrar e a sair, apreciei a minha tarte de morangos e o café duplo.
Parece que o Boa-Bao é relativamente recente em Lisboa e só tenho a agradecer a quem me levou lá: que estaminé absolutamente delicioso! Fica no Chiado mas ligeiramente afastado da confusão, tem uma decoração fantástica, um ambiente muito agradável, o serviço é lesto e conhecedor (gosto quando peço conselho e mo sabem dar), e a comida… adoro boa comida asiática e devo dizer que tudo o que aqui provei é fantasticamente cozinhado, saboroso, surpreendente e original, e, pesem embora todos os outros do género já visitados, em Portugal e no estrangeiro, não tenho dúvidas em ele ver o Boa-Bao como sendo do melhor onde já entrei. Recomendo vivamente, tanto aos locais como aos visitantes.
Tinha muita curiosidade em conhecer aqueles que muitos dizem ser os melhores hambúrgueres de sempre – e já percebi a fama do Ground Burger: fomos passear aos jardins da Gulbenkian e aproveitámos a hora para ir jantar sem chatices (depois das 20h é difícil, e eles não fazem marcação, pelo que seriam umas 19h40 quando assentámos arraiais). Os ingredientes são fantásticos, a carne (de Angus, como é anunciado à porta) é mesmo muito boa, mas não gostei do pão (demasiado “abriochado” para o meu gosto, embora fresco e ali fabricado). A quantidade é normal, mas não mata a fome a apetites mais vorazes. As batatas fritas são ótimas, bem como a salada. Preços puxadotes, que são justificados certamente pela qualidade, mas não pela quantidade. Têm cuidado e atenção para com crianças pequenas, o que é sempre de louvar.
Já o disse várias relativamente a todas as Padarias Portuguesas que visitei e o mesmo digo em relação ao estaminé de Alvalade: não faço parte da equipa que as acha uma coisa sem alma e, pese embora continue a achar estranho ter uma em cada esquina, aprecio que, quando tudo falha, haja uma em cada esquina. Aqui, perante uma fila insuportável numa geladaria vizinha (a Conchanata, a que acabámos por não ir), valeu-nos o brigadeiro (algo seco, às nove da noite) e a maravilhosa tarde de lima com base de Oreo, para acompanhar os cafés e matar o desejo de doce.
Dia 4 – sábado, 5 de agosto de 2017
Gostei infinitamente mais deste Príncipe Real, restaurante/café à beira-mar plantado, na Lagoa de Albufeira (Sesimbra) do que estava à espera: muito bem que a fome ajudou, mas a conveniência de sair da praia e ir comer um choco frito (que estava mesmo muito bom) com excelente batata frita e mais uns petiscos (omeleta bem servida, bitoque tenro), terminando a experiência com uma bola de Berlim com recheio de chocolate, é impagável. O creme de legumes é surpreendentemente bom. O serviço é um bocado demorado a todos os níveis (o pagamento foi dos mais lentos de sempre), mas é simpático e voltarei por certo, sempre que regressar à Lagoa de Albufeira (mesmo porque não há muita concorrência, mas de todo o modo, gostei).
Comemos muitíssimo bem no Alcochetano, o único dos vários estaminés de Alcochete que pôde receber quatro almas esfaimadas, mas nada previdentes (não marcámos mesa, esquecendo-boa de que a espontaneidade está démodé), depois de um dia de praia. Atacámos os percebes mais frescos que comi nos últimos tempos (embora trouxessem muita rocha agarrada, que também se paga), o entrecosto grelhado estava ótimo, bem como o peixe-espada e os linguadinhos (queria lulas, mas já não havia, assim como as conquilhas). Surpresa também constituíram as sobremesas: quer o bolo de bolacha de chocolate quer o cheesecake de frutos vermelhos eram caseiros e muito recomendáveis. O serviço é típico de um restaurante do género: sem salamaleques, mas despachado, e até havia música ao vivo (que eu, pessoalmente, dispenso quase sempre).
Dia 5 – domingo, 6 de agosto de 2017
Quem conhece a Pastelaria Alcoa original, em Alcobaça, só se sente defraudado pelo tamanho deste estaminé no Chiado e, no entanto, absolutamente agradecido por ter os bolinhos e pasteis que me faziam parar, de cada vez que por ali passava, de Coimbra para as Caldas da Rainha. Chateia-me que não haja mesas e cadeiras (a modernice do comer-em-pé ou on-the-go nunca me convencerá) mas os doces conventuais (e outros) merecem sempre a pena, ainda assim.
O brunch do Museu do Oriente é muitíssimo simpático, num espaço com vista privilegiada para o rio Tejo (contentores incluídos): as opções gastronómicas são inúmeras e (algumas) originais, a reposição é constante e o serviço incansável, apesar da lotação esgotada constante. Há escolha para vegetarianos, para a malta do fit e para quem gosta de enfardar como deve ser. Adorei os ovos mexidos, as chamuças verdes, os queijos e os mexilhões, e gostei de tudo o mais. As bebidas variam entre a água, a limonada, a sangria e o vinho (refrigerantes são pagos à parte). Para quem tem crianças, há um espaço que os entretém. Só não tem cotação máxima porque, em vez de abrir ao meio dia, como deveria ser, abriu 35 minutos depois, e não houve sequer direito a uma explicação.
Na Artisani de Alcântara, sita nas Docas, os gelados são bons (e têm opções para diabéticos e celíacos, o que nunca é de somenos) mas, nesta localização em particular, junto ao Tejo, tudo me sabe particularmente bem, nem que seja só um café e uma água. Em dias de calor, a sombra das palmeiras dá um imenso jeito – e deixam-nos sentar nos confortáveis sofás de verga da República da Cerveja, em vez de nas cadeiras de plástico da geladaria.
Já mesmo na iminência do regresso, o Ardina Caffé, em plena Gare do Oriente, foi o último estaminé que me matou a sede – e longe vai o tempo em que os “cafés de estação” eram sítios tétricos e tristonhos: hoje em dia é possível esperar por um comboio com conforto estético e, até, do palato. Aqui, para além das bebidas comuns, há bolos com bom ar, tostas, sandes e saladas que matam a fome a quem vai ou vem de viajar. O serviço não é muito simpático, mas é despachado e o nome deve-se ao facto de no mesmo espaço morar um quiosque de venda de jornais e revistas.
Nem sei quantas vezes já tinha intentado ir conhecer o Copos & Cusquices, sem sucesso: ou porque não havia mesa, ou porque éramos muitos, sei lá. À quarta ou quinta tentativa, éramos só três e a coisa deu-se: consegui marcar com apenas dois dias de antecedência, mas com algumas restrições – esta nova modalidade das refeições por turnos, que se está a espalhar pelos restaurantes da cidade, terá a sua razão de ser (imagino que houvesse gente que se sentasse à primeira hora e não saísse até ao fecho, mais a conversar do que a consumir), mas é muito desagradável: detesto pensar que tenho de sair até às X horas porque é tempo de entrar o segundo turno. Não é a primeira vez que mudo de ideias, quando me apresentam semelhantes regras mas, neste caso, porque até tínhamos tempo e eu não queria jantar tarde, marcámos a coisa para as 19h30, sendo que teríamos de sair até às 22h.
Quando chegámos, tínhamos a casa só para nós – e que casa: a porta, que não fotografei desta feita, porque estava aberta, está coberta de botões, e mal entramos percebemos que estamos num local onde a decoração não foi feita à balda – o vintage kitsch é algo que se vê muito por aí, mas no C&C foi reinterpretado com carradas de pinta e pormenores muito interessantes. Perceba-se: as “pernas” da mesa onde jantámos são a base de uma máquina de costura como as que tinham as minhas avós (e daí o símbolo deste estaminé, suponho) – não há como não amar cada detalhe.
O Copos & Cusquices é mais um restaurante de tapas/petiscos (confesso que prefiro a nomenclatura nacional), como tantos que abriram, nos últimos anos, na cidade – mas não é, definitivamente, só mais um – adiando desde já que está no meu Top3 de estaminés do género, na cidade e arredores. Confesso que ia filada nuns menus muito interessantes que este estaminé oferece – mas infelizmente, soubemos então, só durante a semana. Falo dos “Sortidos da Casa”, pensados para duas pessoas, que oferecem duas hipóteses de combinação de seis petiscos, mais batatas, por 18€ – e se pensarmos que cada prato custa no mínimo 5€ (2,50€, as batatas), rapidamente percebemos que se trata de um ótimo negócio.
Como era sábado, tivemos de escolher os petiscos, um a um – e a escolha é tanta e tão apetecível, que acabámos por pedir ajuda à simpática funcionária que nos atendeu. Ela sugeriu a Tralheira (cama de grelos, alheira e ovo de codorniz estrelado) e o Timbale de 3 Queijos (servido em pãezinhos individuais), eu escolhi o chouriço assado (nunca falha) e a MJ os Cogumelos Recheados com Queijo Alentejano e Cebolada de Presunto. Também ficou acordado que cada petisco viria com 3 unidades (ou múltiplos de 3, se fosse necessário), o que é coisa simples, mas em que poucos estaminés têm o cuidado de pensar – o meu aplauso, também por isso. Para acompanhar, a bela da cerveja, pois claro.
Enquanto esperávamos, fomos trincando o pão (branco, mas bom), molhado no azeite com orégãos, e as azeitonas (muito boas). Entretanto vieram os finos e a stout e, logo depois, o belo do chouriço, cuja assadura é assegurada pelos clientes. E tratámos de o deglutir, que a coisa era mesmo muito boa, num belíssimo equilíbrio entre a carne, o tempero e a gordura necessária ao processo; também o pré-cortaram previamente, pelo que trinchá-lo se revelou extremamente fácil.
Logo depois, veio o Timbale de 3 Queijos que, estando mesmo muito bom, deve ser comido enquanto quente, sob pena de perder metade da graça – mas não há como mergulhar o miolo tostado do pão num recheio de queijo, caramba (para além de que lembro-me sempre de Astérix Entre os Helvécios, quando se trata de queijo derretido).
De seguida, a Tralheira, especialmente boa porque ninguém (eufemismo para nenhuma-de-nós) resiste a ovinhos de codorniz fritos, benzósdeus. Finalmente, os Cogumelos Recheados com Queijo Alentejano dos que sabem mesmo a queijo (do Alentejo, coisa mais boa) e uma cebolada de presunto que tornava a coisa ainda mais deliciosa.
Este foi o momento em que era preciso de decidir se continuaríamos ou não a enfardar – e eu, já se sabe, jogo sempre na mesma equipa: a dos que não têm limites. Mas as minhas amigas acharam que já chegava, pelo que tratei de direcionar as antenas para outra coisa: as sobremesas. A oferta não é enorme e é toda em formato de “shot”, sendo que para mim veio o de Mousse de Nutella com base de Oreo e para a VP o de Requeijão com Doce de Abóbora, Amêndoas e Canela – vêm num formato pequeno, mas suficiente para quem quer apenas matar o desejo de doces, sendo que ambos mereceram aplausos.
E era tempo de zarpar, também porque as 22h00 se aproximavam rapidamente: pagámos pouco mais de 11€ cada uma e adorámos os bons apetites que ali nos proporcionaram – pelo que voltarei, por certo, e não tarda muito.
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Este estaminé ficara-me marcado na retina mal vi uma publicação patrocinada a seu respeito, no meu feed de Facebook: adoro mexilhões à belga (servidos com batata frita), tal como já disse noutra publicação onde me deliciei com eles, sendo que, no presente caso, a ementa parecia ser mais abrangente, na medida em que oferecia os moluscos mas também hambúrgueres – o que chega a uma clientela mais vasta.
A porta, sita nas arcadas da Rua de Miragaia, convida a entrar: as mesas da pequena esplanada, os dizeres e as flores são de quem gosta de bem receber. Uma vez lá dentro, a primeira coisa que salta à vista é o granito e os pilares unidos por arcadas, tão tipicamente portuenses – aconchega perceber que houve preocupação em manter o espaço, acrescentando-lhe pormenores únicos, como as garrafas de vinho que pendem do teto, junto à parede, presas por uma corda, ou o placard onde consta a password para a internet (“biboportocarago”), a melhor de todas as chafaricas que este Cardume já visitou.
A ementa é tão variada como o nome sugere – e não vou mentir que me causou alguma espécie que este estaminé se propusesse a servir coisas tão diferentes como mexilhões e hambúrgueres, para além de entradas tão diversas que só sob a égide da cozinha internacional fazem sentido; a razão do meu temor prende-se com o facto de eu achar que a dispersão pode ser inimiga da qualidade, enquanto que a especialização tende a ser meio caminho andado para o sucesso – mas não há como experimentar para julgar. Vai daí, decidimos ir com a maré e pedimos: Guacamole Com Nachos para entrada, o Backson’s Ultra Burger (hambúrguer da casa com cheddar, bacon, ovo estrelado, cebola frita, alface, tomate e molho caseiro, servido com batatas fritas) para a MAA e os Mexilhões Meunière (600g de mexilhões com vinho branco, nata e alho francês, acompanhados com batatas fritas e molho branco) para mim.
Enquanto esperávamos, pedimos as bebidas: queríamos cerveja de pressão mas a funcionária que nos estava a atender era nova (de resto, era o seu primeiro dia de trabalho) e não fazia ideia de havia ou não – o que me pareceu estranho, porque é informação básica. Veio aquele que julgo ser o dono explicar que havia, sim, cerveja de pressão, mas artesanal, pelo que acabámos por escolher uma pilsener (em formato de fino) e uma ruivinha (em formato de pint), sendo que a primeira agradou, mas a segunda nem por isso: achei-a demasiado agreste e amarga e bebi pouco mais de metade (mais valia ter pedido um fino).
O guacamole, não sendo dos melhores que já comi (prefiro-o com pedacinhos de cebola e tomate), estava muito bom, embora creia que a quantidade de nachos que o acompanham não é proporcional e peca por defeito. Os pratos principais chegaram logo depois e estavam ambos belíssimos: o hambúrguer veio muito bem-apresentado e a carne é saborosa e suculenta, e os mexilhões eram gordos e tenros. O único defeito a apontar não é menor: as batatas fritas são das pré-fritas e este é um requisito que, quanto a mim, pode influenciar toda a minha apreciação de qualquer estaminé – pelo que deve ser revisto pelos responsáveis.
Para encerrar hostilidades, para além de fruta (que jamais escolho como sobremesa), havia um bolo brigadeiro designado de Sublime de Chocolate a que não consegui resistir e que estava especialmente bom: tendo a achar que a maioria dos bolos de brigadeiro são apenas uma reles imitação, mas este sabia de facto a cacau, era húmido e muito fresco, pelo que mereceu o meu aplauso.
Os bons apetites são um facto, nesta casa em Miragaia plantada – e ficou a vontade de regressar para experimentar os hambúrgueres gigantes e os mexilhões de cerveja.
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Abriremos esta posta com uma declaração de intenções sincera: de entre meia dúzia de restaurantes, eu e a SVS acabámos por escolher este pela nomenclatura, não apenas do próprio estaminé, como também de todos os pratos que ali se servem. Não que se trate propriamente de uma novidade: já aqui trouxemos outras chafaricas (estou a lembrar-me do DeGema, assim de repente) que usam expressões tipicamente portuenses (ou nortenhas) para designar os seus pratos – mas a gíria da Invicta é tão rica que há sempre espaço para mais umas bojardas (cá está).
Deixámos os carros lá mais por Santa Catarina e decidimos que estava um belo dia para utilizar os calcantes (eu não digo?) e ir pondo a conversa em dia, por ali a baixo: Passos Manuel, Sá da Bandeira, Rua das flores, Largo de São Domingos e, num tirinho, estávamos na Rua de Belomonte, onde, a números 70, encontramos a Puorto Sandwich Shop: para lá de uma entrada discreta, assinalada somente pelo menu e uma fotografia, encontramos um espaço sobre o comprido, que as paredes de granito mantêm fresco (o que agradecemos, naquela tarde de canícula), de decoração simples mas com apontamentos simpáticos (adorei a bicicleta, a estante com livros e os catos), e inesperadamente vazio – só uma mesa, para além da nossa, esteve ocupada, o que me parece um desconsolo, pelos motivos que apresentamos de seguida. As mesas e os bancos são de pinho (e gritam simples-mas-com-pinta) e, ao fundo, duas portas-sem-porta separam a cozinha do resto do espaço.
Continuemos o nosso périplo abordando o serviço, assegurado, quer na cozinha quer nas mesas, por malta muito nova diria que na casa dos vintes (o que é sempre de aplaudir): é muito atento, sem ser sufocante, para além de eficaz e simpático, características que muito prezo. Trouxeram-nos a carta, que é composta apenas por sete pratos, para além dos acompanhamentos: há o Jabardo (uma francesinha em pão focaccia), o Andor Bioleta, o Dragão, a Sostra e o Morcom (hambúrgueres de vaca com conjugações diversas de sabores), o Pom Cum Pito (sandes de bife de frango) e o Num Puxa Carroça (a opção vegetariana, onde predomina o cogumelo Portobello).
A escolha não foi fácil, talvez porque quando os pratos são poucos fiquemos com a sensação de que tudo vale a pena, mas acabámos por ser pouco originais: a SVS porque vive fora do país e eu porque não ingeria uma há umas semanas (não muitas, talvez três, mas as suficientes para ter saudades) optámos pela francesinha, also known as Jabardo – mesmo porque quando mais teremos oportunidade de designar assim algo que queiramos mesmo ingerir? Quando comunicámos a nossa opção, foi-nos dito que costumavam servir o bife da francesinha mal-passado e se gostaríamos que o nosso viesse assim, ao que ambas batemos palminhas; para acompanhar, queríamos Cola Zero e um fino, mas tiveram de vir duas Pepsis Max, porque não havia Cola e cerveja só da de garrafa (que no verão só me apetece se for mini, bebida pelo gargalo).
Não demoraram muito os Jabardos, que personalizámos a nosso bel-prazer: eu quis batata frita e prescindi do ovo estrelado, a SVS optou pelo inverso – e tudo se apresentava harmoniosamente, junto de uma francesinha mais alta do que o costume: o ovo vinha em cima do Jabardo da SVS (os trocadilhos são invitáveis, deslarguem-me) e não mesclado com ela, como costuma acontecer; as batatas, caseiras, foram servidas com casca, em recipiente à parte. Já o molho, que rotulei como “demasiado líquido” mal lhe pus a vista em cima, estava saboroso e a puxar o picante, como a esta vossa criada apraz.
Quanto à francesinha per se, estava muitíssimo bem construída, sendo o bife, de facto, a sua mais-valia, por se encontrar quase cru (o que, obviamente, pode ser alterado de acordo com o gosto de cada um), o que torna tudo mais simpático. De todo o modo, o pão algo estaladiço (ao que sabemos, o próprio estaminé fabrica o seu pão, diariamente), o bastante queijo, a salsicha e a linguiça frescas e o fiambre formavam uma união de sabores muito bem conseguida.
Não quisemos sobremesa (nem sabemos se a haveria) e passámos logo ao café, ao mesmo tempo que pedimos a conta: menos de 12€ por pessoa parece-nos muitíssimo bem por tão bons apetites, numa zona tão simpática, e num estaminé que merece mais visitas.
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Tivemos muita sorte com o dia em que escolhemos ir ao Abacate: a Primavera (quase Verão) deu um ar da sua graça ainda no Inverno, e pudemos almoçar na esplanada do Food Corner, edifício onde, mesmo à entrada, se situa este estaminé, recentemente inaugurado, cuja oferta é (quase) toda, adivinharam, à base de um dos produtos-da-moda dos últimos tempos, o abacate.
O Food Corner fica em plena baixa do Porto, no gaveto da Rua do Ateneu Comercial do Porto, entre Sá da Bandeira e Santa Catarina (e perpendicular a Passos Manuel) – ou seja, é ideal para quem trabalha na Baixa (e é o caso da RV e da JSS) ou mesmo para uma refeição rápida antes de um espetáculo, já que fica pertíssimo do Rivoli, do Sá da Bandeira, do Coliseu e do São João. Evidentemente que, com sol, os lugares sentados aumentam muitíssimo, e a esplanada é mesmo um dos principais atrativos do local, apesar dos autocarros que vão saindo da garagem vizinha. E é uma maravilha para ir com grupos de amigos com gostos heterogéneos: ali se come sushi, hambúrgueres gourmet, massas, pizzas e coisas que tais, capazes de agradar a toda a gente.
Mas centremo-nos no Abacate, que foi esse o motivo da nossa visita: à chegada, um balcão em L e dois funcionários estão à nossa espera. A ementa está exposta na parede, bem como a hipótese de, por mais 2€, constituirmos um menu a partir de qualquer prato (bruschettas, club sandwichs e saladas), o que dá direito a uma bebida (sumos, cerveja, etc.), a sopa do dia, batata doce frita ou húmus de abacate e café. Também há smoothies e bowls de frutas (sendo que a RV acabou por pedir um para levar, para o lanche, o que é uma opção simpática.)
Analisada a oferta, eu e a RV (a JSS haveria de chegar mais tarde) optámos mesmo pelo menu e escolhemos duas bruschettas: a Quintal (beringela e courgette salteadas com queijo feta e salsa) para ela e a Fortuna (salmão fumado, requeijão, cebola roxa, pimenta, salsa e molho balsâmico de mostarda) para mim. Para beber, ela foi na laranjada e eu na limonada, sendo que a terceira hipótese era sumo de banana e morango – e nenhum tem açúcar. A RV escolheu o húmus de abacate, eu quis a batata doce, e ambas quisemos a sopa.
Depois de feitas as contas (eu paguei os 8,50€ correspondentes ao preço da bruschetta, acrescido do valor do menu), levámos para fora uma tábua com a sopa e as bebidas e sentámo-nos ao sol, iniciando o repasto enquanto procedíamos à fotossíntese. Entretanto, chegou a JSS, que achou que um menu seria “muita comida” e optou por uma salada e uma limonada, sendo que esta, por não fazer parte do menu, vinha mais generosamente servida. A bowl de salada escolhida foi a Padang, que inclui salmão fumado, tomate, rúcula, alface, mozarela fresca, molho balsâmico de mostarda e croutons de alho.
Acabámos por ser servidas mais ou menos ao mesmo tempo (ou seja, os nossos menus demoraram muitíssimo mais do que a salada da JSS) e a primeira impressão foi unânime: não, um menu não é “muita comida”; não faço ideia se as bruschettas, servidas fora dele, são maiores, mas tal qual as comemos são muito pequenas e, comparadas com a salada (que custa mais 1€) são mesmo uma dose muito pequena. Confesso que não me preocupei muito, porque tinha um treino dali a duas horas e até me convinha não comer muito mas, numa situação normal, ficaria com muita fome a breve trecho, mesmo porque também as batatas são em quantidade modesta.
Em termos de qualidade, nada a dizer: tudo o que comemos estava ótimo, as combinações de sabores são bem conseguidas, os ingredientes fresquíssimos e tudo é preparado no momento. Soube-nos bem e, no fundo, é isso que importa – mas aconselho qualquer estômago mais reivindicativo (como o meu, em situações normais) a pedir mais qualquer coisinha, sob pena de estar esganado de fome pouco tempo depois. De todo o modo, porque o calor já ameaça, admito que numa tarde de sol não apeteça mais do que aquilo.
Eu, pelo sim, pelo não, atirei-me a um Brigadeirão na altura do café: por 1€, comi o único elemento de quantidade janota da tarde – e mesmo muito bom, tanto que me atiraria a outro, se não fosse o treino. A alternativa era Panqueca de Banana e Chocolate (3€), o que não me soa a sobremesa, mas a lanche – mas fiquei curiosa, talvez numa passagem por ali, sem muita fome, a experimente.
De resto, tudo bom, com a salvaguarda das quantidades – o que não nos tolheu (de todo) os bons apetites, está bom de ver.
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A Casa do Evaristo é sítio onde planeio ir desde que o estaminé abriu, talvez há um par de anos, e apesar de algumas apreciações menos simpáticas que me chegaram, via pessoas que me são próximas. Mas acho graça ao conceito e, salvo raras e justificadas exceções (nomeadamente, quando a experiência alheia é catastrófica), gosto de decidir por mim, pelo que, quando se tratou de ir almoçar com a ES, que também gosta de petiscos como eu, achei por mim sugerir esta chafarica, de que ela nunca tinha ouvido falar e que eu não conhecia em nome próprio.
Chegámos, sem marcação, ao 535 da Rua Fernandes Tomás, por volta das 13h, e talvez metade do espaço estava já tomado por outros convivas, a maioria com o ar de quem estava a fazer a sua pausa de almoço e sem grande tempo para grandes confraternizações. Já nós, estávamos mais folgadas, pelo que nem nos importámos pelos longos minutos que tivemos de aguardar antes que um dos funcionários (na altura, o único que se avistava) nos indicasse lugar para sentar – aproveitámos para apreciar os muitos elementos decorativos que nos remetem para o nosso tempo de miúdas, em casa dos avós ou nos cafés da época.
De resto, e para os mais distraídos, o nome do restaurante remete para a época áurea do cinema português, e há várias fotografias de António Silva, Vasco Santana & Companhia a enfeitar uma das paredes, bem como um candeeiro que replica aquele com que a personagem de Vasco Santana dialoga, em O Pátio das Cantigas. Também os móveis, louceiros, mobiliário, doçaria e outros objetos característicos ajudam à festa, fazendo da Casa do Evaristo um sítio acolhedor, de bom gosto, onde é um prazer estar: nem sequer a música ambiente falha, e encanta.
Uma vez sentadas numa das mesas para duas pessoas que compõem o pequeno espaço (que, ainda assim, é menino para albergar uma trintena de pessoas), e que se juntam de acordo com as necessidades, o mesmo funcionário veio dar-nos conta dos pratos do dia, também constantes de um quadro de lousa, pendurado na parede do fundo (al lado das janelas que dariam para o pátio, se abertas): havia Sopa de Brócolos, Alheira com Grelos e Batata a Murro, Carapau Grelhado com Batata a Murro e Molho Verde, Filetes de Pescada com Arroz à Evaristo e Salada de Atum e Caril. Agradecemos a apresentação, mas perguntámos pelos petiscos, que eram o que ali nos levara, estranhando inclusivamente que não nos dessem conta da sua existência, mas justificando-o pela provável afluência de profissionais da zona que, àquela hora, alinham mais no prato do dia.
Lá vem uma pequena ementa, com sandes, pratos rápidos (incluindo francesinha) e os petiscos costumeiros, sem grande novidade. Destes, escolhemos as Azeitonas com Alho, duas Pataniscas, Polvo com Molho Verde e Alheira – sendo que, nesta altura, o funcionário nos aconselhou a optar pelo prato do dia, já que trazia o mesmo enchido, mas com acompanhamento, sendo 50 cêntimos mais barato (e nós apreciámos a honestidade). Pedimos igualmente dois finos Heineken, que é a cerveja disponível, e fomos atacando o pão.
E foi a partir daqui que a experiência descambou, numa série de sentimentos irregulares. É que as azeitonas, por exemplo, estavam uma especialidade: eram de três tipos (verde, preta e galega) e estavam muitíssimo bem temperadas e saborosas. Já o pão, num primeiro cesto, ainda agradou, porque trazia uma broa simpática (que não excelente) mas umas fatias de pão velho, meio torrado e barrado com algo que nem manteiga parecia. Ao segundo cesto, a broa desaparecera e restava a mediocridade de um pão de que nem metade comemos.
O resto também não encantou, exceção feita para a alheira, que não era má, assim como os grelos; já a batata, carecia do murro e não era do mais saboroso. Mas muito piores estavam as pataniscas: duras, feitas há demasiado tempo, massudas e com pouco peixe, pareciam uma piada de mau gosto. O polvo não correu melhor: desde logo, porque o molho verde era um eufemismo para uma mistura de salsa e cebola, onde faltavam o azeite (e o vinagre); depois, porque o bicho estava muito duro – e, mais uma vez, não parecia prato feito recentemente.
Os finos não estavam maus, o serviço não era do mais desembaraçado que já vi, mas era simpático (ao menos, o do funcionário com que mais lidámos) – mas isto não chegou sequer para que nos dispuséssemos a experimentar uma sobremesa, mesmo porque a oferta era, mais uma vez, fraquíssima (só uma tarte de maracujá me tentou, mas só antes de olhar para ela e desistir, porque sabia que não me deslumbraria).
Lá vieram os cafés e o pedido de conta que, infelizmente, se realizou ao balcão e sem fatura ou oferta de recibo, o que me parece sempre desajustado, nos dias que correm. Vá que o preço não foi disparatado: 10,40€ não é coisa má mas, se pensarmos bem, é sempre descabido quando uma refeição não nos traz bons apetites.
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