Começo por dizer-vos que quando forem ao Restaurante A Grelha, em Guetim (irão com certeza), levem roupa que não se importem de sujar e bem almofadada: dali, sai-se a rebolar, prometo…
Artigos
Eis mais um estaminé que estava na lista dos “a visitar com urgência” praticamente desde que abriu, pois que não oiço senão dizer muito bem: o Terminal 4450, sito ali mesmo, no antigo terminal de passageiros do Porto de Leixões, do lado de Leça da Palmeira (onde, uma vez por outra, ainda é possível ver um navio “descarregar” passageiros), não só se encontra numa localização privilegiada como tem uma luz espetacular, daquelas que tornam tudo mais simpático.
À Chegada
Depois de estacionar o carro nas redondezas, o que se revela tarefa mais simples do que à primeira vista se pensa (baste enveredar pelas ruelas do outro lado da Avenida Antunes Guimarães), a entrada no Terminal 4450 é a primeira experiência engraçada: sobe-se de elevador (ou pelas escadas, para quem gosta de se massacrar para além do ginásio) e, depois, caminha-se por um corredor que faz lembrar as mangas que conduzem aos aviões, com vista para o rio.
A Entrada
Uma vez chegados ao Terminal, toda a grandiosidade (que se mantém na zona da receção e casas de banho, toda amadeirada e com elementos decorativos de um bom gosto despojado) torna-se aconchegante, apesar do pé direito alto: um grande balcão de madeira rústica, onde se servem os cocktails que fazem do Terminal 4450 também um bar, convive com bancos altos e uns sofás, para quem espera e gosta de ir bebericando; uma mesa de mistura anuncia noites musicais, em harmonia com as traves de madeira que remetem inevitavelmente para as construções náuticas.
A Sala do Terminal 4450
A sala principal não é enorme e estava cheia que nem um ovo, o que parecia trágico para quem até tinha feito uma reserva, uma semana antes. Fomos convidadas por um dos funcionários (delicadíssimo e profissional, como todos os que passaram pela nossa mesa) a ficar numa sala mais pequena – e se o convite parecia indiciar uma experiência menor, pelo cuidado com que foi feito, veio a revelar-se uma coisa muito boa: a sala “ao lado” tem exatamente a mesma vista privilegiada, mas é bastante mais tranquila, o que é ótimo para quem, como eu, detesta ter de (e ouvir) falar alto às refeições.
O Menu e as Entradas
Uma vez instaladas, e ainda antes de nos ser trazida a ementa, foi-nos apresentado o menu do dia, uma pechincha que, por 8,50€, nos serve o couvert, sopa, o prato do dia e uma bebida. Aceitámos imediatamente: bem sei que a especialidade da casa são as carnes puras (e não tardarei a voltar para um bife dos muito bons), mas é impossível não aceitar um negócio destes. Assim, começámos por trincar o pão (entre broa com chouriço e pão de mistura) com a manteiga de linguiça (coisa mesmo muito boa) e umas pipocas salgadas com orégãos que fizeram as nossas delícias. Passados uns minutos, veio um creme de brócolos irrepreensível (e eu nem sequer sou grande fã de sopa, a não ser daquelas que são para lá de boas, como esta).
O Prato Principal
O prato principal era Secretos de Porco Preto com Castanhas e Cogumelos, servidos com Arroz de Frutos Secos (num balde de alumínio) e devo dizer que a coisa estava uma especialidade, de tão boa. As quantidades servidas são sensatas e mais do que suficientes mesmo para gente de (bastante) alimento, como eu.
As Sobremesas
Inevitavelmente, não pudemos sair sem fazer uma incursão pela oferta de sobremesas, que parece ser outra das grandes forças do Terminal 4450, a aferir pela quantidade de sugestões que tive, mal artilhei uma fotografia do sítio onde estava, no meu Instagram: da Bola de Berlim (que passei por ser recheada com o tradicional creme de pasteleiro, que dispenso) ao Petit Gateau de abóbora com Gelado de Queijo da Serra, os conselhos eram muitos, mas acabei por seguir o meu instinto, que é muito chocolateiro, e decidi-me pelo Decadente de Chocolate, uma deliciosa fatia de bolo de chocolate em três texturas, que rivaliza com o que de melhor já comi, dentro do género. Para a mesa vieram ainda uma Mousse de Chocolate (o doce daquele dia) e uma Tarte de Limão Merengada que, apesar de gostosa e belíssima, só dececionou (em parte) porque o “merengue” era, na verdade, pedaços de suspiros (e a ideia não seria exatamente essa).
Café e a Conta
Finalmente, os cafés e a conta: uma refeição deste calibre, com vinho e sobremesas, ficou por um pouco menos de 18€ por estômago, o que me parece muitíssimo razoável e justo. Claro que, porque não satisfiz toda a minha curiosidade, pretendo voltar em breve, para os bifes e mais sobremesas, de preferência ao jantar – isto porque a busca por bons apetites jamais cessa, por aqui.
Os Contactos
Telefone: 919 851 933
Horário: Dom a Qui – 12:30 às 15:00 e 19:30 às 23:00 | Sex e Sáb – 12:30 às 15:00 e 19:30 às 02:00
Aceitam reservas? Sim
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O Terminal 4450 no Zomato
Na verdade, a Cantina 32 só foi uma estreia para o AV: tanto esta vossa criada como a MAA e o TD (que compunham o ramalhete de quatro desta incursão) já lá haviam ido – curiosamente, todos em situações diferentes, tendo ficado com impressões algo heterogéneas – mas havia que fazê-lo de novo, por forma a registar a coisa como deve ser, aqui para o Cardume.
Recordo-me de que, quando estive na Cantina 32, tratava-se do estaminé-sensação do momento: estávamos no princípio de Agosto do ano passado, a coisa havia aberto ainda não há mês e, concomitantemente, não aceitava marcações (situação que entretanto se alterou: a marcação aconselha-se vivamente, sob pena de não se arranjar lugar, mesmo durante a semana), o que nos pôs a jantar quase às onze da noite e nos sujeitou a alguns inconvenientes, como uma gritante falta de pão ou a uma confusão com a faturação.
No entanto, a comida ficou-me na retina, porque já então me agradou muitíssimo.
À Chegada
Desta vez, a marcação foi feita com uns dias de antecedência, sendo que nessa altura a impressão não foi das melhores, uma vez que nos foi comunicado que, ao jantar, a Cantina 32 da Rua das Flores (artéria cada vez mais bonita, airosa e cosmopolita) recebe os comensais em dois turnos: o das 20h e o das 22h, sendo que, porque marcámos às 20h, teríamos de nos pôr a andar, por forma a que a mesa ficasse disponível para os comensais do turno seguinte, duas horas depois. Ora isto não é cartão-de-visita que se apresente a quem quer que seja, e nem sequer dispõe bem, pese embora saibamos de antemão que dificilmente ficaríamos mais tempo – mas é o princípio que não agrada e é pouco elegante (não se enganem: de “cantina” só há ali o nome – e isto é um elogio).
Poucos minutos depois da hora marcada, entrámos no espaço mais comprido do que largo, de paredes cinzentas e ar industrial, quebrado por uma decoração interessantíssima – não necessariamente original, porque já vários estaminés recorreram ao mesmo conceito de usar objetos inusitados (seja uma bicicleta pendurada na parede ou uma máquina de escrever pousada numa peça de mobiliário), mas certamente muito bem conseguida.
Também a luz quebra a estudada frieza das paredes, fazendo do Cantina 32 um local onde os contrastes caem bem e de forma natural (o que, infelizmente, nem sempre sucede).
O Menu
Na mesa para quatro, esperavam-nos já, para além do AV, que foi o primeiro a chegar, a deliciosa manteiga de banana com flor-de-sal (devo dizer que não agrada a todos, mas eu sou fã assumidíssima) bem como um cesto de delicioso pão caseiro fatiado, boas azeitonas e o belo do tremoço – coisa muito nacional e que, ao que parece, os turistas acham pitoresco (cfr. artigo do New York Times sobre o Cantina 32).
Trouxeram-nos o menu com celeridade e, enquanto picávamos do que havia, procedemos ao debate do costume e concluímos sobre o que nos forraria os estômagos e testaria as papilas gustativas nas horas seguintes (não mais do que duas, já se sabe).
As Nossas Escolhas
Optámos por quatro entradas e dois pratos principais, a saber: Chouriço Assado na Brasa, Bacalhau à Brás, Ovinhos de Codorniz com Bacon Panados e Croquetes de Alheira com Molho de Mel e Mostarda para entradas e, para depois, os dois pratos “Para Dois Com Alguma Fome” (não seria o caso, quando lá chegássemos, mas apetite temos sempre), Vitela na Brasa à Lafões com Batata a Murro e Salada Básica e Cachaço de Bísaro com Tripas e Feijocas (acompanhamento que podia ser trocado por Arroz de Cogumelos e Castanhas).
As Entradas

O Manjar
Encerradas estas hostilidades, a verdade é que, se ficássemos assim, já não saíamos com fome – a MAA (que não sai à filha – esta vossa criada) disse-se mesmo incapaz de deglutir o que quer que fosse a mais, mas acabou por fazer um pequeno esforço quando vieram os pratos principais.
Na verdade, que maravilha de petiscos ali tínhamos: o porco parecia manteiga e poderia comer-se à colher, apesar das fatias generosas de grossas (eram três), o tachinho com as tripas e as feijocas ficou a cargo da MAA (que nem um quarto comeu) e da carne não sobrou sequer uma lasca para contar a história; a vitela foi outro deleite: excelsamente cozinhada, apresentou-se em meia dúzia de fatias, também elas entusiasticamente saboreadas.
Faremos apenas um reparo negativo a uma das batatas que vieram como acompanhamento que, provavelmente por causa da sua dimensão mais avantajada, apresentou-se meio crua.
De resto, até a salada básica, que consistia num quarto de alface iceberg com um molho avinagrado delicioso, satisfez plenamente (a mim, que fui a única que a comeu).
As Sobremesas
No final de tudo isto, já mais para lá do que para cá, ainda tivemos forças para as sobremesas – eu jamais entrarei naquele restaurante sem que comer um cheesecake, isso é sagradinho.
Como estávamos com dificuldades em decidir, optámos por mandar vir três doces, que partilharíamos e comeríamos de acordo com os apetites de cada um. Vieram o Bolo de Bolacha com Nougat de Amêndoa (vendido ao centímetro, num mínimo de dois), o Cheesecake de Banana Caramelizada e Chocolate e a Terrina de Chocolate 32 – sendo que os primeiros, eram valores seguríssimos (já os prováramos) e o terceiro despertou a curiosidade do AV.
E confirmou-se: o bolo de bolacha satisfez bem, o cheesecake (servido num vasinho de barro, com cobertura de Oreos esfareladas, que se assemelham a terra) encantou e a terrina só desiludiu porque vinha com uma cobertura de menta que não é propriamente a nossa onda – mas deliciará aqueles que apreciam a junção dos sabores.
A Conta
No final de tudo isto, havíamos descoberto o mistério dos WCs (um marcado com um 6, outro com um 9 – qual deles o para mulheres e qual o reservado aos homens?), eram 22h03 e estava a conta pedida: 24€ a cada um parecem uma ninharia quando se come o que nós comemos, o que nos leva a afirmar a Cantina 32 como o local certo para quem está com sede de bons apetites.
Contacto para Reservas
Morada: Rua das Flores 32, Porto
Telefone: 222 039 069
Horário: Seg a Sáb – 12h30 às 22h30
Aceitam reservas? Sim
O Cantina 32 no Zomato
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Iniciemos esta posta com um esclarecimento: é sabido que apenas muito extraordinariamente aceitamos convites de restaurantes para os conhecer ou sequer damos a saber quem somos, quando os visitamos anonimamente – cremos que essa prática nos tolheria a isenção de quem quer dar a conhecer experiências do ponto de vista do cliente comum. Dito isto, não é a primeira exceção que abrimos, e os eventos promovidos pela Zomato, que desde sempre nos acolheu como parceiros, têm sido algumas delas.
Foi nesse contexto que visitámos o Mistu, espaço muito recentemente aberto na Rua do Comércio do Porto, na Ribeira: trata-se do irmão mais novo do já bem afamado Flow, pese embora o conceito se afirme como absolutamente original e independente. Éramos treze convivas, que incluíam o proprietário, Ricardo Graça Moura, que foi o anfitrião perfeito, três membros da equipa da Zomato, e nove bloggers/foodies, entre os quais esta vossa criada.
Fomos recebidos na zona do bar, onde os competentes funcionários nos prepararam cocktails de boas-vindas: eu optei por um Pisco Sour, que estava delicioso e foi a escolha certa para encetar hostilidades e acompanhar a observação do espaço, que é absolutamente magnífico – não só a decoração é de imenso bom-gosto, como a luz, intimista, convida a jantares tranquilos (embora não seja grande coisa para tirar fotografias, como observarão pelas nossas – mas, de todo o modo, não é nem deveria ser esse o objetivo). O pé direito, altíssimo, permite que haja um piso superior, tipo sacada, onde cabem umas quantas mesas e se exibe uma garrafeira de respeito, e a partir do qual a vista sobre todo o espaço é ainda mais encantadora. Uma vez sentados, neste piso, foi-nos introduzida a ementa, em jeito de banquete (dos muitíssimo generosos, como verão).
Em primeiro lugar, um couvert original e absolutamente delicioso, constituído por Tostas no Forno com Azeite (que não consegui parar de comer durante toda a refeição), Legumes em Cama de Gelo (sem qualquer tempero, estaladiços e fresquíssimos) e três molhos: de mascarpone e noz, de cenoura e mizo e de iogurte e lima – e não consegui decidir qual deles o melhor.
Depois, vieram dois ceviches: o Puro de Peixe Branco (que pode ser corvina ou robalo), que achei um dos reis da festa, por ser leve e cítrico, e o Crudo de Salmão e Maracujá, que adorei pela originalidade e combinação de sabores. Logo de seguida, a Salada de Pato, Romã, Maçã, Pinhões e Molho Hoisin, que se revelou um dos pratos preferidos de muitos dos convivas: de facto, a junção de sabores inesperada e o pato, extremamente bem cozinhado, está muito bem conseguida. Veio então um dos meus pratos preferidos da noite: a “Causa” de Caranguejo de Casca Mole e abacate: sou uma fã confessa do primeiro ingrediente e o resultado é algo de fresco e saboroso, que me veria a degustar recorrentemente, sem enjoar.
Era então altura dos quentes (a ementa está, originalmente, dividida apenas entre Pratos Quentes e Frios) e, depois do Polvo no Forno com Batata Doce, Edamame eOvo a Baixa Temperatura (um prazer para o palato e coisa mais tradicional, capaz de agradar aos menos aventureiros nesta coisa das gastronomias), chegaram-nos dois pratos de carne, ambas cozinhadas no formo a carvão. Primeiramente, o Cupim de Boi, Cerveja Preta, Puré de Abóbora, Manteiga e cogumelos, coisa intensa em termos de sabor mas perfeita para partilhar, mesmo porque esta parte do bovino não é facilmente encontrada por aí, já que o cupim costuma ser muitíssimo rijo – e aqui está muito bem conseguido, em forma de croquete gigante, sobretudo pelos sabores que a acompanham. Depois, o NY Strip Steak Maturado, uma delícia para quem gosta de carne de vaca de qualidade, atrelada a sabores de qualidade superior: a polenta foi a melhor que pude provar até hoje e a mescla de legumes estava muito bem confecionada.
Nesta altura, até um estômago tão elástico como o meu começava a dar sinais de exaustão, mas havia que ser resiliente, porque estavam prometidas três sobremesas que jamais poderia ignorar: a Pana Cota de Manga, Lima e Sorvete de Maracujá foi uma surpresa, porque nunca gostei de qualquer outra pana cota e esta estava uma delícia (perfeita para quem gosta de sobremesas leves); o Fontant de Dulche de Leche, Sorvete de Framboesa e Sopa Fria de Frutos Vermelhos é um deleite não só para o palato (sou doida por fondants) como também para o sentido estético; já a Semi Esfera de Caramelo e Flor de Sal, solo de Chocolate e Avelã e Suspiros de Lima foi inevitavelmente a minha preferida (é a mais intensa de todas e maravilhosa). Veio, ainda, de “brinde”, e a pedido de uma das convivas, a Tapioca de Gengibre e Gelado de Amendoim, que se revelou melhor do que eu esperava (é o tipo de sobremesa que não pediria, de moto proprio), mas foi a de que menos gostei – o que é uma questão de juízo de gosto e não de qualidade, como é óbvio.
Tudo foi acompanhado por vinho branco e/ou tinto (eu mantive-me no primeiro) e selado com cafés e descafeinado, para quem quis – e seguiram-se muitas horas de digestão.
Foi um prazer e um privilégio conhecer o Mistu tão aprofundadamente e, ainda assim, voltarei para alguns itens da ementa que ainda não provei, mas sobre os quais tenho muita curiosidade. Recomendo vivamente a visita.
Nem vou tentar o suspense, para não fazer perder tempo ao amado Cardume: digamos que o brunch do Astoria, no Palácio das Cardosas (Hotel Intercontinental), mesmo ali ao fundo da Praça da Liberdade, com vista para os Aliados e a Câmara, mas também para São Bento, é demasiado gabado para aquilo que, de facto, oferece. Posto isto, adeus, ó malta que não tem tempo para mais e olá, ó gentes que quereis saber as razões do nosso ( muito relativo) descontentamento.
A verdade é que, quando lemos maravilhas sobre um determinado estaminé, as expectativas sobem exponencialmente: “mais de 50 pratos”, lia-se, numa publicação online muito badalada (e de mérito discutível, mas isso são contas de outro rosário), há um par de meses; um dos melhores brunches do Porto, aventava-se. Olhem, não é. Por 27€ esperava muito mais, porque o facto de estarmos num sítio belíssimo, onde o requinte é a palavra de ordem, não pode ser o único critério para o que se paga – para além de que o serviço, ao almoço e ao jantar, é de outro calibre, sem termo de comparação.
Explico-me: o serviço é atencioso e atento e simpático, mas depois chegou mais gente e já tivemos de estar à espera muito mais do que devíamos (para algo tão prosaico como pagar ou pedir um cappuccino), o que nem me incomoda per se (era fim de semana, a conversa estava boa, não tinha horas para chegar onde quer que fosse), mas tem de ser considerado num local como o Astoria (mesmo porque houve um outro problema, de que falarei adiante).
O espaço é, no Astoria, maravilhoso: a sala é requintada e elegante, os lustres dão-lhe uma aura aristocrática, e o facto de estarmos ali, numa câmara fresquinha (fazia um calor enorme, naquele dia do início de outubro) e a salvo da confusão da Baixa é, por si só, um trunfo. Todavia, não adorei o modo como está disposto o brunch, logo à entrada, como se fosse indigno de pertencer a uma sala que não foi com certeza pensada para refeição tão pouco formal.
Ainda assim, a apresentação é bonita e cuidada: não sei se ali moram “mais de 50 pratos”, como diziam os outros, ou se podemos falar, sequer, de pratos, quando nos referimos a queijos, carnes frias , salgadinhos, iogurtes e outras iguaria – mas não posso deixar de referir que os rissóis e afins estavam fritos de fresco, o pão apetitoso e estaladiço, os queijos, embora pouco variados, eram bons; não gostei tanto de algumas coisas aparentemente mais sofisticadas, como um tártaro ou uma salada com carne branca, que me pareceram sensaborões e sem graça.
É possível pedir, ainda, pratos de ovos (Benedict, escalfados, fritos, mexidos ou em omeleta): vieram três Benedict e uns escalfados e, mais uma vez, não rejubilei. Das meias de leite e do meu chá, nada a dizer, mas a MBC não conseguiu ingerir o seu cappuccino, que achou mauzinho. De resto, havia água e sumos à disposição (infelizmente, sumos de pacote) e também era possível pedir vinho, o que me parece simpático.
Gostei particularmente dos folhados doces, muitíssimo bons, mas não rejubilei com as sobremesas. Já os bolos secos (de chá, como lhes chamo) foram muito aclamados, bem como as panquecas, que eu achei banais mas ouvi serem gabadas pela SC. Creio que o que mais consenso gerou terá sido o mini-prego em bolo do caco, cuja carne se desfazia e estava francamente delicioso. Tudo o mais não arrancou, em mim, mais do que um suspiro de tédio – e não posso deixar de dizer que, por comparação, e a todos os níveis, o brunch do Poivron Rouge, 5€ mais barato, continua a ser, para mim, o melhor do Porto: também tem tudo incluído (mesmo os ovos que pedimos, à parte, e que não são nada de especial) mas tanto o serviço como a diversidade e qualidade são superiores, o que será, provavelmente, causa e efeito de terem a sala sempre cheia.
Uma nota para terminar: é anunciado que o Astoria paga duas horas de estacionamento no Parque das Cardosas, ali mesmo ao pé; infelizmente, os três talões que nos deram, e que seriam uma espécie de “vale” para a máquina de pagamento, não funcionaram, tornando a brincadeira 5,90€ mais cara. Não pude reportar isto ao restaurante, porque isso implicava voltar para trás e eu tinha de me vir embora, mas deixei a nota no parque – e é outro dos fatores por que atribuo nota mediana ao serviço.
Não fiquei deslumbrada, não senhores.
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Astória-Intercontinental | Brunch | Porto
Localidade: Porto
Telefone: 220 035 600
Horário: Restaurante – Seg a Dom – 12:30 às 15:00 e 19:30 às 22:30 | Brunch – Sáb – 12h30 às 16h
Aceitam reservas? Sim
Data da Visita: 7 de outubro de 2017
No Zomato
Caro Cardume, esta será, ao contrário do que acontece sempre por aqui, uma posta rápida e indolor, para vos dar conta de que já não é preciso ir à Baixa (ou à Foz, ou à Baixa outra vez) para comer os melhores cachorros do Porto: abriu mais ou menos recentemente, pela mão de alguém que trabalhou diretamente na casa-mãe de todo o cachorrame, um estaminé que no-los dá a comer, bem como outras delícias – não aconselháveis a quem faz contagem de calorias para efeitos não recreativos, na 5 de outubro, já mesmo junto à Casa da Música, na Boavista.
Infelizmente, o espaço é tão diminuto como o do Gazela e só tem lugares ao balcão (uns vinte, diria), pelo que tivemos de esperar que vagassem três lugares, para apaziguar a fome, que era já muita – claro que o facto de se tratar de comida rápida ajuda a que a rotatividade seja maior, ao menos se a maioria das pessoas não for como nós, que nos alapámos e não nos despachámos senão quanto era tempo do concerto a que assistiríamos às 22h.
Antes de mais nada, nota muito alta para o serviço, que não só é simpático e bem-disposto, como é de uma eficácia altíssima: tudo funciona como numa linha de montagem, bem ali à frente dos nossos olhos, cada um conhece o seu papel e a comida chega-nos depressa (e bem).
Uma vez sentadas, escolhemos depressinha: seria um Cachorrinho The Dog (pão fininho, salsicha fresca, queijo e vai a torrar) para partilhar, Pregos Em Pão Especial The Dog (carne da vazia, queijo Brie e mel, compota de cebola em vinho do Porto), batatas fritas (duas doses) e finos para as três. Tudo é servido com celeridade e uns minutos depois encontrávamo-nos a aniquilar a fome e a deliciar as papilas gustativas.
Não há o que quer que seja que não seja bom, no The Dog: o cachorrinho corresponde inteiramente às expectativas e é coisa gulosa, que apetece comer sem parar, as batatas são caseiras, a fritura está no ponto e não há ali gota de óleo a mais, e os finos são Super Bock e bem tirados. Mas tenho de salientar a excelência dos pregos especiais: a carne é mal passada e macia, o queijo e a cebola são notórios e saborosíssimos. Para terminar, tivemos de pedir mais um cachorro, que partilhámos, antes de partir.
Os bons apetites saldaram-se em pouco mais de 11€, o que nos pareceu perfeito.
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Já aqui tinha revelado a minha vontade de ir ao anunciado novo Panca (o original aconteceu no Parque da Cidade, e sempre foi dito como sendo sazonal), que o Chef Camilo Jaña abriu, já sem Ruy Leão mas com a mão de mestre de Vasco Mourão, responsável por tão bons estaminés na Invicta (para os mais distraídos: Cafeína, Terra, Casa Vasco e Portarossa). Reunidas as condições necessários (a saber: disponibilidade minha e da RV), lá fomos, numa noite chuvosa de Verão, com reserva de mesa prévia, que eu nunca brinco em serviço com estas coisas.
O Panca fica na Sá de Noronha, onde, nos últimos anos, têm aberto tantos espaços de restauração, e é um espaço de bom gosto, bem decorado e com um ambiente animado e convidativo; também tem meia dúzia de mesas cá fora, onde, mesmo num dia de chuva tola, dá para comer, porque são cobertas com guarda-sóis (sol e outras maleitas) dos resistentes. Lá dentro, uma primeira constatação: como é comum em restaurantes de inspiração sul-americana, a música está um nadinha alta de mais. E isto, per se, é só um apontamento – mas a verdade é que, quando a música está um bocadinho alta, num restaurante cheio, toda a gente começa a falar mais alto, o que acaba por desaguar numa barulheira que chega a incomodar, porque se não nos juntarmos à gritaria, mal conseguimos ouvir a vizinha da frente.
Ficámos sentadas numa mesa pouco simpática, porque imediatamente junta ao degrau que separa a parte de baixo da de cima – o que significa que o serviço para todo o restaurante passava por mim em particular, que estava de costas para o “corredor”.
Foi-nos trazida a ementa, que é composta por três tipos de empanadas, quatro de ceviches, quatro de grelhados na brasa, uma salada, um hambúrguer e quatro “diversos”, para além das sobremesas. Optámos, como é costume, por pedir coisas várias para partilhar: quisemos uma Maçaroca de Milho na Brasa com Manteiga de Miso, um ceviche Peixeirada e as Empanadas de Chili com Carne.
Entretanto, foi-nos trazido o couvert, que foi coisa que me dececionou bastante. Num baldezinho vinham os hidratos : a broa era boa (mas só tinha dois pedacinhos mínimos), os nachos (apenas dois. DOIS!) eram ofensivos de maus, moles e desenxabidos, e os restantes (creio que seriam os chips de banana, mas não posso jurar, porque a funcionária que nos calhou em sorte, ao contrário da da mesa do lado, não nos explicou nada) até bastantes simpáticos, pelo que tivemos de pedir mais, porque também só vinham dois. Para acompanhar, havia uma espécie de paté de frango, que achei absolutamente banal, e uma maionese picante que não deslumbra de todo.
Depois, começaram a chegar os pratos pedidos: a maçaroca tem uma apresentação genial e vem com uma faca espetada, o que nos agradou, já que queríamos parti-la a meio. Quando perguntámos ao empregado (agora outro) como devíamos fazê-lo, ele não sabia – e foi perguntar, o que me parece lindamente; o pior foi a resposta: “diz que têm de o fazer na vertical” – e foi embora. Depois de nos debatermos com a indignação pela falta de cuidado e com a própria maçaroca, que não dava sinal de querer partir, chamámo-lo e pedimos que o fizesse ele: acabou por parti-la em dois troços, de modo algo atabalhoado – mas que acabou por funcionar, vá. O sabor compensou o dislate: barrada com a manteiga de miso, a maçaroca de milho na brasa é mesmo muito boa.
Já o ceviche estava bom, como se esperava: o Peixeirada (que também permaneceu no Lucha Libre) tem leva peixe branco, batata doce, chulpi (um tipo de milho dos Andes), abacate e um marcante sabor a lima. Finalmente, as Empanadas acabaram por ser a estrela (inesperada, para mim) da companhia: a massa tenra estava sublime e o recheio de carne e feijão era mesmo muito saboroso.
Não podíamos vir embora sem experimentar as sobremesas, e da hipótese de dividirmos uma, depressa ficámos na certeza de mandar vir duas, para partilhar: a RV quis provar a I ❤️ Lima e Matcha (que não trazia qualquer descrição adicional) e eu a Mousse de Chocolate, Paçoca Toffee e Gelado de Amendoim. E permitam-me que vos diga que, de forma inesperada, foram as sobremesas que mais brilharam no Panca: a de mousse está muito bem conseguida, aconselho-a vivamente, mas a de Lima e Matcha, uma coisa dos deuses com suspiros, uma base de leite condensado e sorvete de lima, é uma combinação que nunca esquecerei e a que quererei regressar.
Mais uma vez, as sobremesas não nos foram apresentadas, como não o foram os demais pratos – e esse cuidado parece-me fundamental em geral, mas mais ainda quando se trata de um estaminé de cozinha internacional. O serviço foi, de resto, o que menos me agradou no Panca, a par com o barulho excessivo – não porque fosse deseducado (de todo!) mas porque me pareceu pouco preparado e, também, pouco conhecedor da ementa e suas caraterísticas.
No final, pagámos 21€ por pessoa, o que me pareceu justo para o espaço e para o que comemos.
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Há um bom par de meses que queria ir ao Ikeda: o mais recente japonês da Invicta estava a dar brado mas, ainda assim, decidi esperar, já que as primeiras críticas que aparecem na internet são sempre de quem foi convidado para provar o menu – e eu tendo a relativizar quase sempre as experiências que não correspondem a um débito na carteira dos “críticos”, porque raros são os casos em que a isenção é a mesma (e daí nós só em casos muito excecionais aceitarmos os convites que nos endereçam, porque sentimo-nos condicionados quando assim não é). De todo o modo, fui recebendo recomendações por parte de amigos e lendo boas apreciações na comunicação social e chegámos a acordo: iríamos provar a coisa e não se falava mais nisso.
Marcámos mesa (faço-o sempre que os restaurantes aceitam reserva) e certificámo-nos de que havia estacionamento, já que a Rua do Campo Alegre não é a mais rica em lugares para os carros – e, pelo telefone, informaram-nos que podíamos estacionar no parque em frente, que é pago, que no Ikeda logo nos trocariam o talão (a expressão foi mesmo esta, “trocar”) por outro, que nos isentaria do pagamento. Perceberemos à frente a relevância desta informação.
À chegada, uma primeira constatação: o espaço é agradabilíssimo, desde logo no rés do chão, com um balcão imenso e bonito, mas o primeiro andar é quase mágico, graças à média luz e aos muitos origamis pendurados no teto – e isto, queiramo-lo ou não, é cartão de visita irrepreensível, que não substitui a qualidade do que se come, mas conforta e dispõe bem.
Uma vez instalados, colocou-se a questão de saber o que pediríamos; eu, o AG, o RFM e o DQ estávamos dispostos a deixar os pedidos nas mãos da RV e da JSS, mas, entretanto, outra hipótese se colocou: uma vez que era a nossa estreia no Ikeda e que não dominamos propriamente a nomenclatura da gastronomia nipónica, por que não deixar, a exemplo do que fazemos sempre no Shiko e do que fizemos no Michizaki (com excelentes resultados), que o chef ou a funcionária responsável pela nossa mesa nos trouxesse os pratos mais icónicos do estaminé, em jeito de degustação? Todos concordámos e assim foi. Para beber, aceitámos o conselho da casa e escolhemos a sangria de vinagre balsâmico. Entretanto, deixámos uma única exigência, que foi introduzida por mim: que as peças, quaisquer que fossem, viessem sempre em número múltiplo de seis, ou divididas em seis partes. Só isto – não haveria de ser difícil, não é?
Entretanto começou o banquete: vieram as Espetadas de Vieiras, deliciosas; as Guiosas foram “só” as melhores que já comi, mas entretanto começou o disparate com os múltiplos: trouxeram duas doses, de 4 peças cada, e tivemos de pedir mais uma – sendo que demorou uma eternidade. Trouxeram a Okonomiaki, uma omeleta japonesa que adorámos no RO, e que aqui é medíocre, constituindo a maior deceção da refeição (depois houve um susto, ainda maior do que a deceção, mas já lá vamos), por ser seca, farinhenta e pouco gostosa. Mas rapidamente a ordem foi reposta: o ceviche e a barriga de salmão com molho ponzu (uma dose de cada, para os seis) estavam bastante bons, e o edamame com flor de sal jamais falha. Depois, vieram dois King Prawns, camarão salteado em alho e saké, que agradou a todos (e não deixámos sequer o interior da cabeça) e um tártaro de atum com ovo de codorniz (bom, mas não extraordinário). Logo em seguida, duas doses (para que houvesse um pedaço de cada peixe para todos) do New Style Sashimi, um sashimi de vieira, salmão, lírio e atum, de corte muito fininho, num molho especial do chefe – e todos adorámos.
Veio igualmente um Gunkan Freestyle, um prato com seis peças de sushi, de três qualidades diferentes. Naturalmente, para que todos pudessem provar cada um dos tipos, insisti para que viessem mais dois pratos iguais – o que durou uma eternidade e não foi cumprido, porque um dos pratos era diferente (e a funcionária nem sequer soube explicar porquê). Mal sabíamos que, só por essas 18 peças, estávamos a pagar 60 euros. Sessenta, redondinhos. Também desfrutámos de um prato de 12 peças de sushi e 12 de sashimi, mais uma vez sem que se respeitasse o critério dos múltiplos de seis, por peça, nem explicação condizente.
Finalmente, dois pratos que me pareceram menos contextualizados: do Wagyu, um naco de carne de vaca de sabor soberbo, todos gostámos – embora as batatas fritas de pacote surjam como um quase insulto (e, depois de chegada a conta, mais ainda); já o Black Cod (não sei por que diabo não lhe chamam “bacalhau negro”), achei-o desnecessário e podia ter sido perfeitamente grelhado na casa de qualquer um de nós – e ainda não tinha visto o preço dele (nota-se que estou traumatizada?).
Achámos por bem encerrar hostilidades por aqui: tínhamos comido de tudo um pouco (eu dispensaria os pratos finais, mas vá) e era tempo de passar aos doces, que também haviam sido muito elogiados: escolhemos uma Tarte de Lima, um Fondant de Chocolate e Caramelo Salgado e um Tiramisú – todos bons, nenhum extraordinário.
Infelizmente, o pior estava para vir: comemos bem, estávamos à espera de pagar em conformidade. Mas não mais do que uns 50€, que é o que pagamos no Shiko (onde comemos pelo menos o mesmo, normalmente mais, e bebemos vinho) e bem mais do que o que pagamos no Michizaki – sendo que estes dois são estaminés de categoria similar, em termos de qualidade. Que cada um tenha sido depauperado em 75€ parece-me desadequado e sobranceiro: esse é o preço de uma refeição de luxo e o Ikeda não é um restaurante de luxo. Claro que poderíamos pensar e voltar e comer menos – mas eu não saio de casa para ficar com fome ou apetite, pelo que só aconselho este estaminé a apetites modestos e pouco curiosos.
O golpe final foi o estacionamento: num sítio onde uma conta de quase 500€ nem deu direito à oferta do café (um dos poucos artigos de preço decente, a 1€, já que meio litro de água custa 3€), tivemos de pagar 2€ de estacionamento por carro, porque Suas Excelências só oferecem 2 horas no parque em frente – ou seja, o jantar acabou por ficar ainda mais caro. E são estes pequenos pormaiores que mudam tudo. Ou nada, como foi o caso, porque os bons apetites não justificam tudo.
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Há já semanas que queríamos ir ao Mito: mal lhe conheci a ementa, houve um par de pratos por que salivei, só a partir da descrição. Ora sucede que houve duas tentativas prévias, que resultaram em nada: o Mito, ao menos até à data da nossa visita, nunca abriu à hora de almoço – e nós andamos numa fase em que a Baixa tem sido palco mais de almoços do que de jantares. Tratámos, por isso, de abrir uma exceção à regra, marcámos mesa e lá fomos, a meio de uma semana ainda de trabalho, para quebrar rotinas.
À chegada, pouco depois das 20h, tivemos a sorte de ter o espaço sito na Rua José Falcão todo para nós, o que nos permitiu apreciar a decoração minimalista, mas com muitos apontamentos de bom gosto: o chão, as mesas e cadeiras vintage, a iluminação industrial-chic (se o termo não existia, passou a existir), o faqueiro a mimetizar o que era uso há umas décadas. Gostei sobretudo da fachada toda em vidro: são janelas que nos dão a sensação, quando abertas, que a rua também mora ali – ou que nós mesmas estávamos também na rua.
Tratámos de analisar a ementa mais como um pró-forma, uma vez que levávamos o trabalho de casa feito; também sabíamos que queríamos dividir pratos, para saborearmos o máximo que pudéssemos. Assim sendo, pedimos o Tártaro de Alcatra, os Croquetes de Boi Velho e a Salada de Mexilhões Fumados. Para beber, um fino, que veio a ser Estrella Damn – longe de ser uma das minhas cervejas favoritas, continuo a conseguir bebê-la bem.
Entretanto, nos poucos minutos em que esperávamos, fomos debicando os pãezinhos de centeio com a manteiga do dia, caseiríssima, de coentros e lima – e que coisa tão boa, só apetecia trazer meio quilo e não se falava mais nisso.
Meu querido Cardume, o que se seguiu foi a continuação de um festim de sabores: não houve rigorosamente nada que se revelasse menos bom: o Tártaro, servido com gema curada em soja, caldo de cogumelos fumados e lâminas de cogumelos, estava tão bom como eu o imaginara; os Croquetes eram, no dizer da RV, “comme il faut”: sem farinhas, com carne da boa e tenra; a Salada de Mexilhões, com cevada, cebola roxa marinada, coentros, rúcula e citrinos (laranja e toranja) acompanhou os croquetes tão bem que poderiam sempre ser servidos assim.
Dávamos já o caso por encerrado quando, da cozinha, o F. (que foi meu aluno, há já muitas luas) surgiu com um pratinho de Croquetes de Peixe que, segundo ele, não poderíamos deixar de provar – e estavam mesmo muito bons: distinguia-se o bacalhau e o camarão, como é raro acontecer (bem sei que deveria ser regra, mas é exceção) e estavam acabadinhos de sair da fritura, o que os tornou ainda melhores.
Já muito satisfeitas, mas ainda não derrotadas, não poderíamos deixar de experimentar as sobremesas que foram a cereja em cima do bolo e vieram confirmar que, no Mito, é difícil haver o que quer que seja de menos bom: a Pavlova é mais “suspirenta” do que antecipámos e, ainda assim, ótima, e a calda de frutos vermelhos macerados valeria por si só; o cheesecake NY Style, de que pensei que não gostaria, por ter rum na sua composição, era, afinal, uma delícia de lamber a beiçola: bolo de queijo como deve ser, de forno, não os semifrios que se servem para aí, muitos deles sem sequer o aroma de queijo.
Contas feitas, este magnífico repasto quedou-se pelos 17€, o que me parece não apenas justo como até surpreendentemente barato para os bons apetites que nos proporcionou. Quando saímos, a casa estava cheia, numa mescla de turistas e locais constituindo uma ajuntamento eclético e agradável.
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Já ouvira falar da Mamma Bella há algum tempo, só não me lembro em que circunstâncias: quando alguma coisa me parece bem, junto-a ao rol dos “a visitar” e, na primeira oportunidade, lá vou eu (o que é cada vez mais difícil, dada a parafernália de estaminés a abrir, a toda a hora, no Grande Porto). Aproveitei o meu dia de aniversário e um jantar com a Mãezinha (a festa rija fez-se noutro dia) para tratar de riscar este estaminé de comida italiana da lista – o que fiz telefonando primeiro, porque não gosto de ir ao engano: marquei mesa para daí a meia hora, porque a sala (que é relativamente pequena) estava cheia.
Quando chegámos (a Mamma Bella fica numa transversal da Avenida marginal de Leça da Palmeira), lá estava, ao cantinho, uma mesinha para duas pessoas e, enquanto nos dirigíamos a ela, reparámos em duas coisas: desde logo, o imenso colorido da decoração, com posters sobretudo alusivos a Baiona e quadros com dizeres informativos ou marcantes; por outro lado, é claro que a clientela da casa é maioritariamente jovem, o que se explica também pelos preços muitíssimo simpáticos, para a oferta em causa.
Começámos por aceitar os pãezinhos com manteiga de alho que nos foram trazidos ainda a escaldar, envoltos em alumínio (e que bons que estavam!) e pedimos duas pizzas: a Vicenza (frango, cogumelos e bacon) para a Mãezinha e a Verdi (tomate fresco, cogumelos e espinafre) para mim, bem como uma litrada de sangria, que escolhemos branca a conselho do funcionário, que a descreveu como mais frutada e leve.
Apesar da casa cheia que nem um ovo, a bebida veio logo depois (carregadinha de ananás, um apontamento de que gostei especialmente) e as pizzas também não tardaram: não são enormes, mas têm um bom tamanho individual, para além de que são caseiríssimas e de contornos incertos (caraterística que me agradou particularmente, só porque sim). A massa é fininha mas nada seca, os ingredientes são frescos, saborosos e vêm em dose generosa (sobretudo o queijo, que para mim é fundamental) e as combinações de sabores são simples e bem-sucedidas.
No final, não pudemos resistir a uma sobremesa: a oferta não é muita, mas aceitámos a Mousse Surpresa (de limão) e o Gelado de Limão com Doce (de morango), ambas opções muito frescas e perfeitas para quem andava há três dias em overdoses de sobremesas (porque festa é festa). O melhor de tudo? O preço: comemos tudo aquilo a que tínhamos direito e a conta ficou por cerca de 14€ por estômago, o que me parece muito bom.
Uma nota para o serviço, muitíssimo bem-disposto e afável, adequado ao tipo de clientela presente (mas não sei se bem aceite por gente menos descontraída e com menos sentido de humor).
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