À segunda foi de vez: fizéramos uma primeira tentativa por alturas da Páscoa, mas fomos à maluca, sem marcação, e agora percebemos que fazê-lo é uma insanidade, já que o Brasão (restaurante/cervejaria com muita pinta, dos mesmos donos do Yuko e do Paparico, e aberta há uns meses ali mesmo entre a Rua do Almada e os Aliados) é estaminé para estar permanentemente cheio, recebendo pelo menos duas rodadas de comensais numa noite a meio da semana. (A este respeito, note-se que se fazem reservas todos os dias mas ao fim de semana, entre sexta e domingo, apenas para grupos de seis ou mais pessoas.)

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Comecemos pelo espaço: tudo ali transpira classe, desde o exterior (onde figura o brasão que lhe dá nome), a fazer lembrar um pub requintado. Mal entramos, um cheiro estranho e difícil de identificar traz-me memórias boas: quando era miúda, o meu avô paterno levava os netos e o pastor alemão Ringo (Starr) a passear junto a uma linha férrea abandonada e o que se sente no Brasão é esse cheiro à madeira dos caminhos-de-ferro (as traves a que se chama sulipas ou chulipas – valha-nos a mãezinha MA, que sabia que a coisa tinha nome), de que são feitos os interiores. “Cheira a Campanhã”, como disse o AV – mas no melhor dos sentidos, acreditem, já que tudo ali é aconchegante, desde o espaço térreo, com um magnífico chão de mosaico hidráulico, as colunas de madeiras escuras, os livros, os pratos e peças antigas que servem como decoração, os azulejos e o balcão, até ao ferro forjado das escadas que nos conduzem à casa de banho, no andar de baixo, ou às mezzanines, acima. E ao aroma, também.

Depois, entrar é ser recebido com um sorriso: aconteceu das duas vezes em que lá entrámos e acreditamos que seja uma constante. O pessoal é afável, educado e com muito bom ar (o que, perdoem-nos, mas também conta sim senhores), para além de ter sentido de humor e ser competente, o que nunca é de somenos. Fomos imediatamente conduzidos à mesa marcada uns dias antes, onde nos esperavam uns palitos/tiras salgados de milho, acompanhados de uma espécie de um molho cocktail bem picante (maravilhosa, a combinação), bem como um cesto com pão fatiado, que fizemos acompanhar pela manteiga também caseira e temperada e por azeitonas britadas e uns pickles divinos, que encerravam o couvert, já acompanhado a finos bem tirados. De resto, as cervejas são uma especialidade da casa mas nós somos pirosos e ficámo-nos pelos finos com que normalmente acompanhamos as carapauzadas.

Depois, pedidos que estavam os bifes que decidimos fazer protagonistas da refeição, o AV decidiu testar a qualidade do rissol de carne (o normal, já que há uma versão com cogumelos e trufa, pelo mesmo preço), como entrada: afinal, e como ele diz, é preciso crer muitíssimo na qualidade de um rissol para que se o venda a 1,70€. E lá veio o dito, acabadinho de fritar e inchado de gordo, acompanhado por uma molhaca amanteigada. Foi o pitéu esventrado e degustado e houve conclusões diversas: eu adorei a massa e o recheio, a carne era boa e bem temperada, com ervas bem visíveis; o AV não ficou fã, embora reconheça que a tal molhaca é uma mais-valia. Em conclusão, concordámos num ponto: não, o rissol não vale o que é cobrado por ele (embora bom, ressalvo eu).

Um aparte apenas para as loiças e para os talheres: as primeiras são personalizadas, num estilo estudadamente rústico, e os talheres de excelsa qualidade – e nós apreciamos estas coisas, que os demais podem achar mariquices: o cuidado que um estaminé tem com o que oferece aos clientes não radica (nem pode radicar) exclusivamente na comida.

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Os bifes chegaram pouco depois. Escolhemos todos carne da vazia (a alternativa, uns euros mais cara, é a do lombo, a única que como em casa, por acaso) e variámos nas versões: para mim veio com queijo da Serra, para o AV um à portuguesa (com presunto e alho) e para a MA um de cebolada, todos acompanhados por batata frita às rodelas fininhas, salada mista e, obviamente, finos – pois claro. E devo dizer que, ainda que o meu bife não estivesse tão “estupidamente mal passado” como eu pedi (e como peço sempre, embora raramente seja levada a sério), a verdade é que ficámos todos fãs do que tínhamos à frente (e depois nos respectivos estômagos): a carne é de qualidade, tenra e bem cozinhada, com uma gordura circundante tão deliciosa que se comia quase toda, excepção feita para as zonas menos bem tostadas. As batatas fritas eram quase tão boas como as da avó E. e a salada estava tão bem temperada que até o AV, que é pouco dado aos verdes, a apreciou. E não ficou nem um pedacinho do que quer que fosse.

Faltavam, obviamente, as sobremesas, a que havíamos já deitado o olho, na ementa que consultámos inicialmente, e que víamos passar para as mesas em redor. A MA escolheu um leite-creme e deliciou-se (estava acabado de fazer e de queimar); o AV foi na mousse de chocolate com avelãs, que achou demasiado amanteigada (estava, portanto, no ponto, para mim: provei e adorei); quanto a mim, optei pela tarte de queijo com banana e caramelo, que estava boa, apesar da banana (que eu não aprecio): o caramelo era daquele tipo Daim (do que se cola aos dentes, portanto) e estava triturado e espalhado por cima de tudo, e a tarte um semi-frio.

Vieram os cafés (acompanhados por mini-trufas de cacau) e a conta: os quase 23€ que pagámos pareceram-nos absolutamente justos e em conformidade com o serviço, o espaço e, sobretudo, com o requinte descontraído e despretensioso que só pode ser um abre-bons-apetites.

Cervejaria Brasão

Morada: Rua Ramalho Ortigão 28, Porto
Telefone: 934 158 672
Horário: Dom a Qua – 12h00 às 14h30 – 19h00 às 24h00 | Qui a Sáb – 12h00 às 14h30 | 19h00 às 02h00
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One Comment

  1. fui lá ontem e lembrei-me de vir aqui procurar a review. pessoal simpático, confirmo. também reparei na robustez dos talheres :) francesinha para toda a gente. estava boa, mas achei que o molho sabia um bocadinho demais a tomate, o que não é bem a minha preferência pessoal. bolo de bolacha muito jeitoso. e pedi um gin tónico, muito bom e feito com mestria. um bom sítio, mas é impensável ir sem marcação. éramos 6, chegamos à meia noite e tivemos de esperar mais de 1 hora.

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