Michizaki | Braga | Carapaus de Comida

Sabem aquela sensação raríssima de irem a um restaurante onde gostam mesmo de tudo – e até aquilo que, noutros sítios, seria potencial falha a assinalar, passa a ser só uma caraterística? Ora pronto, hoje temos uma posta dessas, para gáudio de quem acha que eu normalmente sou uma chata e uma picuinhas e tenho sempre coisas a apontar – e tenho, mas neste caso são mesmo muito boas.

O Michizaki é uma tasca japonesa, em Braga (ali pretinha da Sé) – e se há gastronomia que me encanta é a nipónica que, obviamente, inclui o sushi e o sashimi, mas não só não se resume (de todo) a estes como, quando os serve, não vai cá em frutinhas nem queijos-creme, nem frituras (embora possa condescender quanto a esta última caraterística). Foi no Shiko que descobri as muitas maravilhas destes sabores e o Michizaki provou-me que pode deixar-me igualmente encantada.

Éramos quatro e marcámos mesa para as 20h – de resto, é algo que aconselho vivamente, porque as mesas estiveram sempre cheias, durante todo o serão. O espaço, sendo pequeno e muito simples, sem aqueles imensos laivos de criatividade decorativa que, hodiernamente, parecem ser requisito essencial para qualquer estaminé (e que eu acho, as mais das vezes, demasiado forçados), é aconchegante e simpático, beneficia das janelas grandes para a rua, tem um balcão onde nos podemos sentar a ver os chefs/sushimen a fazer magia e tem mesas que albergarão umas 20 a 30 pessoas (não contei, estou a tentar não errar muito no cálculo), pelo que não estão longe umas das outras – e, curiosamente, o ambiente é tranquilo, não ouvimos as conversas do lado e o conforto é a nota principal.

Antes de avançar, um destaque para o serviço, que foi exemplar desde o primeiro minuto. Eu sou uma cliente chatinha, das que querem saber coisas (ingredientes, histórias, sei lá) e nunca compreendo por que diabo se considera, ainda, neste país, que qualquer pessoa com bracinhos e perninhas pode servir à mesa – porque não pode. Ou não deveria. Um empregado de mesa tem de ser formado no sentido de saber explicar aos clientes o que estão a comer: como se chama, de que modo é feito, qual a sua história – eu como com muito prazer e gosto muito de conhecer (também) o que como. E aqui, no Michizaki, tudo é explicado como se não percebêssemos nada do assunto – mesmo porque a verdade é que não percebemos.

Assim, soubemos que há uma ementa para cada estação do ano, toda ela com cerca de duas dezenas de pratinhos em formato de petisco (mais sushi e sashimi, em variações diversas), já que a filosofia é a da partilha – e foram-nos aconselhados cerca de 4 itens por pessoa. Absolutamente avassaladas pela carta, aceitámos imediatamente a ideia de nos ser servido o que o Chef bem entendesse – e, nesse caso, só temos de dar conta de algum tipo de intolerância alimentar (ou preferência), para que não haja surpresas. Como eu e a MBC somos de boa boca e a AC e a SF só intoleram coentros (que ali não se usam), foi só dar início ao festim, que não demorou um par de minutos a ser encetado.

Juro que, nesta altura, tinha intenção de apontar o que comíamos, por ordem cronológica, mas depois percebi que tal só me traria dissabores, porque acabaria por perder tempo quando havia ali tanto para desfrutar e, concomitantemente, ninguém quer ler tanto detalhe. Por isso, permitam-me que resuma: começámos com Nigiri de Barbatana de Pregado (nesta altura ainda estava a apontar, bem entendido), que teve duplo (bom) sabor, porque não só foi uma oferta da casa como se tratou do melhor nigiri que alguma vez me foi dado a provar: o arroz é perfeito, com o toque avinagrado certo, e a conjugação de sabores não poderia ser melhor (palmas para o peixe, tão fresco que só lhe faltava estar vivo). Logo depois, aquela que foi, consensualmente, a estrela da noite: os Onigiri são uma espécie de bolinhos de arroz triangulares, recheados com camarão grelhado e maionese japonesa (bem picantes, como se quer) e envoltos numa alga, que permite que comamos tudo à mão – garanto-vos que isto é iguaria dos deuses. Depois, foi um desfilar de 14 pratos (pelas minhas contas) que só mereceram revirares de olhos (que constituem os melhores elogios, quando se está de boca cheia) e uns breves segundos de trocas de impressões entusiásticas, até que nos trouxessem a próxima iguaria – e também nisso o Michizaki é exemplar, porque não houve, jamais, tempos de espera. O sashimi e o sushi servidos também foram do melhor que já comi, os Shitake Batayaki (cogumelos shitake salteados em manteiga e molho de soja) são tão bonitos que até custa comer e, quando se desgustam, são tão bons que apetece bater palmas, como nos concertos – e tudo o mais que nos foi trazido encantou plenamente (incluindo a Sangria de Saké, de que bebemos duas jarras e que nos soube pela vida).

Juro que poderia estar para aqui mais não sei quanto tempo a relatar o bem que tudo nos soube – mas não quero ser mete-nojo, pelo que me resta sugerir que vão ao Michizaki, ó amantes da boa gastronomia japonesa. Não sairíamos sem provar as sobremesas e optámos por duas, que dividimos: a Tempura de Gelado (rolo de gelado de nata em capa de cereais e calda de chocolate) não só é belíssima, encimada por uma grade de caramelo solidificado, como foi a que melhor me soube; o Anmitsu (doce de feijão azuki, gelado de chá verde, frutas da época, gelatina kanten e calda de açúcar mascavado) é coisa mais saudável e, naturalmente, não me caiu tanto no goto, mas reconheço-lhe a categoria.

Nesta altura, apesar de me apetecer ficar ali a morar para sempre, era já tempo de pedir os cafés – e até aqui o serviço se manifestou exemplar: porque demoraram mais do que o normal a trazê-los, ofereceram-nos. E isto é um gesto de cortesia infelizmente raro, mas que vale tudo, sempre. De resto, tenho de aplaudir esta equipa, que é quase uma família, pelos laços de amizade e parentesco que os unem: ao contrário provavelmente da maioria, eu acho que trabalhar com amigos e familiares pode ser péssimo – e aqui mostram-nos que não e que a competência é contagiosa.

Um único reparo: gostaria que todos os petiscos fossem pensados para serem servidos em número exato (ou múltiplos) dos convivas que estão na mesa, para não surgir aquela situação confrangedora de sobrar uma ou duas peças e estar tudo encavacado, a ver quem se atira a ela – não foi o nosso caso, porque nos conhecemos bem, mas poderia ser.

De resto, 32€ por tão bons apetites pareceu-me preço absolutamente justo – e só penso em voltar, para a ementa de Outono. (Nota: ao almoço, o Michizaki disponibiliza as chamadas Bento Boxes, em três versões: a vegetariana, a de carne e a de sushi, sendo que todas incluem sopa miso, e água ou chá.)

Michizaki | Braga
5 / 5 Carapaus
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Positivos
  • Todos os petiscos
  • O serviço
  • A sangria de saké
  • Negativos
  • Os pedaços, em cada petisco, não serem múltiplos de 4
  • Resumo
    A gastronomia japonesa está longe de se cingir ao sushi (muito menos o de fusão) e o Michizaki é excelente embaixador dos sabores nipónicos: vale a pena ir a Braga, só para conhecer este estaminé.
    Serviço5
    Comida5
    Preço/Qualidade5
    Espaço5
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    Michizaki | Braga

    Morada: R. Dom Frei Caetano Brandão 169
    Localidade: Braga

    Telefone: 253 086 587
    Horário: Ter a Qui – 12:30 às 14:30 e 19:30 – 23:00 | Sex e Sáb – 12:30 às 14:30 e 19:30 – 24:00
    Aceitam reservas? Sim

    Data da Visita: 7 de Julho de 2017

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