
Passámos o Teatro da Trindade, que tinha um considerável ajuntamento de pessoas giras à porta e, ao desfazer a curva já se encontra o largo de bonitas fachadas, recém-remodelado. De um lado o Café Royal com a sua charmosa iluminação “de Natal” no toldo preto, ao fundo o Chiado cheio de transeuntes e, à nossa direita, La Parisienne. Podíamos, de facto, muito bem estar em Paris.
[adrotate banner=”11″]A sensação mantém-se ao entrar no restaurante, com excepção de serem 20h e sermos praticamente as primeiras a chegar, o que contraria a alegada tradição francesa de jantar à hora do lanche. Um empregado de camisa slim fit e gravata estreita preta dirige-se a nós. Tem muito boa pinta, sorriso muito fácil, é cerimonioso e, para nosso deleite, faz biquinho a falar português num carregadíssimo sotaque francês. Estamos em Abril, o Verão está aí e estamos numa rigorosa dieta que impossibilita sequer pensar em mais de metade da carta, entretanto facultada. Vamos debatendo a nossa limitação e o facto de dispensarmos as apresentações dos pratos pelo nosso anfitrião: a minha amiga é luso-francesa e eu tive em tempos o privilégio de privar com a gastronomia em casa. Ele anima-se com a informação e vai explicando que todo o staff é francês e a maioria dos clientes do restaurante são conhecedores da sua causa: ora turistas, ora da grande comunidade a residir em Lisboa incentivada por benefícios fiscais. Falamos com ele, educadamente, de política e de formas de estar em sociedade enquanto se vai fazendo o pedido. O atendimento é igualmente personalizado nas outras mesas, cujos convivas vão chegando, e verifica-se que o idioma é mesmo o de Napoleão.
Com a tagarelice quase nos esquecemos que viemos jantar, e eis que chega a entrada: Rilletes de Porc, acompanhadas de Cornichons e Baguete finamente fatiada. Simples e delicioso. Os pratos principais foram uma Salada com Chèvre panado, que não estava na carta, e Filet de Bar et Ses Petites Légumes Bio Pôelé, isto é: robalo com legumes biológicos. A salada, delicadamente apresentada, é boa mas já se comeu melhor chèvre por esse Portugal fora. Quanto ao robalo, não tenho qualquer queixa: desde a temperatura à quantidade, os legumes no ponto e o tempero irrepreensível, tudo esteve bem. A dieta permite uma sobremesa, e optamos pelos Profiterolles Au Chocolat – feitos ali, como tudo o resto. Além de o chocolate ser de leite, pouco espesso mas cremoso e de o recheio dos profiteroles estar soberbamente gelado, é servido com zestes de lima, que combinam na perfeição. A sobremesa é de chorar por mais, sobretudo se for para partilhar…
[adrotate banner=”11″]Olhando às partes: o espaço é interessante, o serviço é praticamente perfeito, a ementa é completa, a comida é boa. Fazendo o somatório, a experiência não tem pouco para ser marcante e para a mesma gama de preço (30€ por pessoa, a partilhar entrada e sobremesa e sem bebidas) este é um restaurante facilmente substituível. Só que, como sempre, o todo é diferente da soma das partes, e a experiência é uma coisa muito pessoal: para uma luso-francesa o lugar passa a ser obrigatório e para mim, que alimento um sonho/capricho de um dia (ou dois vá) trabalhar num charmoso café nas margens do Sena, valeu! Aqui por momentos senti que era igualmente giro se fosse em Lisboa, com o Tejo lá ao fundo, e estimo estes sítios que, além de uma refeição ou qualquer que seja a experiência proporcionada, nos levam a colocar as coisas em perspectiva. Dos que fazem cócegas na inspiração, e abrem o campo das possibilidades. E se…