Foi a convite da Zomato que fomos conhecer o DeCastro Gaia, um restaurante situado no terceiro piso do edifício Porto Cruz, mesmo ali no Cais de Gaia – que raramente elejo como destino, pela grande afluência de turistas e locais, o que torna complicado sobretudo o estacionamento. A ideia, promovida pelo restaurante, era a de dar a conhecer o espaço e a oferta gastronómica e vinícola a alguns bloggers e foodies da cidade, por forma a transformar-nos em veículos de comunicação – o que é sempre uma boa medida. Evidentemente, fazemos questão de clarificar que se tratou de um convite, porque a experiência nunca é tão realista como aquela que teríamos, se lá fôssemos por nossa conta e risco (a começar pela ausência de conta para pagar, não tenhamos ilusões, e a terminar na quantidade de pratos provados).
Seríamos cerca de vinte pessoas e, depois de um belíssimo Porto (eu não sou de todo fã da beberagem, mas soube-me muito bem), houve lugar a uma visita guiada pelo edifício Porto Cruz (um espaço belíssimo, quer por dentro quer por fora), a cargo do gerente do espaço. Os vários pisos oferecem diferentes espaços, com múltiplos objetivos: começámos pelo terraço, no quarto piso, de que naquele dia, graças a um tempo menos simpáticos, não pudemos usufruir na sua plenitude, mas que aposto ser divino em dias de sol, sobretudo ao fim da tarde (a vista para o rio e para o Porto é soberba); depois, no rés-do-chão, há uma loja direccionada para as compras turísticas (vinhos da casa e outros produtos nacionais, como compotas e outras delicatessen); também há uma sala que oferece pequenos filmes, em vários línguas, sobre o douro e os vinhos, assim como um auditório para grupos médios e salas de provas de vinhos (e de refeições para grupos). De resto, quanto a este último ponto, apraz-me saber que se organizam provas de vinhos para grupos de um mínimo de meia dúzia de pessoas, com direito a uns queijos e tudo, pela simpática quantia de 7,50€.
Depois do périplo que nos permitiu conhecer, até, a interpretação de alguns estilistas portugueses do conceito “mulher de negro”, a imagem da empresa Porto Cruz (e logo no rés-do-chão está um modelito de Ana Salazar que vestiria sem hesitar), era tempo de passarmos aos comeres e aos beberes – afinal, o que ali nos levara. E tivemos a sorte de, naquele dia, o DeCastro estar a receber a visita de uma delegação do Governo Regional dos Açores, que lhes levou o primeiro de muitos queijos São Jorge que ali morarão, diariamente, numa parceria que esta amante de queijos adora. Houve lugar a prova, que incluiu umas compotas absolutamente deliciosas, também.
Uma vez sentados, foi-nos apresentado o intuito do menu (à base de petiscos, para que pudéssemos experienciar o máximo de sabores), bem como a filosofia da empresa Porto Cruz, sobretudo no que toca aos vinhos, pela voz do seu responsável máximo, Jorge dias. A partir daí, foi um festim para os sentidos, desde logo a começar pelo couvert, que incluía uma pasta de tomate muito saborosa, um paté de fígado gostoso (nunca o pediria, mas não pude deixar de o provar) e um pratinho de azeite, acompanhados por três tipos de pão do bom. Logo depois, (re)começámos pelos peixes e, nessa categoria, tivemos: Filete de Cavala Fumado com Puré de Batata Doce, Rúcula e Pickle de Cebolaroxa (fantástica abertura); Lascas de Bacalhau Confitado com Escabeche de Cebola e vinho do Porto, Emulsão de Bacalhau e Azeite e Agrião (que até eu, que não sou apreciadora de bacalhau, gostei, sobretudo porque tínhamos o peixe muitíssimo bem demolhado); e Polvo com Maionese de Alhada (sendo que este foi o meu eleito, sobretudo pelo modo como estava cozinhado: ligeiramente crocante por fora e singularmente macio por dentro).
Depois, numa espécie de intervalo, vieram umas Trouxas de Queijo das Beiras e Mel (em massa filo, com salada), que estavam tão boas que não resisti a comer a minha e a da conviva do lado, que não gostava de queijo. Para limpar o palato, foi-nos oferecido uma bola de Gelado de Limão com Porto Branco e Rosmaninho, que não achei que estivesse bem conseguido, dada a função a que se destinava; já como sobremesa funcionaria, porque era doce o suficiente.
E era tempo de passar a mais uma ronda, desta feita a das carnes, ainda que alguns dos comensais apresentassem já sinais de pedido de tréguas – não era o meu caso, não temeis: enquanto houver comida, esta vossa criada tratará do assunto. O primeiro prato não era propriamente de carnes, mas aqui vai: os Espargos Biológicos com Ovo Cozido a Baixa Temperatura e Queijo da Ilha estavam boníssimos, ainda que a RV, a nossa especialista em culinária (e não estou de todo a ser irónica, ela sabe do que fala), tenha achado que o ponto do ovo não estava exactamente como deveria; depois, veio a Morcela da Beira com Maçã e Cebola Caramelizada – e eu, que nem gosto de morcela (é das poucas coisas que normalmente não como), lambi os beiços, de tão saborosa que estava; finalmente, uns nacos de Vitela Maronesa com Molho à Portuguesa, servidos com Açorda de Cogumelos e Enchidos – e se a carne estava satisfatória, a açorda configurou-se, para mim, a melhor das surpresas da noite.
Nesta altura, até eu já me sentia ligeiramente cheia, mas dizer que não à sobremesa constitui pecado capital, no meu livro de regras de conduta, pelo que foi com entusiasmo que abracei o pratinho que trazia Bolo de Chocolate sem Farinha com Praliné de Avelã (o bolo faz lembrar o da Ribeiro e não é bem o meu género, o praliné era coisa dos deuses) e Toucinho do Céu (dos melhores que já me foram dados a provar) com Gelado de Porto Tawny 10 ano, de que não gostei particularmente, porque não gosto de gelado com este sabor. A título de curiosidade, o Toucinho costuma ser servido com gelado de framboesa.
Não referi, mas toda a refeição foi sendo acompanhada por diferentes vinhos: primeiro, Porto d’Alva 10 anos, depois um branco monocasta, um branco blend (o meu preferido, de toda a refeição), um tinto blend (idealizado pelo Chefe Miguel Castro Silva)e outra vez Porto, para encerrar, ao que se seguiu o cafezinho da ordem (descafeinado para mim).
Esta seria a altura de ficar à conversa, a desmoer o magnífico repasto, mas o facto de estarmos a meio da semana não o permitiu, infelizmente. Ainda assim, viemos com a memória de um serão gastronómico belíssimo (que gradecemos, tanto à Zomato quando ao DeCastro), e a certeza de que o DeCastro é o sítio ideal para levar os amigos que nos visitam na Invicta, e para regressarmos, num fim de tarde soalheiro, para reviver os bons apetites e as boas vistas.
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