
Há já muito tempo que esta incursão estava pensada: fartava-me ver, tanto no Facebook como na Zomato, fortíssimos elogios a esta “tasca japonesa” pensada por uma portuguesa e sita em plena zona dos restaurantes, em Matosinhos (numa ruela que liga a Serpa Pinto à Heróis de França, já lá em baixo, perto do porto). Na verdade, e sobretudo para quem anda nestas lidas da comida e da bebida há já algum tempo, por sistema, tem sido muito difícil encontrar restaurantes que sirvam bom sushi a um preço não disparatado, pelo que foi sem grandes expectativas e muita vontade de ser positivamente surpreendida que desafiei a CP para lá irmos fazer um dos nossos almoços-mais-ou-menos-mensais.
Marcámos a coisa para as 13h30 de uma quinta-feira e, apesar da hora mais tardia, não me foi fácil arranjar estacionamento: tive de dar umas voltas e estacionar a uns duzentos metros, o que foi bestial porque o dia estava bom e o sol quentinho. Mas à noite não será tão complicado, por exemplo, para além de que a estação de metro de Brito Capelo não fica longe.
O espaço, que quase me passou despercebido mesmo passando-lhe à porta, é pequenote mas simpático, embora (ainda) pouco característico; em conversa com a proprietária, percebi que há planos para o personalizar a curto prazo mas, de todo o modo, tenho de destacar o bonito chão de madeira, o verde-alface das casas de banho, os frasquinhos em que é servido o molho de soja e os dominós presentes em todas as mesas (o que me fez lembrar do meu avô paterno, com quem eu e o meu irmão jogávamos horas a fio, em miúdos). Creio que com mais uns toquezinhos, o espaço ficará ainda mais acolhedor, destacando-se numa rua fria e pouco atraente.
Fomos recebidas e conduzidas à mesa que havíamos reservado (é algo que aconselhamos, sempre que possível, seja qual for o estaminé em questão) e, já sentadas, rapidamente seleccionámos um dos três menus de almoço à disposição da freguesia: o Menu 1 oferece, por 10,90€, sopa Miso, 12 peças de sushi/sashimi, bebida e café; o Menu 2 (a nossa opção, por 12,50€) tem como entradas dois mini-crepes de legumes, sunomono (salada de pepino e sementes de sésamo, temperada com vinagre japonês), 16 fatias de sushi/sashimi e, claro, a bebida e o café; o Menu 3 só se diferencia do anterior porque permite escolher entre a sopa e os crepes e oferece um Temaki em vez da sunomono – tudo o mais é igual menos o preço, que se atira para os 15,50€. Claro que, para além disto, há a carta, com carradas de opções (basta que verifiquem a nossa galeria de fotografias).
Enquanto nos deliciávamos com as entradas, sobretudo com a saladinha de pepino, que eu adoro e que a CP passou a adorar, íamos abrindo caminho para o prato principal: gosto sempre desta coisa de ser agraciada por uma selecção-surpresa do sushi-man (rapaz novo e simpático, que estava ali mesmo, atrás do balcão) e de não fazer ideia do que me vai calhar em sorte – claro que nem sempre corre bem mas, desta vez (como de tantas outras, nos restaurantes de que mais gostamos), fomos não só surpreendidas como muitíssimo agradadas.
Tirando dois makis vegetarianos, que nunca aprecio particularmente mas que, por acaso, até estavam gostosos (a qualidade do arroz e da alga usada também é determinante) mas nunca me encantam, todas as peças estavam uma absoluta delícia e algumas delas (nomeadamente as que tinham a petinga a encimá-las) eram mesmo originais, o que vai sendo cada vez mais raro. Também me agradou o sashimi: o salmão era fresquíssimo e a dourada (ou seria robalo?) uma mais-valia para quem está cansado de atum, raramente de qualidade, nas chafaricas de preços similares que nos têm sido dadas a conhecer. De resto, tudo aqui aponta para valores bem mais altos, se atentarmos nas coisas boas que nos são servidas – e não, não estamos a querer dar ideias à gerência nem estragar o que é bom e tem bom preço, mas em termos comparativos a verdade é esta.
E foi com esta impressão positiva que, ainda que abandonada pela CP na empreitada (tudo por amor aos Carapaus, que eu nem gosto de doces nem nada), decidi pedir uma sobremesa. Lembrava-me vagamente do que tinha lido na carta, antes da refeição mas, ainda assim, decidi pedir conselho à Ana, a simpática proprietária, que me indicou a Cúpula de Chocolate como sendo um dos ex libris da casa, criado por si (e cujo conceito inevitavelmente me remeteu para a célebre sobremesa do The Ivy, em Chelsea, Londres, embora com ingredientes diferentes e a uma fracção do preço disparatado que por lá se pratica). Trata-se de uma bola de chocolate belga rígida (como se fosse um ovo Kinder), com gelado de baunilha por dentro, que é derretida quando se lhe despeja o mesmo (magnífico) chocolate derretido por cima. A coisa torna-se numa espécie de “sopa” de baunilha e chocolate, rodeada por fatias de morangos. Custa 6€, o que não é propriamente barato, sobretudo naquele contexto, mas valeu cada cêntimo, abençoada.
E foi assim que, por 12,50€ (a CP) e 18,50€ (aqui a glutona), descobrimos mais uma chafarica que serve comida japonesa de qualidade e a preços justos e adequados ao bolso de uma classe média depauperada (a que pertencemos) – o que vai sendo cada vez mais raro e, por isso, merece todo o nosso agradecimento e aplauso. Voltaremos, por certo.
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