Tudo começou com um artigo publicado na Notícias Magazine do passado fim de semana, “100 Coisas que o Porto Tem“, onde figurava uma centena de itens que, segundo os jornalistas responsáveis, diferenciam a Invicta e fazem dela a cidade que mereceu o título internacional de Melhor Destino Turístico de 2013. Os Carapaus haviam já decidido dedicar as quatro incursões ordinárias do mês de Junho a restaurantes da Baixa e A Cozinha do Manel, que constava de tão distinta lista, parecia ser uma óptima forma de encetar a epopeia (apesar de, pela primeira vez, termos o Cardume desfalcado em 33%, porque elas não matam mas moem e nem todos os estômagos são de ferro: põe-te fina depressa, RV!).

Ora, como é nosso uso, se um diz mata, o resto diz esfola: estava o primeiro restaurante seleccionado e não se falava mais nisso, mesmo porque toda a literatura online sobre o assunto apresentava o estaminé como muitíssimo recomendável, praticamente um ex-libris da (boa) comida portuguesa que se confecciona a Norte do país.

A Cozinha do Manel | Exterior
O exterior

A Cozinha do Manel fica na Rua do Heroísmo, quase em frente à entrada do Metro, não havendo estacionamento se não na rua; felizmente, à hora de jantar, não é difícil parar o carro no quarteirão que começa no Centro Comercial Stop e acaba junto à Polícia. Trata-se de um estabelecimento discreto, que mal se identifica se de passagem, embora lá dentro a conversa seja outra: a sala (relativamente pequena) estava apinhada e um grupo que chegou à nossa frente teve de aguardar mesa, provavelmente porque não fez o que os Carapaus aconselham que se faça sempre, desde que possível, em qualquer estaminé: reserva prévia, vinte e quatro horas antes, sobretudo quando se trata de grupos de mais de duas pessoas.
Entrados no restaurante, somos deparados com uma sala-corredor em que a decoração (rádios antigos e outras peças dignas de admiração) se mistura com a parede da fama: à direita, sobre a pedra, dezenas de molduras com os ilustres que já visitaram a Cozinha do Manel, acompanhados do dono ou sozinhos. E a verdade é que aquilo funciona quase como um convite à identificação: de jogadores de futebol a cantores de todos os tipos, de (ex-)presidentes vários (da República, de autarquias, de clubes) a estilistas, de personalidades que só se vêem na revista caras a encenadores e actores, há ali de tudo (até um ex-primeiro ministro com nome de filósofo e a tentar fazer-lhe jus) – sendo que é impossível não sentir qualquer coisa como “se o Zé Pedro dos Xutos foi feliz aqui, eu também vou ser”.

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Aguardava-nos o dono que, sem grandes laivos de simpatia (cremos que é o que sucede à maioria dos que têm já casa feita e recebem anónimos que não cabem na “parede da fama”), nos indicou a mesa que nos era destinada, redonda (e nós gostamos de mesas redondas); preparávamo-nos para uma agradável refeição, em que todos estão frente a todos, quando nos apercebemos de que o barulho presente na sala era quase tão ensurdecedor como o de uma discoteca: tínhamos de falar em voz muito alta, para nos darmos a entender uns aos outros, o que não é propriamente agradável. A clientela d’A Cozinha do Manel não é feita exactamente de jovens em busca de experiências gastronómicas daquelas que marcam este estaminé; de resto, devíamos ser a mesa com média de idades mais baixa: os Carapaus AA e AV, a costumeira DB, a reincidente LB e a estreante MAA.

Mal nos instalámos, foi-nos trazida a carta com os pratos disponíveis que, não sendo muitos (três de carne, cinco de peixe) nem propriamente leves, são o bastante para agradar a gostos vários: nós optámos por vitela assada para três (AV, DB e LB), filetes de polvo com arroz do mesmo para a AA e tripas à moda do Porto para a MAA, regados com o vinho verde da casa, que nos foi garantido (ainda pelo proprietário) ser bom. Convidados a escolher entradas (para além das carcaças de mistura, algo secas, e da broa de Avintes, que nunca deixa os seus créditos em mãos alheias, que repousavam já na mesa), o AV pediu “uns enchidinhos”, pelo que nos foi trazida uma morcela grelhada com alho (que estava boa e sequinha, sem ponta de gordura), uma alheira assada divinal (com pedaços de carne encontrados amiúde) e uns croquetes muitíssimo saborosos.

A Cozinha do Manel | A vitela
A vitela

Passados aos pratos principais, mantivemos o vinho e tirámos as nossas impressões: enquanto as tripas e o polvo apresentavam quantidade bastante para aniquilar a fome mesmo de um peixe com muito apetite (ou dois!), como é o nosso caso, a vitela, servida em recipiente de barro, pareceu-nos, logo à primeira vista, ser em quantidade manifestamente reduzida para três (e mais uma vez se confirma que o pedido de várias doses do mesmo nunca é satisfeito como a mono-dose). Mas avance-se para o que importa! As tripas, em tacho de barro e acompanhadas por arroz com nacos de carne e enchidos, não desiludiram mas também não deslumbraram; o polvo, servido em travessa com pano de algodão para absorver excessos de gordura, estava bom e era em quantidade que alimentaria dois (para se fazer frente a isto, optou-se por não comer o arroz que, embora saboroso, estava algo seco; esperava-se algo mais “malandrinho”); a vitela, como se esperava, e apesar das meninas não serem de grande sustento, soube a pouco, apesar de as batatas estarem agradáveis e o arroz de forno não ter recebido queixas (já o esparregado ficou quase todo, por “saber a congelado”, nas palavras da LB e, quanto a mim, ser algo farinhento).

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Numa coisa fomos unânimes: já todos comêramos algo semelhante ao que ora saboreávamos, na cidade do Porto, mas melhor – o que se afigura como estranho, se pensarmos que estávamos num restaurante de referência em termos de cozinha nacional na Invicta, de tal modo que é visitado por quem por cá passa como se fosse monumento. Por outro lado, o serviço também não nos deslumbrou: algo abrutalhado, sem atender a regras básicas (o vinho servido a todos de um único ponto, o toque no braço e o “passe-me aí o prato”, como se estivéssemos numa cantina e o “eu já ia dizer!” quando, incitados a pedir sobremesas, manifestámos a nossa estupefacção por da ementa só constar fruta) e ausente de qualquer resquício de simpatia ou requinte, foi o golpe final para que questionássemos as maravilhas que se dizem sobre o estaminé em questão.

Balanço feito, e apesar da qualidade de todos os ingredientes usados na confecção dos pratos pedidos e saboreados, a verdade é que o Cardume não ficou marcado pel’A Cozinha do Manel. Se calhar o problema é nosso (sê-lo-á, certamente, não somos especialistas, apenas gente que gosta de comer e de contar como foi – ou seja, representaremos pelo menos três quartos da clientela de qualquer restaurante) mas nunca lembraremos este restaurante quando falarmos, entusiasmados, das nossas incursões a amigos e fregueses: não comemos de mais nem de menos, os sabores não eram maus mas também não marcaram pela diferença e, sobretudo, não seremos remetidos para esta experiência quando recordarmos “o melhor sítio” onde comemos tripas, vitela ou filetes de polvo.

Com as sobremesas, o mesmo: apresentadas as ditas (para além da fruta que constava na ementa, optou-se por uma mousse de chocolate caseira (talvez com excesso de manteiga, diz o especialista em mousses AV) e quatro doses de “bolo de laranja com recheio de morangos e chocolate” que se revelou, afinal, uma torta-tipo-pudim demasiado confusa em termos de sabores. Ou seja: não estava má… mas também não era grande coisa. Para além destas, apenas bolo de chocolate e um leite creme que vimos existir mas que não nos foi indicado como opção.

No final, a conta: 22,50€ a cada, o que não é propriamente barato, mas também não é caro. É mais ou menos. Assim-assim. Perfeitamente “esquecível”, rematou o AV. E eu (como o resto das comensais) assino por baixo.

Cozinha do Manel

Morada: R. do Heroísmo 215, Porto
Telefone: 225 363 388
Horário: Seg a Sáb – 12h30 às 15h00 | 19h00 às 24h00
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