Nesta altura do ano, as refeições de Natal multiplicam-se – e não falo necessariamente de grandes grupos ou de jantares lá do sítio onde se trabalha, mas tão só aquela coisa de termos de nos encontrar com amigos para trocar presentes de Natal e optarmos por fazê-lo à mesa, enquanto se degustam novos ou velhos sabores, que é sempre a melhor forma de se fazer a maioria das coisas.
Eu e a ES fomos ao Pisca num dia de sol do quentinho: o rio estava lindo e nada mais apetecia do que tratarmos da fome num espaço com vista para a água – e porque o prevíamos, tratámos de escolher o Pisca, que o AG me recomendara há séculos e que trazia na minha infinita lista dos “a visitar” desde então (não há probabilidade alguma de um dia acabar com a dita lista, dada a miríade de novos e convidativos espaços que abrem por aí). Obviamente, fizemos a reserva com alguns dias de antecedência – prática que aconselhamos por regra, mas reforçamos em épocas festivas.
Esperava-nos uma mesa com vista para o Douro (conforme nos fora prometido ao telefone, aquando da reserva), no primeiro andar, que preferimos à esplanada – não porque esta não pareça convidativa, mas porque, no Inverno, não gosto de arriscar, mesmo com sol. Ao redor, grupos maiores ou mais pequenos antecipavam o dia de Natal, entre trocas de presentes e comemorações, quem sabe anuais, em que se festeja a vida e a amizade – e tudo aquilo para que o Natal serve como (bom) pretexto.
Uma vez instaladas, foi-nos trazido o couvert, constituído por pão de água fofo e uma mistura de bom azeite com belíssimo molho pesto – combinação simples mas sempre vencedora, se os ingredientes forem de boa qualidade, como eram. Depois tratámos de escolher o vinho (Evel branco, fresquinho e mantido em balde de gelo – coisa sempre segura) e os petiscos que nos aprouve, como se segue.
Abrimos hostilidades com uma Tábua de Queijos, acompanhada por tostinhas caseiras e doce de abóbora, que nos soube pela vida, já que, ambas queijeiras assumidas, apreciamos todos os tipos que se nos ofereceram, a saber: gorgonzola, queijo da Ilha e queijo de ovelha amanteigado. Logo de seguida, degustámos um Pisto, que consiste numa espécie de refogado de ovo, tomate e pimento, novamente com queijo, que é coisa que nunca enjoa, e acompanhado pelas mesmas tostas caseiras. Em terceiro lugar, uns Ovos Rotos, combinação sempre ganhadora. Finalmente, uma Tempura de Gambas e Cebola (em tamanho mini), que só me desgostou porque os pedaços de gambas eram pouquíssimos e os de cebola de qualidade menos que mediana.
Não querendo terminar nesta nota menos positiva, atirámo-nos à sobremesa, sendo que desprezámos as da carta (não porque nos pareceram más, ressalve-se) e aceitámos a sugestão das do dia, que pareciam ótimas, mas não nos encantaram. Por um lado, uma Tarte de Chocolate Crocante, de pouca crocância e pouco sabor e, por outro, um Crumble de Banana, a priori arriscado, porque eu não sou grande apreciadora do fruto – e que se revelou entre o enjoativo e o sensaborão ( o que parece contraditório mas garanto que não).
Ainda assim, o cômputo geral foi muito positivo e o Pisca caiu-me no goto, ficando registado para as muitas vezes em que me apetece comer qualquer coisa para aqueles lados. Depois do café, a coisa ficou em cerca de 25€ por estômago, o que me parece muito razoável, tendo em conta os bons apetites e a vista (que também se paga).
Pisca Restaurante | Porto
4.6 / 5Carapaus
{{ reviewsOverall }} / 5Cardume(1 voto)
Positivos
A vista para o Douro
O conceito
Negativos
As sobremesas
Resumo
Na Foz do Douro e com vista privilegiada para o rio, o Pisca é sítio elegante e convidativo para quem gosta de bons petiscos, num espaço atraente, com bom serviço.
Foi num fim-de-tarde de muito calor, depois de um dos melhores dias de praia do ano, que se empreendeu esta incursão dupla não planeada: havia teatro e, já que se ia para a baixa, a ideia era tirar mais um estaminé da nossa imensa lista dos “a visitar”.
Escolhemos o Ó Maria, não apenas porque era um dos inclusos nessa enorme lista de intenções, mas também porque somos fãs assumidos desta nova vaga de restaurantes de fast-food-gourmet (categorização de nossa inteiríssima responsabilidade e sem qualquer rigor) e do que neles vamos apreciando. E o conceito deste, em particular, chamou-nos a atenção: a ideia é servir mini-sandes, para que se possa provar de mais do que uma, todas elas com nomes de Marias famosas e, ainda por cima, há menus que tornam a coisa mais baratinha (ao almoço, com certeza, mas também no resto do tempo).
O Ó Maria não nasceu, enquanto tal, há muito tempo (é de 2016) e situa-se na Rua da Conceição (mesmo na esquina com a Rua das Oliveiras/Rua General Silveira), tem na vizinhança próxima inúmeros outros estaminés que estão a dar brado (assim de repente, o Élebê, o Sins ou o Flow) e ocupa o espaço generoso daquilo que foi, em tempos, uma loja de móveis, de que herdou um aspeto algo industrial e despojado que lhe dá um charme especial. Gostei particularmente do pormenor de terem mantido a parede do fundo com um ar inacabado, com o cimento a não cobrir todo o tijolo, bem como da cave, onde se situam as casas de banho, que é tal qual um armazém cinzento – no melhor dos sentidos.
Marquei mesa, ainda da praia, porque não tinha a noção do afluxo de clientela num dia como aquele mas vim a verificar que, porque decidíramos jantar ainda antes das 19h30, tínhamos quase todas as mesas (lá dentro e mesmo na esplanada, que tem duas frentes) por nossa conta. De todo o modo, é sempre preferível prevenir, mesmo porque acredito que, umas horas mais tarde e/ou noutro(s) dia(s), fosse bem diferente.
Rapidamente nos foi dada a escolher uma mesa pelo, àquela hora, único funcionário de serviço à sala e esplanada (haveria de chegar outra, pelas 20h); dentro do balcão, uma rapariga e dois rapazes (estes dois, claramente dedicados à construção das sandes, sendo que há um espaço de cozinha na cave, de onde chegam algumas coisas, por via de um mini-elevador) compunham o ramalhete de staff disponível às 19h15. Trazido o menu, a escolha não foi complicada: queríamos duas trilogias (três Mariazinhas + sopa ou batatas), sendo que uma viria com sopa e outra com batatas e, para beber, uma maracujada (para mim) e um fino.
As bebidas vieram de imediato e foi com gáudio que verifiquei que a limonada de maracujá não continha açúcar e a mescla era agradavelmente fresca e saborosa. A sopa tardou mais um bocadinho e as Trologias de Mariazinhas foram francamente morosas, sobretudo se tivermos em consideração que o restaurante estava praticamente vazio – ou seja, fiquei curiosa com a eficácia em dias de casa cheia. Bem sei que se trata de arranjar seis sandochazinhas diferentes, todas com o seu requinte, mas ainda assim achei o serviço demorado – e, contudo, cordial e descontraído, sempre, como gosto em estaminés do género.
Mas enfim, lá vieram as Mariazinhas: para o outro lado da mesa, vieram a Maria Albertina (coração de alcatra, queijo cheddar, rúcula e molho de mostarda, em bolo do caco), a Maria Pia (lombo de javali, queijo de cabra, tomate confit e pesto em bolo do caco) e a Maria Guadalupe (frango confit, amendoim, molho de tomate e especiarias e rúcula, em pão de alfarroba); para mim, para além de umas batatas fritas às rodelas fininhas, acabadas de fazer, temperadas com ervas e servidas com molho de maionese (divinas, também pelo modo como são servidas fisicamente), vieram a Maria Madalena (hambúrguer de alheira, queijo de cabra, espinafres em alho e cebola caramelizada em pão de alfarroba), a Maria Callas (cogumelos shiitake, queijo philadelphia, ratatouille de legumes e tomate confit em vianinha com sementes) e a Maria Eduarda (lombo de salmão, cogumelos shiitake e legumes salteados em molho teriyaki, em vianinha com sementes).
E devo dizer, meus amigos, que estas seis Marias, sem exceção, fora, vivamente gabadas durante todo o ato de degustação: os nacos de carne e de peixe são mesmo nacos (grossos e suculentos), os legumes imensamente saborosos, as combinações vencedoras, os recheios muitíssimo generosos e o pão… oh, caramba, o pão (de todos os tipos provados) é de outro mundo de tão fresco – e eu sou uma esquisitinha com o pão (que adoro), em casa como fora: só gosto do que é claramente fresco.
Vai daí, a visita ao Ó Maria é recomendadíssima por nós, sobretudo para quem gosta do tipo de comida: a localização é estupenda, o preço é amigo (sobretudo se optarmos pelos menus, que só têm vantagens: pagámos pouco mais de 11€ por pessoa) e o que lá se come é francamente bom.
Não provámos as sobremesas porque estávamos de olho na Amorino, gelataria já conhecida do Chiado, em Lisboa, mas que apenas naquela semana havia aberto portas, no Porto, na Rua de Santa Catarina (ali quem chega ao cruzamento com a Rua Formosa). Sempre gostei desta gelataria, não só pela variedade e originalidade de sabores como (e sobretudo, devo confessar), pelas waffles que servem, que são leves e crocantes, absolutamente deliciosas. Claro que a imagem de marca é o gelado servido em forma de flor, lindíssimo, mas desse nunca desfruto, porque nunca o peço servido em cone.
A afluência era assinalável, naquele princípio de noite de sábado: não seriam ainda 21h00 e o espaço, bastante pequeno e com dois punhados de lugares sentados (entre as mesas e um balcãozito) estava um bocado à pinha, pelo que a nossa ideia foi ir para a esplanada que, apesar de ser pouco apelativa (na verdade, são quatro mesas e umas cadeiras ali prantadas, em plena Santa Catarina, sem nada que delimite o espaço), sempre era mais arejada.
Infelizmente, o pessoal de serviço, embora certamente bem-intencionado, não é muito experiente, pelo menos no que toca ao produto da Amorino, o que levou a uma confusão com o caixa, que registou algo que eu não pedi: eu queria um waffle de caramelo salgado com uma bola de gelado e o tipo registou-me um waffle com duas bolas de gelado, alegando que “o topping é grátis e pode ser o que quiser”. Não era e não podia – mas salvou-me uma outra funcionária, que claramente dominava a cena (tanto no que toca ao serviço como à comunicação com os clientes e, sobretudo, em termos de conhecimento do produto) e que fez o favor de me servir o que eu pretendia (claro que paguei mais uns cêntimos, mas não é por aí que o gato vai às filhoses).
Depois de sentada, só tenho elogios a fazer ao que comi, mas quer-me parecer que, por exemplo, no Inverno, a Amorino será preterida em favor de muitas outras gelatarias que abriram na Baixa (apenas no último ano e meio, porque antes disso havia a Sincelo e pronto) e que têm lugares sentados e abrigados. Por outro lado, os seus preços também não são dos mais amigos, mas são os praticados pela marca em todo o lado: foram quase 9€ por um gelado de uma bola (que pode ter vários sabores, caraterística que adoro na Amorino) e um waffle com molho e uma bola de gelado.
E foi esta, minha gente, a crónica (já longa) de uma dupla incursão que nos proporcionou, como não poderia deixar de ser, excelentes apetites.
Ó Maria | Porto
4.5 / 5Carapaus
{{ reviewsOverall }} / 5Cardume(0 votos)
Positivos
As Mariazinhas
as batatas fritas
o espaço
Negativos
O serviço um nadinha demorado
Resumo
Mais um estaminé que oferece a nova-fast-food, daquela que dá gosto.
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Ó Maria | Porto
Morada: Rua da Conceição, 106 Localidade: Porto
Telefone: 223 295 805 Horário: Ter a Qui – 12:00 às 16:00 e 19:00 às 00:30 | Sex Sáb – 12:00 às 16:00 e 19:00 às 02:00 | Dom – 13:00 às 00:30 Aceitam reservas? Sim
No Zomato
Amorino | Porto
Morada: Rua de Santa Catarina, 222 Localidade: Porto
Telefone: 222 010 219 Horário: Dom a Seg – 10:00 às 24h00 Aceitam reservas? N/A
Uma das minhas grandes lacunas gastronómicas, no que à oferta da Invicta concerne, é(ra) o Cafeína (e, acrescento já, o seu mano Terra – mas tratarei disso em breve), circunstância que a Zomato, em parceria com o restaurante, fez o favor de alterar quando convidou os dois seres que põem esta chafarica em marcha para um almoço cujo objectivo era reunir alguns dos bloggers e foodies do Porto. Carapau AV, porque impossibilitado de comparecer, num dia útil, ao evento, passou a bola ao TD (um já habitué destas coisas). E lá fomos, ambos sem saber muito bem o que esperar, mas com a certeza de que, o que quer que fosse, seria bom. Read more
O desafio partiu da RV: a Porto Restaurante Week estava aí outra vez e era giro irmos experimentar um dos 32 restaurantes de gama média/alta (ou alta, vá, se pensarmos que em nenhum se come por menos de 25€, a atirar por baixo) que abrem as suas portas a quem queira aderir à iniciativa. Por 20€, que excluem bebidas, somos convidados a escolher entre (pelo menos) duas entradas, dois pratos principais e duas sobremesas, o que constitui oportunidade ímpar de conhecer estaminés a que o cidadão comum não vai sem fazer contas de cabeça ou, pelo menos, fora de uma ocasião especial. Desafio agarrado, portanto. Read more