Sabem aquelas relações que sabemos antecipadamente que vão dar certo mas que tardamos em encetar, como que para adiar o que achamos que vai ser do melhor? Ora pronto, foi justamente o que aconteceu entre mim e o Tascö – nem sei bem como é que este estaminé me entrou na vida, sei que alguém me falou dele, comecei a seguir-lhes a página no Facebook e foi assim uma espécie de atracção ao(s) primeiro(s) post(s). É que tenho este fraquinho por gente que faz as coisas como lhes dá na real gana, preocupando-se muito mais com quem se identifica com a sua forma de ser ou estar do que com os que vai desagradar justamente por ela – e, que diabo, que ganhamos nós em ser quem não somos, armados em comercialões, só para não incomodar quem tem o mau gosto de não gostar de quem somos?

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Demasiado confuso, não foi? Ok, avancemos, que estamos aqui é para falar de comida, ainda que, no caso do Tascö haja um marcado caso de (boa) filosofia por detrás do que se come e do que se bebe – e creio que os bons apetites não serão alheios a esse facto. Na verdade, o Tascö é obra de três homens na casa dos trinta, com formações que nada têm que ver com hotelaria ou gastronomia e que dão o corpo ao manifesto todos os dias, a partir das 19h (não há cá almoços, não senhores – e até nisso lhes acho graça, porque também eu acho que a hora de almoço é sempre demasiado cedo para se comer como deve ser), juntamente com mais um punhado de funcionários que parecem (e, adivinho, sê-lo-ão) tão da casa como os donos.

O ambiente por ali é uma mescla sadia: há portugueses e estrangeiros, portuenses e gentes de outras bandas, faixas etárias diversas e muita conversa e gargalhada (sem confusão, o que é curioso). Vá-se lá saber porquê, imaginava o espaço pequeno e não o é, de todo (são dois andares, sendo que o de cima é normalmente destinado a refeições de grupos maiores) – e, talvez por isso, achei que a existência de uma única casa de banho feminina para um restaurante daquela dimensão, cheio que nem um ovo (era dia de concerto do Rui Veloso na Avenida mas, ao que sei, o estaminé está sempre à pinha e ou se marca com antecedência ou bate-se com o nariz na porta): a fila às vezes era desencorajadora. A decoração carrega toda ela a mesma marca forte e de bom gosto que subjaz a tudo o que por ali pude apreciar e a média luz é acolhedora e convida à conversa – acompanhada, naturalmente, de bons comeres e bons beberes.

No que toca aos últimos, pouco posso dizer: fomos nos finos, que o dia era de canícula – mas vi passar vinhos para uma mesa de cerca de dez estrangeiros que me pareceram norte-americanos, mesmo ao lado. Quanto ao que se come, passámos os pratos principais (há bacalhau, bife e outras coisas bem lusas) e fomos directos para o que dá nome à chafarica: os petiscos em que somos tão versados (nós, os quatro comensais).

Enquanto íamos manducando o interior do cesto de pão (com broa, gressinos e pão caseiro), que acompanhámos de manteiga de alho e azeitonas belissimamente temperadas, fomos debatendo o que escolheríamos, sendo que, porque somos fáceis, chegámos rapidamente a conclusões. Infelizmente não havia moelas (lá terei de voltar para as provar), pelo que acordámos em que viriam para a mesa: polvo com molho verde, lulinhas panadas, alheira, pataniscas de bacalhau, bacalhau com grelos e broa, batatas fritas e uma saladinha mista, para disfarçar.

Pazinhos, não exagero nem um bocadinho quando vos digo que tudo, do início ao fim, só arrancou suspiros (entre mastigadelas) a todos. O polvo estava bom, a alheira era das bestiais, as lulas, acabadinhas de fritar, tinham o polme crocante e, regadas com limão, souberam a pitéu dos melhores, as pataniscas eram de bradar aos céus, de tão fofas, o bacalhau com grelos e broa parecia o que se come em casa da mãe (das com jeito para a coisa, que nem todas têm de tê-lo) e as batatas fritas eram iguaizinhas às da minha avó (às rodelas, com casca, sequinhas e salgadas, servidas em baldes de alumínio – tal como as que a avó E. fazia todos os Verões, para os netos). Uma maravilha.

No fim disto, já satisfeitos, ainda levantámos a hipótese de provar mais qualquer coisa, mas houve demasiadas desistências por parte de gente sensata para que a que tinha mais olhos do que barriga (eu, pois claro) prosseguisse com o dislate, pelo que passámos às sobremesas. E, caramba, não fazia mal que um tasco (mesmo que com a sofisticação do trema no O) fosse um bocadinho menos forte na área dos doces, se assegura um serviço eficaz e simpático, é capaz de nos fazer sentir da casa e serve coisas como as que degustáramos até então. Só que não: também nos doces a cozinha do Tascö (que creio ser dirigida pela dotada progenitora de um dos proprietários) é capaz de espoletar suspiros de deleite. Vieram duas mousses de chocolate, muitíssimo gabadas, um igualmente admirado cheesecake, e um bolo de chocolate com gelado de baunilha – e este provei-o eu: baixinho e húmido, ainda quente, casava maravilhosamente com o gelado caseiro e cremoso.

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Por esta altura, e porque nem sequer olhei para a ementa, o meu raciocínio estabelecera uma relação de qualidade/preço que atirava a conta para os 30€, pelo que quando, depois dos cafés e descafeinados (“cafezinho” e “estragadinho”, na nomenclatura genial da terceira pessoa que nos atendeu, que ali não há aquela coisa de as-minhas-mesas e as-tuas-mesas, embora se calhar até haja só que não se dá por isso), percebemos que pagaríamos 19€ por estômago (já com gorjeta), só me apetecia deixar abracinhos por duas horas tão bem passadas – e baratas.

É difícil, quando temos expectativas muito altas, que se lhes corresponda; mais difícil ainda é ultrapassá-las, pelo que, para mim, temos tasco de referência, no Porto: o Tascö. Só porque dali ninguém sai sem muitíssimo bons apetites.

Tascö

Morada: Rua do Almada 151, Porto
Telefone: 919 803 323 | 222 010 763
Horário: Seg a Dom – 19h15 às 01h00
Aceitam reservas? Sim

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