Confesso que o Miss’Opo não foi uma primeira escolha: a ideia era regressar à Cantina 32, na Rua das Flores, onde esta que vos escreve já foi muito feliz (foi no tempo em que os Carapaus estavam de molho e ainda não escrevemos sobre o espaço) – mas a coisa continua a bombar e estava cheia até cima. O problema foi que, como aquando da abertura o estaminé não aceitava reserva, acreditei que continuaria a operar do mesmo modo e, por isso, fui mesmo à maluca, sem marcar – e a verdade é que que nem para dois tinha lugar, tamanha era a enchente, a uma quarta-feira à noite, pelo que metemos a viola no saco (mas voltaremos e escreveremos, isso é certinho).

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Depois, tratou-se de deambular pelas redondezas e, numa noite anormalmente fria, encontrar sítio simpático e não muito distante: na Rua dos Caldeireiros, reencontrei o Miss’Opo, onde os Carapaus haviam estado nos seus primórdios e, assegurando-nos de que se serviam jantares, entrámos. Exceptuar-me-ia a descrever o espaço, que foi apreciado por nós à época, não fora o facto de as mudanças de plataforma, de lá para cá, terem engolido as fotografias que na altura tirámos (e que não repeti em pormenor, não só porque encontrei uma casa quase cheia mas sobretudo porque me esqueci da circunstância). Trata-se de um espaço que poderia ser absolutamente frio (pé direito alto, em tons de cinzento, com ar de armazém), não fora a iluminação baixa e quente e a decoração, deliciosa: peças de loiça que se encontram na casa dos avós, naperons de renda e, sobretudo, duas proprietárias que sabem receber e fazer com que nos sintamos em casa (na altura como actualmente). Uma coisa que mudou de há três anos para cá (a sério que já passou tanto tempo)) foi a concretização da guest house, que na altura era ainda projecto em construção e que faz o restaurante ser de um cosmopolitismo raro no Porto: há turistas, mas não os habituais, do típico restaurante da Ribeira, em busca de recuerdos e de calção tipo-Coronel-Tapioca. Ali, nos apartamentos que ficam nos dois pisos acima do restaurante mora malta que vem conhecer a Invicta de um outro ponto de vista, o da cultura e das gentes, sem guias nem intérpretes (com todo o respeito pelos demais, já se sabe). A Guest House tem entrada pela Rua de Trás, paralela à dos Caldeireiros, mas os dois espaços não estão isolados.

Ali chegados, sem marcação (mais uma vez), foi-nos atribuída uma pequena mesa junto ao enorme balcão, onde também se come e bebe, com vista privilegiada para a cozinha (ou para a porta da cozinha, é mais isso), onde a Ana trata da paparoca. Depois de escolhidas as bebidas (o P. ainda tentou uma Sovina, cerveja nacional que afinal não havia), que acabaram por redundar nos já esperados finos (Carapau que é Carapau tem as suas rotinas), ficámos a aguardar o menu das comidas que, por ser um caderno (único) de capa dura onde, diariamente, se vão registando as ementas do dia, circulava pelas mesas de gente que chegara antes de nós. E tudo bem: no Miss’Opo reina a calma e a descontracção, não adianta chegar ali de nervos em franja – ou adianta, porque é a forma de eles se dissiparem num ai. Para além disso, há uma série de petiscos que podem ser pedidos para ir matando a fome – mas nós dispensámo-los e passámos imediatamente aos pratos principais.

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O Espaço

 

A escolha, não sendo vasta, tinha três pratos que nos pareceram ideais para proceder às provas, mas acabámos por ficar apenas por dois (e ainda bem, que chegaram): Trouxa de Queijo de Cabra e Bacon Crispi [sic] e Espinafres e Porco Fino Com Molhanga Dela (como não amar o prato a priori, só pelo nome? – foi essa a razão por que cheguei a pensar também no Couscous Super Bom Que Parece Uma Viagem, mas acabámos por desistir), sendo que a Ela é a Ana (claro que tive de perguntar), responsável pela cozinha. O serviço não foi demorado (acho, mas não posso precisar porque não olhei para o relógio – pelo menos senti-o rápido, vá) e não tardou até termos os pratos à frente. Comecei pela trouxa, feita de massa filo, que me encantou de imediato: estava belissimamente recheada e, para além dos ingredientes anunciados, havia ali nozes, que lhe deram um toque simpático – esta trouxa (que tenciono reproduzir aqui por casa) é a prova de que o simples funciona belissimamente, quando é bem confeccionado. Já no que toca ao porco, apresentou-se por parte de lombo, cortado muito fininho, com uma molhaca (ou molhanga) que, de facto, fez o prato. A carne, muito francamente, será apreciada por quem (inteligentemente) gostar dela sequinha e sem gorduras, o que não é de todo o meu caso, mas ainda assim ressalto-lhe a qualidade e, inevitavelmente, e faço o elogio da molhaca/molhanga: há ali uma mescla de sabores interessantíssima, dos quais alguns se identificam de imediato (como o pimento ou o manjericão) e, depois, qualquer coisa mais complexa, que eu achava que seria canela, porque “sabe-me a bolos” (e veja-se o requinte da terminologia técnica). Rapidamente se esclareceu a coisa, graças à simpatia do funcionário que nos atendeu e à disponibilidade da Ana, que nos falou de cardamomo e anis (e daí o sabor-a-bolos); concomitantemente, comprovou-se a inaptidão do meu palato para identificações para além do mais básico do básico.

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Quando chegou a altura da sobremesa, não nos entusiasmámos: não nos apeteciam os gelados caseiros (o único sabor disponível, com sementes caramelizadas, tinha-se findado) e a mim nunca me apelam sobremesas com banana, pelo que nos restava a Tarte de Alfarroba Com Requeijão e Chila – mas, francamente, sem grandes expectativas, já que previa um bolo seco e desenxabido. E mais uma vez se provou como o preconceito é castrador: a tarte era absolutamente divina (embora cara, em termos relativos e por comparação ao resto dos preços): a base, de alfarroba, soube-me a Algarve (mais uma vez, constate-se o refinamento da terminologia desta vossa criada) e a camada de cima, fresca e não demasiado doce, era tudo o que de bom se pode imaginar – como não seria, de resto, quando se mistura requeijão e chila? Fiquei fã.

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Espinafres e Porco Fino Com Molhanga Dela

 

E pronto, para além de um descafeinado e de mais uns finos, ficámo-nos por aqui. Não posso deixar de sublinhar mais uma vez a simpatia de toda a gente: era já quase uma da manhã e já estava o pessoal a, finalmente, desfrutar da sua refeição, quando percebemos que já devíamos ter abalado há muito. E, no entanto, nem um olhar de lado, nem um convite para que abandonássemos o estaminé – o que se prova que as casas se fazem, também pelos afectos e pelos saber-estar (e receber). Pagámos 24€ por estômago, o que nem sequer é barato (as sobremesas têm um valor bem inflacionado, face ao resto) mas também bebemos bem mais do que o costume.

O Misso’Opo está aberto de Terça a Domingo entre as 19h30 e as 24h, e aconselhamo-lo a todos os que, gostando de bons apetites e tendo a mente (e o paladar) disponível para experiências culinárias diferentes das tradicionais (embora também as haja, ali, sobretudo nos petiscos), apreciem espaços onde se privilegia a conversa e o estar-em-casa (incluindo poder fumar, o que, sendo algo de que esta vossa criada já não desfruta, é característica que aprecia, como alternativa para quem o faz), sendo impossível não relaxar.

Miss’Opo

Morada: Rua dos Caldeireiros 100, Porto
Telefone: 22 532 2121
Horário: Ter a Dom – 19h30 às 24h
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