Abriremos esta posta com uma declaração de intenções sincera: de entre meia dúzia de restaurantes, eu e a SVS acabámos por escolher este pela nomenclatura, não apenas do próprio estaminé, como também de todos os pratos que ali se servem. Não que se trate propriamente de uma novidade: já aqui trouxemos outras chafaricas (estou a lembrar-me do DeGema, assim de repente) que usam expressões tipicamente portuenses (ou nortenhas) para designar os seus pratos – mas a gíria da Invicta é tão rica que há sempre espaço para mais umas bojardas (cá está).
Deixámos os carros lá mais por Santa Catarina e decidimos que estava um belo dia para utilizar os calcantes (eu não digo?) e ir pondo a conversa em dia, por ali a baixo: Passos Manuel, Sá da Bandeira, Rua das flores, Largo de São Domingos e, num tirinho, estávamos na Rua de Belomonte, onde, a números 70, encontramos a Puorto Sandwich Shop: para lá de uma entrada discreta, assinalada somente pelo menu e uma fotografia, encontramos um espaço sobre o comprido, que as paredes de granito mantêm fresco (o que agradecemos, naquela tarde de canícula), de decoração simples mas com apontamentos simpáticos (adorei a bicicleta, a estante com livros e os catos), e inesperadamente vazio – só uma mesa, para além da nossa, esteve ocupada, o que me parece um desconsolo, pelos motivos que apresentamos de seguida. As mesas e os bancos são de pinho (e gritam simples-mas-com-pinta) e, ao fundo, duas portas-sem-porta separam a cozinha do resto do espaço.
Continuemos o nosso périplo abordando o serviço, assegurado, quer na cozinha quer nas mesas, por malta muito nova diria que na casa dos vintes (o que é sempre de aplaudir): é muito atento, sem ser sufocante, para além de eficaz e simpático, características que muito prezo. Trouxeram-nos a carta, que é composta apenas por sete pratos, para além dos acompanhamentos: há o Jabardo (uma francesinha em pão focaccia), o Andor Bioleta, o Dragão, a Sostra e o Morcom (hambúrgueres de vaca com conjugações diversas de sabores), o Pom Cum Pito (sandes de bife de frango) e o Num Puxa Carroça (a opção vegetariana, onde predomina o cogumelo Portobello).
A escolha não foi fácil, talvez porque quando os pratos são poucos fiquemos com a sensação de que tudo vale a pena, mas acabámos por ser pouco originais: a SVS porque vive fora do país e eu porque não ingeria uma há umas semanas (não muitas, talvez três, mas as suficientes para ter saudades) optámos pela francesinha, also known as Jabardo – mesmo porque quando mais teremos oportunidade de designar assim algo que queiramos mesmo ingerir? Quando comunicámos a nossa opção, foi-nos dito que costumavam servir o bife da francesinha mal-passado e se gostaríamos que o nosso viesse assim, ao que ambas batemos palminhas; para acompanhar, queríamos Cola Zero e um fino, mas tiveram de vir duas Pepsis Max, porque não havia Cola e cerveja só da de garrafa (que no verão só me apetece se for mini, bebida pelo gargalo).
Não demoraram muito os Jabardos, que personalizámos a nosso bel-prazer: eu quis batata frita e prescindi do ovo estrelado, a SVS optou pelo inverso – e tudo se apresentava harmoniosamente, junto de uma francesinha mais alta do que o costume: o ovo vinha em cima do Jabardo da SVS (os trocadilhos são invitáveis, deslarguem-me) e não mesclado com ela, como costuma acontecer; as batatas, caseiras, foram servidas com casca, em recipiente à parte. Já o molho, que rotulei como “demasiado líquido” mal lhe pus a vista em cima, estava saboroso e a puxar o picante, como a esta vossa criada apraz.
Quanto à francesinha per se, estava muitíssimo bem construída, sendo o bife, de facto, a sua mais-valia, por se encontrar quase cru (o que, obviamente, pode ser alterado de acordo com o gosto de cada um), o que torna tudo mais simpático. De todo o modo, o pão algo estaladiço (ao que sabemos, o próprio estaminé fabrica o seu pão, diariamente), o bastante queijo, a salsicha e a linguiça frescas e o fiambre formavam uma união de sabores muito bem conseguida.
Não quisemos sobremesa (nem sabemos se a haveria) e passámos logo ao café, ao mesmo tempo que pedimos a conta: menos de 12€ por pessoa parece-nos muitíssimo bem por tão bons apetites, numa zona tão simpática, e num estaminé que merece mais visitas.
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