Nem parece coisa de Carapau: que a visita ao Terra, um dos restaurantes mais aplaudidos da cidade do Porto, tenha tardado tanto, é coisa que não tem explicação, mesmo porque somos fãs confessos dos outros três estaminés da responsabilidade de Vasco Mourão (para quem quiser espreitar, temos apreciações do Casa Vasco, do Portarossa e do Cafeína), um homem, já o dissemos, que faz com elegância e sucesso o que quer que seja que se disponha a fazer.
Vai daí, quando esta vossa criada ganhou uma aposta cujo prémio era um-jantar-no-restaurante-que-apetecer-ao-vencedor, nem hesitei: viesse o Terra, pois então, por forma a fechar a tetralogia (mesmo porque me haviam assegurado, pouco tempo antes, que ali se comia um dos melhores sushis aqui do burgo).
Reserva feita (que, nestas coisa, o melhor é não brincar em serviço, pese embora fosse um chuvoso e frio dia útil e a casa não estivesse à pinha), tínhamos uma mesa simpática, junto à varanda que fornece visão privilegiada para o balcão onde o sushi é preparado (e pode ser ingerido), no andar de baixo.
O espaço conquistou-me de imediato: não é grande, tem sobretudo mesas pequenas (mas lá estava uma família de seis, num espaço redondo, que me pareceu interessante) e há uma lareira que confere aquela sensação de se estar num sítio familiar e confortável. Também a construção em si, com barrotes de madeira no tecto, é agradabilíssima e de bom gosto; já a luz é fantástica para um jantar mais calmo, mas péssima para os que, armados em críticos, para ali vão tirar fotografias com a câmara de um iPhone 5S: como apreciarão pela amostra junta, nenhum dos retratos faz jus ao quentinho do local.
Quando se tratou de escolhermos o que queríamos para prato principal, já petiscávamos o couvert, muito semelhante ao que pouco tempo antes havíamos saboreado no Cafeína (mesmo em frente) e de que só temos coisas boas a dizer. A escolha do vinho, a cargo do cavalheiro PR, também se revelou interessante: em vez da habitual carta de vinhos, foi-nos disponibilizado um tablet, onde a selecção se torna muito mais rigorosa e informada (para além de que não é de todo cara, ainda poupa papel) – e lá veio um maduro branco alentejano (da Herdade do Esporão) que, não sendo o meu género preferido (vou mais para o tinto), estava óptimo. Sobre ele, também soubemos que consumíamos o último exemplar presente no restaurante, e que não haveria mais, porque gostam de renovar a carta de vinhos e alterar as referências em oferta. De resto, o serviço é absolutamente irrepreensível: informado, sabedor e conhecedor do que a casa tem ao dispor do cliente, traduziu-se numa mais-valia do início ao fim.
Quanto às nossas escolhas, o PR foi no Bife Welligton, prato de que é apreciador (e, naturalmente, muito crítico) e eu nas 22 Peças de Sushi (prescindi do sashimi, por forma a poder provar a maior variedade possível do sushi que o Terra tem para oferecer). E foi justamente aqui, infelizmente, que nenhum de nós teve grandes ovações a fazer: não me interpretem mal, nada estava mau – mas também não nos marcou de forma a que apeteça voltar, se é que me faço entender.
Sobre o famoso bife, que consiste num naco de boa carne de vaca envolto em massa folhada e que aqui foi servido com arroz, o PR limitou-se a dizer que estava “bom-mas-não-extraordinário”, o que é bastante elucidativo. Sobre o sushi, posso dizer que não me acanho para indicar meia dúzia de casas onde comeria algo semelhante por uma fracção do valor, bem como um trio delas onde, dentro da mesma gama de preços, o que como me avassala verdadeiramente. Ali foi tudo muito nhã, em termos do que comemos mas, uma vez mais, é sempre inglório rotular um restaurante por uma experiência isolada – essa é a nossa especialidade e sabemos que o resultado raramente será justo (mas é o que fazemos).
A coisa melhorou sobejamente na sobremesa, que nos foi servida com champanhe (cortesia do FG, um ex-aluno que trabalha como chef no Cafeína e sabe receber, como a casa para que trabalha): o Petit Fondant estava uma especialidade, tanto em consistência, como no que toca à dose de açúcar e cacau – e nisso concordámos ambos, mesmo porque estávamos demasiado cheios para arriscarmos uma sobremesa cada um.
Foram quase 34€ por estômago que ali ficaram e, ainda que nem um euro me tenha saído do bolso (o que é simpático: obrigada PR por pagares as tuas apostas perdidas, ao contrário de uns e outras), achei o valor excessivo para o que comi; ainda assim, a experiência global vale o que se gasta, pelo que não excluo a possibilidade de voltar, só para tirar teimas.
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