Não foi a primeira nem haverá de ser a última vez que me deleito com o Ar de Rio: em tempos, foi o meu restaurante preferido no Porto (ou grande Porto, deixem-me ser justa e não fazer o mesmo que os senhores do Starbucks, que prometeram abrir loja na Invicta e, vai-se a ver e estavam a referir-se a Gaia) e marquei por lá almoços com amigos, jantares com família e até comemorações de final de ano (letivo, que os nossos anos contam-se assim), com colegas.
Deve ser dos estaminés mais universais do Porto, se o critério primeiro for, para além do que se come, o que se vê: aquela vista sobre a ponte de D. Luís e toda a Ribeira é coisa de se nos faltar o fôlego, seja noite ou dia, esteja nublado ou dia de sol tremendo. Não conheço quem lá entre e não se sinta absolutamente assoberbado, antes de mais nada, com isso – que é alimento para a alma, sim senhores.
Em termos de paparoca, que é coisa que apreciamos sobremaneira, como se sabe, a qualidade é assegurada pela pertença ao grupo que também detém o Capa Negra e as Caves da Cerveja (este ali mesmo, no Cais de Gaia). Ou seja: temos comida portuguesa da boa, francesinhas de qualidade (não serão as melhores mas agradarão a meio mundo, sem hesitações) e tudo o mais que o povo gosta. Por isso, não é de estranhar que o Ar de Rio esteja quase sempre cheio – o que abona em favor da sua popularidade mas é nefasto para quem gosta de conversar enquanto se alimenta: com o espaço cheio e as vozes de 180 convivas no ar, é difícil sequer ouvirmo-nos pensar (a acústica é péssima). Claro que tudo passa se virarmos o olhar para o rio: não há como ficar maldisposto com aquela vista, não sei se já tinha dito.
Naquele dia, havíamos marcado mesa (junto à janela que dá para o rio, frisei) para as 19h30: com uma sessão de cinema às 21h55, logo ali acima, no Arrábida, queríamos ter tempo para desfrutar de uma refeição sem pressas. Claro que, quando lá chegámos, já essa sala sobre o comprido, a que tem a “montra” sobre o rio (o Ar de Rio lembra um aquário, mas em bom), estava quase cheia e era, inclusivamente, disputada por quem chegava sem marcação. A outra sala, do mesmo tamanho (e ainda com vista para o rio, mas com a “nossa” pelo meio) era ainda meio vazia – o que rapidamente se compôs, com os magotes de gente que não paravam de chegar: havia mesas cheias com dois (como a nossa), como quatro, com dez…; havia miudagem, gente nova, gente média e gente entradote – e muita animação.
Com os menus de cartão na mão, e apesar da vasta oferta, inclinámo-nos para a francesinha, que pedimos “à Ar de Rio”, uma com batata (para mim) e outra sem, para o TD. Entretabto, fomos debicando o frugal couvert: duas carcaças de mistura (nada de especial), broa da boa e manteigas e queijos de pacote. Os pratos principais chegaram rapidamente, bem como a sangria de 1l, branca que, não sendo espectacular, estava fresquinha e soube lindamente. Já as francesinhas, eram boas quanto baste: o bife era “nervosinho” mas estava bem batido, o que superou a consistência menos boa. O resto das carnes eram saborosas e em quantidade equilibrada e o molho era para o grossinho e atomatado, daqueles que se tornam mais pesados quando arrefecem. As batatas eram caseiras e, não pedindo de forma diferente, vêm dispostas em redor da francesinha e, por isso, naturalmente embebidas no molho.
Nesta altura, o barulho na sala era já algo insuportável, entre gargalhadas e festas de aniversário, criancinhas aos berros e coisas afins. De todo o modo, era tempo de partirmos, porque prescindimos da sobremesa (nada nos chamou a atenção por aí além) e de pagarmos a conta, que ficou em 18,50€. Nada de mais, se pensarmos naquela vista ímpar que, num final de tarde de Verão, chega a ser meio sustento – o outro meio é proporcionado pelos bons apetites que dali levamos.
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