Comecemos por confessar que a Pulcinella não foi a nossa primeira opção para o almoço, naquela terça-feira de meados de Agosto, porque todas as variáveis contam, quando se trata de apreciar o que quer que seja (e convém não mitigar aquelas que parecem ser de pouca monta): primeiro íamos a uma tasca comer uma francesinha muito gabada, depois íamos a um restaurante italiano novo, no centro do Porto… e acabámos na Pulcinella (onde, sejamos francos, já há muito planeávamos ir), em Matosinhos, porque as outras opções estavam fechadas, ora para férias ora para um alargado descanso semanal – a silly season afecta também a disponibilidade gastronómica, não nos enganemos.
Tínhamos ouvido dizer que, por não fazer reservas, a Pulcinella, que é tida como uma das melhores pizzarias do grande Porto (se não a melhor), com o seu chefe e inspiração napolitanos, constituía frequentemente uma chatice para quem, como nós, gosta de chegar e sentar – ao jantar, é comum haver gente à espera e convém chegar cedinho. Ora, por ser Agosto e estar meio mundo de férias e o outro meio enfiado nos shoppings da zona (juro que nunca hei-de perceber…), achámos que, mesmo que chegássemos cerca das 13h30, como haveríamos de chegar, isso não seria alarmante – e não foi: à nossa espera estava meio restaurante vazio (embora mais tarde acabasse por encher, sem abarrotar) e uma simpática mesa para duas pessoas que nos apressámos a ocupar.
O espaço está dividido em dois patamares: aquele que fica ao nível da rua (onde está o bar, as casas de banho e a mesa que nos calhou em sorte) e um outro, um punhado de degraus abaixo, com mais lugares sentados e a cozinha com forno, onde tudo se passa e é possível ver o chefe Antonio Mezzero (e companhia) em acção. O staff não é alargado: àquela hora, estavam duas pessoas a servir às mesas, sendo que nenhuma delas foi especialmente simpática (sendo que esta é das poucas características difíceis de treinar: ou a coisa vem de dentro ou soa a forçado) mas ambos se comportaram de modo atencioso e (bem) formado, que é tudo o que podemos pedir.
Com as confusões de trocas de restaurante, não tínhamos feito o trabalho de casa (normalmente, estudamos as ementas de antemão e sabemos, grosso modo, o que vamos pedir) e demorámos um pouco mais na escolha da refeição. Ainda pensámos em pedir umas entradas e dividir uma pizza, mas a oferta (pouco entusiasmante) e os preços (ligeiramente inflaccionados para o sítio onde estávamos, salvo se estivesse em causa manjar dos deuses) demoveram-nos: viriam duas pizzas normais, só porque pedir uma grande, embora se tornasse muito mais barato, limitar-nos-ia a dois sabores. Assim, escolhemos a Al Capone (molho de tomate, mozarela, gorgonzola, salame picante e azeitonas) e a Capriccio (molho de tomate, mozzarella, cogumelos frescos e fiambre, sendo que este foi substituído por manjericão, já que nenhuma de nós se perde por fiambre em pizzas).
Entretanto, não nos havia sido oferecido qualquer couvert: ficámos sem perceber se se tratava de prática da casa, se tínhamos ar de pelintras – e é pena, de qualquer das formas, porque temos tido excelentes experiências em restaurantes italianos, com estas entradinhas.
Quando o pedido foi recolhido, juntamente com o pedido de troca de ingredientes (que foi fácil por os dois em causa pertencerem à mesma categoria de preços; de outro modo, teríamos de pagar a diferença – o que é um tudo-nada picuinhas, sobretudo num restaurante com uma gama de preços bem acima da média), pedimos as Colas Zero e demos conta da intenção de dividir as duas pizzas, o que foi simpaticamente tido em conta aquando do serviço – cada um dos pratos trazia já as duas metades, quando vieram para a mesa, o que nos poupou a manobras de corte que, normalmente, não acabam bem.
Resta-nos, portanto, falar do que comemos e, a este respeito, temos que as pizzas, não sendo excepcionais para o meu gosto ainda muito condicionado por uns dias em Roma (onde comi as melhores pizzas de sempre): a massa não é estaladiça e, junto ao centro, onde os ingredientes e o molho tendem a acumular, fica mesmo mole, o que é coisa que não me agrada. De todo o modo, os ingredientes (sobretudo os queijos) são de excelente qualidade e as combinações, simples mas sapientes, saborosíssimas. Ah, a troca do fiambre pelo manjericão veio a revelar-se muito feliz, tanto mais que essa pizza como que equilibrava o sabor da outra, mais poderoso.
Já na fase da sobremesa, optámos pela Tazza Mascarpone – perguntámos ao funcionário em que consistia e, apesar da presença de Nutella (com que a RV não rejubila), achámos que seria a melhor opção para dividir. E, caramba, que coisa tão boa… o doce é servido num copo, em camadas: primeiro, uma dose de mascarpone batido com chocolate e açúcar, depois uma camada fina de Nutella e bolacha ralada, em seguida nova dose de mascarpone e, para finalizar, temos raspas de chocolate negro – gostei tanto, mas tanto, que estou disposta a tentar replicar a coisa em casa (o que é raríssimo, que eu nasci para comer, não para cozinhar).
Em conclusão…? Não, não são as melhores pizzas que já comi, ou sequer as melhores do Porto: há-as tão boas quanto as da Pulcinella, para dizer o mínimo. Também acho que os preços são um nadinha armados aos cágados, para o que se come, o espaço e o serviço que temos em troca. Mas é, com certeza, espaço a visitar – sobretudo para quem já está um nadinha farto da baixa e quer ir respirar outros ares. O estacionamento não é difícil, na rua, desde que se tenha uns minutos para dar uma voltinha ao quarteirão, se necessário for (e não foi, no nosso caso, mas estávamos em Agosto, ao almoço).
E é isto, gentes boas. Continuação de bons apetites, sim? Então vá.
Be the first to leave a review.