O Buraquinho | Petiscos | Porto | Carapaus de Comida

Não exagero nem um bocadinho se disser que trago o Buraquinho debaixo de olho desde que abrimos este estaminé na blogosfera: talvez por termos ido ao Buraco (que não tem nada que ver com este, adianto já) no início do nosso percurso, ficou-me na retina a ideia de irmos conhecer esta outra chafarica, nos Poveiros, também dada ao que é tradicionalmente português, mas do ponto de vista do petisco – sim, que muito antes das “tapas” de que agora toda a gente fala, havia petiscos (que, de resto, nos ficam bem melhor).

Por isso, quando se tratou de (mais uma vez) jantar na zona dos Poveiros, porque havia uma peça para ver no Teatro Nacional de São João (que fica a 5 minutos, em andar atlético, vá), tratámos de ir bem cedinho, não só porque a peça era às 21h mas sobretudo porque queríamos comer com todo o tempo do mundo e sem ter de esperar para arranjar mesa, sendo que ouvíramos dizer que O Buraquinho enchia com facilidade. Vai daí, pouco passava das sete e meia quando chegámos.

A entrada faz-se directamente para uma escada que conduz à cave a meio, à esquerda, um sapo verde, que espero não passar de um bibelô de gosto duvidoso), onde o estabelecimento opera – como se verifica, também aqui o nome não é uma coincidência. Naquela altura, para além de dois casais mais ao fundo, tínhamos uma mesa de habitués que ali pareciam estar à muito tempo, à semelhança de dois outros indivíduos, ao balcão.

Num primeiro olhar, fixei-me imediatamente nas belíssimas broas e radiantes enchidos que se encontravam na montra do balcão. Depois, já sentada numa das mesas simples de madeira de linhas rectas, imaginei aquele mesmo espaço, há três ou quatro décadas, com chão de serradura, para absorver líquidos e outros lixos, e muito copinho-de-três a sair naquele balcão, Hoje, a higiene é exemplar e ali se servem muitas outras bebidas. De resto, do tascalhão que imagino ter sido um dia, resta apenas a casa de banho unissexo: limpinha, não me entendam mal, mas pouco conveniente, sobretudo se acontecer, como sucedeu comigo, que um cavalheiro resolva usar o urinol sem trancar a porta, o que fez com que, por milésimos de segundos, partilhasse com ele aquele momento de intimidade, perfeitamente dispensável.

De volta à mesa, já lá morava a ementa: curta mas coerente, contém sobretudo pratinhos tradicionais, com grande enfoque nos enchidos (que aprecio particularmente, se forem bons). Difícil era não me fugir o pedido para um dos meus costumeiros traga-um-de-cada-e-não-se-fala-mais-nisso, mas tive de resistir à tentação, porque havia ali dois apetites pouco afoitos – e pagar sem comer é que nunca.

A menina que nos atendeu teve uma paciência infinita para os bons três minutos que levámos a decidir, mas finalmente lá levou a encomenda (sem apontar, achei extraordinário: eu chegaria à cozinha e teria de voltar para trás). Vieram, sucessivamente, um pratinho de azeitonas talhadas absolutamente divinais, um cestinho com broa da muito boa, uma patanisca que sabíamos que viria fria (e só perde pontos por isso), porque estava na montra, mas ainda assim muito saborosa, e uma salada mista, para disfarçar. A acompanhar, um belo dum jarrinho do rosé da casa, com um nadinha de gás como eu gosto.

Sem pararmos para respirar nem deixarmos de dar ao dente, as iguarias continuaram a apresentar-se-nos sem interrupções (e eu gosto deste serviço que nunca nos deixa sem ter o que mastigar). Veio um prego no pão com queijo (inferior em qualidade a outros que já comemos, como o do Portu’s ou do vizinho Venham Mais 5, mas nem por isso mau), uma alheira com ovo no prato (as batatas fritas eram lamentavelmente de pacote, mas tudo o mais estava muito bom), um salpicão amolecido em azeite que não sei se vos diga se vos conte (foi o sabor da noite, para mim) e umas moelas que, não sendo das mais espectaculares que já comi (beneficiariam de um molho mais saboroso e picante).

E lá fomos picando daqui e dali, ao som das conversas da freguesia absolutamente eclética que acabara por encher a sala (e já havia gente em espera, escada acima): havia o casal de setentinhas arranjados e charmosos, a família comprida (eram uns oito) de miúdos e graúdos (certamente a apontar para o espectáculo da Comercial, que ocorreria no Coliseu pouco depois), o casalinho de recém-namorados (fazemos todos aquelas figuras parvas, não se preocupem), o grupo de portugueses e amigos estrangeiros e os três colegas ex-toxicodependentes a trabalhar numa dessas instituições que os ajudam na recuperação (só sei isto porque estavam mesmo colados à minha esquerda e fui apanhando pedaços de conversa).

No que toca ao docinho final, preterimos o do dia (bolo brigadeiro, que quando é bom é muito bom mas, quando é fracote, é um enjoo) porque tínhamos a La Copa na ideia – mesmo porque, imagine-se a coincidência, ficava-nos a caminho do TNSJ e tudo (com um desvio de umas dezenas de metros, pronto).

Contas feitas, não chegámos a pagar 9€ por pessoa (ou pagámos, mas só porque quisemos gratificar quem nos atendeu), o que é muito bom, tendo em conta o que comemos, a simpatia do serviço e o charme decadente de uma tasca que o sabe ser.

Até para a semana e nunca larguem os bons apetites, boa?

Então vá.

O Buraquinho | Porto
4 / 5 Carapaus
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Positivos
  • As azeitonas
  • o salpicão
  • a broa
  • o serviço
  • a localização
  • o ecletismo da freguesia
  • Negativos
  • A patanisca fria (embora boa)
  • o espaço diminuto
  • Resumo
    Eis um espaço octogenário, situado no topo da Praça dos Poveiros (do lado de São Lázaro) a que até nos ficava mal nunca ter ido: adoramos tascas tradicionais, onde se coma bem e se seja bem servido, por um preço razoável – e o Buraquinho é tudo isso, benzódeus.
    Serviço4
    Comida4
    Preço/Qualidade4.5
    Espaço3.5
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    O Buraquinho | Porto

    Morada: Praça dos Poveiros, 33
    Localidade: Porto

    Telefone: 222 011 045
    Horário: Ter a Qui – 11h00 às 22h30 | Sex e Sáb – 11h00 às 24h00 | Dom – 12h30 às 22h30
    Aceitam reservas? Não

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