Restaurante Ideal | Cabanas de Tavira | Carapaus de Comida
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As fontes são para se referir: foi no blogue Casal Mistério que descobri a absoluta impossibilidade de voltar a passar por Cabanas, em Tavira (Algarve) sem ir ao Restaurante Ideal.

Este é um estaminé na segunda ou terceira linha de praia, numa perpendicular à rua que nos traz da EN125 à Ria Formosa.

Dizia-nos Ele, numa publicação de meados de Agosto, que ali se comia uma sopa de mar divinal, bem como outras iguarias que não são de desprezar – e já me habitei à ideia de que, naquele blogue, Ele e Ela sabem do que falam.

Já não é a primeira vez que aqui damos conta das maravilhas que se comem cá por baixo: em 2012, demos a conhecer as nossas impressões sobre o famigerado Noélia & Jerónimo (agora apenas Restaurante Noélia, após a morte do segundo sócio, salvo erro em 2013 – mas mantendo o seu nome, em jeito de homenagem, no toldo que ostenta) e sobre o menos conhecido (e nem por isso de somenos importância) Pedro.

Este ano, fomos repetentes nesses (o que é bom é para ser revisitado) e estreámo-nos no Ideal, logo nos primeiros dias, não fosse o mundo acabar-se e nós sem ali comer.

Cumpre-nos aqui dar conta de que, depois de uma breve investigação internáutica (prezamos muito o já referido Casal Mistério, mas gostamos de proceder a consultas complementares), concluímos que a reserva seria imperativa.

Parece que o Ideal costuma encher, noites a fio, durante o Verão, para além de que a Sopa do Mar, se não for encomendada ao menos de véspera, não se degusta.

Para além disso, deixava-me o curiosa o tipo de serviço que ia apanhar: havia quem falasse em “ambiente familiar”, mas encontrei também quem aludisse a um “péssimo serviço”, a um “dono sem maneiras” e outras imagens ameaçadoras – e eu (confirmá-lo-á quem me conhece) sou pouco tolerante com serviços desadequados.

Em férias de mar, a minha vida resume-se a pouco mais do que praia, livros, comida e bebida e despertares matinais (o que contraria o meu modo de vida durante o resto do ano, uma vez que prefiro a tarde e a noite para trabalhar e a manhã para dormir), pelo que, quando se tratou de escolher a hora do jantar optei pela primeira hipótese: 19h00 (mesmo porque, a partir das 19h30, a coisa já estava compostinha) e não se falava mais nisso – é a hora ideal.

Depois de praia até às 17h00, banhoca bem tomada, relaxamento na varanda e caminhada de 200 a 300 metros desde a casa onde me alojei (mesmo à beira-ria) até à porta do Ideal.

Às 19h00 em ponto, talvez uns minutos antes, entrava na sala principal daquela casa absolutamente banal: o espaço interior é comum a todos os restaurantes absolutamente descaracterizados, sem qualquer interesse decorativo, ausentes de conforto ou identidade.

Uma coisa era evidente: todas as mesas, sem excepção, estavam reservadas (com o nome de quem as marcara e o número total de comensais).

Afadigadíssimo a desmarcar uma delas (ficámos a saber o nome da desistente, repetido inúmeras vezes em voz alta), estava o afamado dono, que se me dirigiu sem sequer olhar para mim.

Curiosamente, e talvez porque estava preparada, isso não só me incomodou como me divertiu: disse-lhe o nome (mais uma vez, todo o restaurante, que já tinha gente, ficou a conhecer-me por ele) e foi com eficiência e uma antipatia quase fofinha que nos conduziu à mesa, sita na esplanada coberta, que albergará o mesmo número de pessoas do que a sala-mãe.

Creio que lhe conquistei o coração por ter chegado na hora certa: pouco tempo depois, vi-o a retirar uns nomes de umas mesas próximas, porque já eram 19h15 e as pessoas tinham marcado para as 19h00 – claro que acabou por acolher algumas delas, que chegaram pelas 19h20, mas verifiquei que ali a pontualidade é condição sine qua non para se ser bem tratado. E nós fomos.

Depois de sentadas, fomos “entregues” a um rapazinho novo, que intitulei de chefe de sala, por minha alta recreação: achei-lhe imensa graça porque comportou-se sempre como o grilinho falante que ia pondo água na fervura dos humores do patrão.

Connosco, recolheu o pedido: para além das duas Sopas do Mar, quisemos experimentar os Palitos de Atum (eu lera algo do bom sobre eles) e, porque lhe pedimos conselho sobre o que mais valia a pena, encomendámos também os Pastéis de Polvo com Arroz de Tomate.

Ele duvidou que conseguíssemos fazer a folha a tudo (nunca me safo deste pré-conceito), mas acabou por ceder, perante a minha insistência; e eu, para encontrar a bela da plataforma de entendimento, acatei o conselho de mandar vir só meia dose dos pastéis de polvo.

Pedimos cervejola fresquinha (que veio servida com aqueles “coletes” refrescantes normalmente usados para os vinhos) e esperámos, sendo que dispensámos o couvert (pão e manteiga) por considerarmos que não acrescentaria qualquer mais-valia à refeição.

Na verdade, esperámos quase nada: dois pães alentejanos enfeitados com um raminho de hortelã, foram-nos colocados à frentes minutos depois – e começou o banquete.

Removida a “tampa ao pão”, encontrámos um caldo de peixe e marisco (maioritariamente este) que, a haver banquetes efectuados pelos deuses, seria certamente seleccionado para a ementa: a consistência, o sabor e a riqueza dos componentes fizeram-me rotular a Sopa do Mar do Ideal (8,50€) como a melhor sopa de marisco que alguma vez ingeri (e destronou uma chafarica que havia ali na Ericeira, nas calmas).

O mais difícil é resistir a não comer toda a côdea daquele pão fantástico (o miolo fora obviamente retirado, para albergar o caldo); de resto, à medida que o tempo passa, o caldo mistura-se com o miolo restante e a coisa assume o ar de açorda levezinha (e nem sei qual das fases prefiro). Mas enfim, havia mais que provar e aguentei-me.

De seguida vieram os Palitos de Atum (8€). Não sei bem o que imaginava a seu respeito, mas não estava de todo à espera de ver aqueles quatro paralelepípedos enormes, acompanhados de salada de feijão-frade, que fariam uma refeição por si mesmos.

São autênticos nacos de peixe, envoltos num polme estaladiço e acabado de fritar, que me fez lembrar os douradinhos-dos-miúdos, mas em bom – e, por isso, creio que seria um prato que agradaria aos pequenos mais esquisitinhos.

Quase em simultâneo, chegaram os Pastéis de Polvo e o belo do Arroz de Tomate de acompanhante – e que coisa boa ali tínhamos…

Os pastéis são, grosso modo, pataniscas de polvo, mais uma vez acabadas de fritar, fofas e saborosas – aponto-lhes só o “defeito” (se é que assim lhe posso chamar) de não ter nacos de polvo maiores, mas só porque eu as preferiria assim.

O arroz, malandrinho e no ponto, não poderia ter funcionado melhor.

Nesta altura, já estávamos um bocado vencidas: caramba, se o que comemos enche…!

De todo o modo, a oferta de sobremesas tradicionais algarvias, algumas imensamente gabadas pelos blogues e sites por que fui passeando as vistas nos dias anteriores, rapidamente nos recompôs: queríamos doces sim senhores, e seriam dois, para provarmos o mais possível.

Decidimo-nos pela Tarte Mista (de alfarroba, figo e amêndoa) e pelo Doce de Vinagre (canela, amêndoa e ovos foram os ingredientes que conseguimos identificar, mas suspeito que haja ali vinagre também – só porque sou uma expert, naturalmente) – e nem vos digo nem vos conto o bom que estavam.

Ou digo, pronto, que é para isso que aqui estou: o Doce de Vinagre parecia uma espécie de doce de Natal, mas numa versão melhorada, porque eu até nem gosto da doçaria natalícia: dulcíssimo, na medida certa, com os pedaços de amêndoa de tamanho suficiente para que fossem identificados.

A Tarte Mista é o Algarve sob a forma de sobremesa e não poderia funcionar melhor – mas aconselha-se que se come primeiro do que o Doce de Vinagre, que é capaz de lhe anular o açúcar.

No final, pagámos cerca de 24€ por estômago: em rigor, seriam 22€, porque quem tirou a conta trocou os palitos de atum por filetes de pescada, que custam mais 4€ – estranhamente, a coisa foi tão boa que, quando dei por isso, já em casa, não me apeteceu ir reclamar.

Veraneantes deste país (porque os locais não precisam do conselho), se passarem por Cabanas, não deixem de passar no Ideal – a Noélia é o ex libris da terra, mesmo porque está localizada na primeira linha da Ria, o espaço é mais simpático e o serviço (embora muito menos eficiente e mais lento) é mais simpático, mas olhem que, dentro do género, o Ideal não lhe fica atrás, pelo menos para quem preza os bons apetites (e não se ralar com um dono temperamental mas amistoso para quem cumpre horários).

Restaurante Ideal | Cabanas de Tavira
4 / 5 Carapaus
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Positivos
  • A sopa do mar
  • As sobremesas
  • As pataniscas de polvo
  • Negativos
  • O espaço
  • Resumo
    Restaurante feioso e com um serviço muito peculiar, que merece todas as visitas do mundo.
    Serviço3
    Comida5
    Preço/Qualidade5
    Espaço3
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    Restaurante Ideal | Cabanas de Tavira

    Morada: R. Infante Dom Henrique 15, Cabanas, Tavira
    Telefone: 281 370 232
    Horário: N/D
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