A entrada do Restaurante O Pedro em Cabanas de Tavira

Este nosso rectangulozinho à beira mar plantado é a modos que uma ervilha, pelo que não foi de estranhar que, num fim de tarde à beira Ria (Formosa), enquanto se saboreava um gelado, me tivesse cruzado com a AL que, por coincidência, estava a gozar o seu último dia de férias também ali, em Cabanas de Tavira. Como ainda me restavam mais uns dias, a AL deixou-me umas recomendações gastronómicas, de entre as quais uma ida ao Restaurante Pedro, mesmo no fim da Avenida (não há que enganar, só há uma), no sentido poente-nascente.

Restaurante Pedro | O exterior
O exterior

E lá fomos, que eu nunca fui de desperdiçar bons conselhos. O Pedro é um estaminé que fica em frente ao primeiro dos cais de embarque dos barcos-táxi (que transportam os que querem fazer praia para a língua de areia que fica do outro lado da Ria e que dá para o mar) na Rua Capitão Baptista Marçal. Trata-se de um restaurante com uma grande sala interior, que levará perto de uma centena de pessoas, e uma esplanada (a primeira a encher, ao menos em tempo de férias, como o é ainda a primeira semana de Setembro), que sentará cerca de vinte – e ali não se conheceram os efeitos da crise, naquela quinta-feira de Setembro, sendo a clientela mais nacional do que estrangeira.

Não chegámos a perceber se, naqueles que são considerados os meses fortes do Algarve (Julho e Agosto) o Pedro serve refeições ininterruptamente  mas cremos que deve(ria) ser esse o espírito numa região em que as horas de almoço e jantar se confundem, ao sabor das férias (que, a serem-no verdadeiramente, dispensam horários, para além daqueles que o corpo e os apetites estabelecem).

Chegámos cedo: soubemos antecipadamente que as refeições são servidas a partir das 18h30, 19h e, não podendo ficar na praia até essa hora, indo directas ao restaurante, como fizeram muitos dos comensais (graças e desgraças de quem tem uma cadela que precisa de ser passeada), viemos de banho tomado e apetite bem aberto. Fomos das primeiras a sentar numa casa que, em cerca de uma hora, encheu completamente e a consulta da ementa foi praticamente um proforma, ao menos da minha parte, já que fui de estômago feito para as sugestões recebidas: lingueirão (que escolhi à Bulhão Pato, como entrada) e tiras de choco (panadas, a lembrar calamares) guarnecidas. A MAA optou pelas sardinhas assadas, iguaria que não dispensa, quando pode.

Restaurante Pedro | Lingueirão à Bulhão Pato
Lingueirão à Bulhão Pato

O lingueirão, que mais a Norte se denomina de canivetes (também servido sob a forma de arroz, para duas pessoas), estava divino: o molho era pouco gorduroso mas não tinha limão em excesso (esse vinha à parte, para os que lhe apreciam o sabor), os bichos estavam fresquíssimos e bem cozinhados e não pouparam nos coentros. Creio que ficaria por mais umas doses daquilo (acompanhado com o magnífico pão, bem encharcado no molho), mas havia mais que experienciar.

Vieram as sardinhas, que não deslumbraram. Não que estivessem mal cozinhadas ou fossem mal servidas, que não o foram: eram em quantidade suficiente, as batatas que as acompanhavam saborosas e a salada mista com pimentos apetitosa (apesar de vir por temperar, hábito muito em voga nalguns estaminés, que me desagrada sobremaneira, porque me sabe a descomprometimento). Mas os bichos não eram dos melhores que a MAA já comeu e nisto das sardinhas, não basta parecê-lo, há que sê-lo.

Restaurante Pedro | Tiras de choco
Tiras de choco

Simultaneamente, vieram as tiras de choco fritas – e  sobre estas, não sabia o que esperar. Haviam-me sido recomendadas, pelo que a única coisa que perguntei a seu respeito foi sobre o que as acompanhava: batata frita ou arroz e salada mista. Não sendo arrozeira, lá vieram as batatas (erro crasso, eram das pré-fritas) e a salada por temperar (grrr…). E o que se me apresentava era verdadeiramente sui generis, uma espécie de cruzamento entre o fish and chips britânico (sem o teor avinagrado) e os calamares peninsulares, mas de nível superior: sem preocupação com a uniformização do tamanho ou grossura, as tiras foram generosamente cortadas e bem temperadas e depois cobertas por um polme (ovo e pão ralado, supõe-se) e panadas. Vinham quentes, a escaldar, e eram acompanhadas de um molho de alho e salsa caseiro, que foi consumido até à última gota – sobraram apenas as batatas, que daquelas posso comê-las em qualquer altura. Petisco simples e fantástico, a importar para terras nortenhas com urgência.

E faltavam as sobremesas, numa altura em que as pessoas em espera ou as que passeavam a desmoer o jantar feito em casa já incomodavam quem comia na esplanada (os guinchos da criancinha inglesa atrás de nós também me queimaram uns neurónios, enquanto os pais atacavam uns bifes de atum como se nada fosse). Estando o empregado (esforçado mas atolado de mesas para servir) ocupado a tentar traduzir o pedido de uma família lusa (porque há gente complicadíssima!), resolvi abdicar da lista e dirigi-me ao expositor dos doces, no interior, onde uma empregada muitíssimo simpática teve paciência para me explicar como se chamava e como era feita cada uma das sobremesas disponíveis. Saliente-se a oferta alargada, caseira e muitíssimo agradável à vista, composta maioritariamente por doces tradicionais locais.

Não sendo eu grande fã de figo, amêndoa, alfarroba e coisas que tais, decidi-me por um dos doces da casa, uma tarte de limão merengada (o outro era um cheesecake de frutos silvestres), que só pecou pela base, que era de pão de ló, porque o merengue, ainda levemente tostado, estava muito bom; fã das guloseimas algarvias é a MAA, que optou pelo Três Delícias, um bolo de tripla camada (justamente figo, amêndoa e alfarroba) que aprovou entusiasticamente.

Vieram, finalmente, o café e a conta: 19,50€ por cabeça não é uma pechincha mas também não é um roubo (o que, numa altura em que a ladroagem gratuita vem de cima e parece ter-se tornado legal, chega a ser aconchegante). O serviço é afável, para os padrões algarvios, e cumpridor, embora não fosse pior (sobretudo para os clientes) se o Restaurante Pedro contratasse mais um empregado para a esplanada: talvez tivéssemos conseguido pagar com cartão (enquanto for aceite, há que aproveitar!) e poupado uns dez minutos de espera para fazer contas.

Ainda assim, tivemos bons apetites, que é o que Carapau quer. :)

 

[nggallery id=48 template=player]

 

Similar Posts