Aqui há uns tempos, esta Carapaua que vos escreve meteu-se num auto-desafio dos difíceis e morosos e houve quem tivesse feito uma aposta com ela, a posteriori – daquelas apostas em que todos ganham: se ela perdesse, almoçavam juntos; se perdesse ele, juntos almoçavam. E assim foi: ela ganhou (wooo-hoooo!!) e, após acerto de agendas, o almoço aconteceu. Escolhia o restaurante quem ganhasse mas aqui houve acordo desde logo: seria leitão e não se falava mais nisso.

Nelsonft dos Leitões | a entrada
Nelsonft dos Leitões

O restaurante escolhido foi o Nelsonft dos Leitões, na Mealhada, mesmo na Estrada Nacional 1, logo a seguir à Escola Secundária, no sentido Sul-Norte – e não, não é erro de digitação, o nome é mesmo aquele e reza a história (ou melhor, o PM) que o dono, quando quis registar o nome do estaminé, foi impedido, por haver já nome idêntico nas redondezas. Ora o senhor não esteve com meias medidas: acrescentou as iniciais dos sobrenomes ao nome próprio e ficou o problema resolvido: Nelsonft e acabaram-se os entraves.

Trata-se de um restaurante como os muitos que povoam a zona da Bairrada, Mealhada e Coimbra  e  que são quase sempre “fulano de tal dos leitões”: vivenda grande, com estacionamento para muitos carros, com direito a sombras e tudo, e os costumeiros homens de negócios da zona, simples passantes ou os malucos pela iguaria típica, que saiem da auto-estrada de propósito para “ir ao leitão”. De distinto de todos os outros tem o facto de ser o preferido do PM que, como pagador da aposta perdida, ficou com o encargo de escolher o estaminé para o repasto. A nós juntaram-se: ida do Porto, comigo, a IAB; de Arganil, a MAA e, de Coimbra, o CC, que tinha a seu cargo a diligente tarefa de trazer a sobremesa.

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À entrada (algo escura mas com um enorme aquário de peixes multi-colores que a ilumina), os cumprimentos para quem é da casa e a indicação de que uma mesa para cinco nos esperava, na sala contígua, destinada a não fumadores, onde um casal tratava já da saúde a uma travessa de leitão. O facto de termos alguma pressa (porque os senhores tinham horários de trabalho a cumprir, enquanto as senhoras estavam mais folgadas) não foi em nada prejudicado, já que o atendimento foi célere: leitão, acompanhamentos e espumante, sendo que até dispensámos as entradas (constituídas por queijo fresco com bom ar e manteigas, queijos para barrar e patés de pacote) para guardar todo o apetite para o que interessava.

Nelsonft dos Leitões | O Leitão
O Leitão

A primeira travessa de leitão trazia pedaços que agradaram aos que preferem febra e aos que se pelam pelas costelas (como eu), a salada era variada e bem temperada e as batatas comm’il faut: às rodelas, caseiras, estaladiças e sem necessidade de adição de sal. O espumante escolhido pelo PM, de entre três que lhe foram aconselhados, estava fresquinho e acompanhou muitíssimo bem a iguaria, que não pede outro tipo de beberagem: entre todos, lá marcharam duas garrafitas e mais não podia ser, que todos tínhamos de conduzir bons quilómetros e/ou trabalhar.

A segunda travessa de leitão (porque a primeira desapareceu num ápice) trazia, se é possível, o bacorinho ainda mais bem temperado: apimentado, pele estaladiça, carne tenra e saborosíssima. E lá teve de vir mais uma travessa de batatas. E mais uma de salada, por causa das fibras, pronto, que Carapau gosta de refeições equilibradas.

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Satisfeitos todos os comensais (comer mais significaria uma digestão complicada para quem trabalhava a seguir e, sobretudo, para quem tinha a incursão ordinária das quartas-feiras daí a umas horas), passámos às sobremesas. Prescindimos da carta e atacámos uma das duas caixas de Crúzios que o CC trouxera do Café Santa Cruz, em plena Baixa de Coimbra, a pedido do PM: os Crúzios são assim denominados, em homenagem aos cónegos regrantes que outrora habitaram o Mosteiro de Santa Cruz, designação que era extensiva a todos os que estavam agregados à instituição, mesmo residindo fora dela (como era o caso de D. Afonso Henriques, um dos fundadores da Ordem dos Crúzios).

Os Crúzios
Os Crúzios

Quanto aos docinhos propriamente ditos, típicos da doçaria conventual, fizeram as nossas delícias mesmo antes de os provarmos, já que o odor de bolo acabado de fazer acicatava qualquer apetite menos guloso: trata-se de doce de ovos e amêndoas, numa caixa de massa quebrada, polvilhada com açúcar – e agradaram a todos, aos que já os conheciam e às que os provaram pela primeira vez.
No que toca ao preço, e embora o pagador tenha sido só um, a verdade é que leitão e acompanhamento para cinco ficou por pouco mais de 80€ (ainda que sem entradas ou sobremesas), o que constitui uma relação qualidade /preço manifestamente melhor do que a última incursão dos Carapaus ao leitão – e isto só pode justificar-se pela sempiterna lei da oferta e da procura: onde a concorrência é muita, os preços naturalmente baixam; quando se detém o monopólio num raio de dezenas largas de quilómetros, é a loucura.

E assim se fez uma refeição com convivas que só de longe a longe se (re)encontram, com boa comida, temperada sobretudo por afectos, gargalhadas, conversa para pôr em dia e o desejo de que a próxima reunião seja breve, já sem apostas como pretexto.

De resto, entre amigos que se falam diariamente mas se vêem de longe a longe, é sempre como se a última refeição tivesse sido ontem, e a próxima vá ser já amanhã – sendo que os pretextos não são precisos para nada.

(Até já, freguesia!)

 

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4 Comments

  1. Como dizia a Susanita à Mafalda, numa das tiras do Quino, quando a Mafalda lhe deu xeque-mate no xadrez e a Susanita tirou um papel do bolso:
    “Fiz-te morder o pó da derrota!…
    Ah… desculpa… enganei-me. Não era este papel…”
    E tirou outro papel de outro bolso:
    “Perdi. Pois perdi. Mas o que interessa perder ou ganhar quando se joga por desporto?”

  2. A nível de comida, nomeadamente do leitão nada a apontar, muito boa preparação.
    Aos restantes níveis aconselho a ter atenção, principalmente a grupos, na hora de fazer o pagamento…. convem conferir bem o talão… recentemente com um grupo de 18 Pessoas, na altura de conferir o talão, ficamos a saber que tinhamos comido 40 pães (que depois passaram a 11), as 3 saladas que vieram para a mesa, eram afinal 9 !! numa primeira abordagem ao empregado (que não sabia explicar bem) cada travessa tinha 2 doses, mas depois de explicado que 9 era um número impar, cada travessa já tiha 3 doses, o mesmo se passava com as doses de batata.
    O Sr. Empregado a ouvir mal na altura de escolher as sobremesas lá trouxe sobremesas “trocadas” que depois foram corrigidas pelas que afinal se tinha pedido, mas no belo do talão lá estavam as sobremesas certas, e as que tinham voltado para trás…. por isso caros amigos, muita atenção com estes senhores, cujas filhas tambem têm que comer….

    1. Muito obrigada pela chamada de atenção, Nuno Pimenta.
      Como terá lido, éramos só cinco e a conta não apenas foi conferida como fotografada, pelo que não fomos alvo de qualquer injustiça.
      Volte sempre!

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