Dona Maria Pregaria | Carapaus de Comida

Se houve coisa para que fomos imediatamente remetidos, da primeira vez que lemos uma referência à Dona Maria Pregaria, foi uma incursão havida no Verão passado, quando os Carapaus estavam de molho, ao Prego da Peixaria, em Lisboa: pela descrição do estaminé recentemente aberto na Rua de Ceuta (mesmo antes da Almedina, quem sobe à esquerda), depois de uma experiência aparentemente bem-sucedida em Famalicão (que se mantém), parecia-nos que seríamos capazes de vir de lá tão satisfeitos quanto saímos, naquela noite de Agosto, do restaurante do Príncipe Real. Afinal, anunciavam-se pregos de bife do lombo e hambúrgueres, ambos servidos em bolo do caco (e temos uma piquena perdição por este tipo de pão madeirense, sendo que já comemos muito gato por lebre, no Continente), bem como chips de batata doce e outras coisas boas – não havia como correr mal.

Percebemos imediatamente que tentar uma visita à hora mais comum para o almoço durante a semana ao  Dona Maria Pregaria (12h30-14h00) ou ao jantar, no fim-de-semana, e tendo em conta que estamos a falar de plena baixa do Porto, só seria exequível se fôssemos sem pressas e tivéssemos tomado meia dúzia de xanaxes antes (para o meu feitiozinho pouco dado às esperas, desconfio que nem assim), pelo que optámos por um almoço tardio, numa quinta-feira: tendo compromissos para aqueles lados, não havia, no entanto, necessidade de correrias, pelo que se houvesse necessidade de espera, não haveria chatice nem comida engolida à pressa (o maior de todos os dramas).

Chegámos cerca das 13h45 e, entre as fotografias tiradas ao exterior e à entrada, mal demos por nós já estávamos sentadas (seria difícil para um número maior mas duas pessoas acabam por se encaixar em qualquer lado). O espaço entre as mesas é exíguo, sendo que, exceptuando duas mesas de quatro à esquerda, do lado da escada que conduz ao WC, as restantes ficam à direita, a todo o comprimento do restaurante (pouco largo), que albergará, ao todo, umas 25 a 30 pessoas, diria – e com muito calor humano e audição das conversas alheias, já se sabe.

Como no Prego da Peixaria (e será ou não coincidência, mas não podemos deixar de estabelecer o curioso paralelismo), em cada mesa encontramos, para além de uma “moldura” com um menu do dia, um vasinho de metal (aqui, daqueles brancos e rendilhados, do Ikea) com guardanapos, umas tiras de papel reciclado com a lista e um lápis: a ideia é (tal como no Prego, outra vez), colocar, à frente dos itens escolhidos, a quantidade pretendida e, no caso das carnes, definir se se a pretende mal passada, média ou bem passada. Mais uma vez, não temos nada contra restaurantes inspirados noutros restaurantes (sobretudo se forem bons) desde que se não reivindique uma originalidade que não existe e, neste caso, a honestidade prevalece.

Tínhamos a certeza de uma coisa: os pregos, por serem de carne do lombo, eram o nosso fito, pelo que tratámos de mandar vir um Dona Maria mal passado (lombo, maionese de alho e manjericão, queijo cheddar e copita – um enchido de aspecto e sabor similares ao presunto), para esta vossa criada que adora carne de vaca em sangue, bem como um Subir a Mostarda Ao Nariz médio (lombo, bacon e maionese avinagrada). Escolhemos, para acompanhamento, chips de batata doce e maionese de alho, que é para a coisa ser à bruta e com todas as calorias e gorduras saturadas a que temos direito (vá, a batata normal frita com queijo ralado seria ainda pior – diz ela, a ver se alivia a consciência) e, para beber, um fino e (eu) uma “maracujada”.

O serviço foi muito rápido e em minutos tínhamos os pregos e as rodelas finíssimas de batata doce, servidos em tábuas de madeira (daquelas que se usavam para cortar alimentos, nas cozinhas, antes de os plásticos substituírem as madeiras); as bebidas foram servidas um nadinha antes e, se o fino Super Bock apresentou a qualidade costumeira, a maracujada (similar à limonada, de maracujá) estava especialmente boa.

Mas passemos às personagens principais: a batata-doce mergulhada na maionese de alho é petisco que, por si só, nos encheria as medidas mas, caramba, o prazer de espetar o dente numa carne tão tenra que se desfaz na boca é incomparável – e tínhamos ali material do muito bom, servido em pão com pouco miolo, fresco e perfeitamente equilibrado. As duas opções escolhidas foram gabadíssimas e ingeridas até à última migalha, sendo que esta vossa criada só não sugeriu partirmos para uma terceira experiência, a meias, porque o apetite da companhia é bem menos voraz, desde logo, mas também porque era dia de carapauzada dupla e havia que reservar qualquer coisa para o jantar, marcado para dali a cinco horas.

Em redor, foram servidos sobretudo menus do dia, que consistiam, naquela quinta-feira, num hambúrguer de frango, o Cantar de Galo, mais a bela da batata frita, molho de alho, sopa para quem quis, uma bebida, uma sobremesa em versão-shot e café – tudo pela magnífica quantia  de 6,90€, o que me parece muitíssimo simpático, mesmo porque o hambúrguer vai sendo diferente, todos os dias úteis. Ao jantar (mas apenas de segunda a quinta-feira), as coisas são um nadinha diferentes: por 7,50€, pode escolher-se qualquer hambúrguer (menos o Chamava-lhe Um Figo) ou prego, acrescentar-se-lhe uma bebida (cerveja ou uma das águas de frutos) e um café e jantar bem sem que se saia desfalcado. Claro que, ao fim de semana, não há nada destas benesses, o que me parece lógico e adequado.

Quanto a nós, para terminarmos em beleza, mandámos vir duas sobremesas:  Olha a Língua da Sogra (gelado de chocolate, espuma de avelã e língua da sogra) e Na Corda Bamba (iogurte com calda de morango e bolacha) – na verdade, quando fizemos o pedido, achávamos que estávamos a pedir a coisa em versão-shot; só quando olhámos para os preços perguntámos de que se tratava, para nos certificarmos do que aí viria, e informaram-nos que as nossas, porque servidas fora dos menus do dia, eram de tamanho normal. Ainda assim, mantivemos a coisa, mas acabámos por comer só a última, a meias: a dada altura, deram-nos conta de que o gelado de chocolate não estava ainda com a consistência desejada e acabei por ter um golpe de bom senso, ao ver o tamanho do Na Corda Bamba, que dividimos (ou melhor, eu comi dois terços, que a companhia ficou cheia depressinha). E que bom que era o iogurte e a compota de morango caseiros, esta carregadinha de frutos – e o crumble por cima…

Finalizámos tudo com cafés (Nespresso, como parece ser cada vez mais comum) e a brincadeira saiu-nos por uns modestos 11,50€ – o que é muitíssimo razoável, creiam-nos, dada a qualidade do que se ingere.

E o que nós gostamos de desfrutar de tão bons apetites não tem mesura.

Dona Maria Pregaria
3.6 / 5 Carapaus
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Positivos
  • os pregos
  • a localização
  • Negativos
  • o serviço algo descompassado
  • a proximidade entre as mesas
  • Resumo
    Ainda com arestas por limar, este estaminé tem tudo para dar certo.
    Serviço3.5
    Comida4
    Preço/Qualidade4
    Espaço3
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    Dona Maria Pregaria

    Morada: Rua de Ceuta 63, Porto
    Telefone: 223 271 112
    Horário: Seg. a Sáb. das 12h Às 24h
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