Caríssimo Cardume, não nos levem a mal mas esta vai ser a posta mais rápida de todo o sempre, o que se explica em poucas linhas. Na verdade, o Santa Francesinha era um estaminé independente, idealizado e posto em prática por um grupo de primos, amante da mais famosa sandes a norte do Mondego – e disso falámos quando lá fomos, há pouco mais de um ano. Ora acontece que o projeto, apesar da nossa confessa admiração, não conseguiu aguentar-se (a concorrência é fortíssima, ali na zona: fazer frente ao Santiago não deve ser pera doce) e o Santa Francesinha fechou, sem que eu tivesse tido coragem de pedir o ex libris da casa, a homónima Santa Francesinha, coisa gigante e só para estômagos corajosos. De cada vez que passava nos Poveiros, acho que suspirava, por isso mesmo.
Eis senão quando nos chega a boa nova, por meio da leitura do Jornal de Notícias que, em certo dia de Maio, dava conta de uma série de convulsões francesinhísticas, a ocorrer ali na zona: parece que o Santiago iria abrir uma terceira casa (!), que o Santa havia sido comprado pela Cufra e mais umas notícias que só atestam a boa saúde do setor da restauração aqui pela Invicta. Mas havia mais: a Cufra, que tem estatuto para ser o que lhe apetecer e vender o que lhe apetece, tinha tido o rasgo de génio de se aperceber que a Santa Francesinha (não o estaminé, o prato) era coisa de se aproveitar e jamais de se deixar morrer ali.
Vai daí, na já magnífica ementa da Cufra (de que falámos aqui, acrescentando a Cufra Grill acolá), consta, neste estaminé do grupo, a Santa Francesinha, uma coisa assim a atirar para o gigantesco, do tamanho de duas francesinhas mais pequenas (como as do Bufete Fase), ainda por cima muitíssimo bem recheada – a saber: fiambre, afiambrado, mortadela, linguiça, salsicha fresca, bife da alcatra, bacon fumado, pão, ovo, hambúrguer, cebola grelhada (montes de) queijo e, claro, o famigerado molho de francesinha da Cufra (um dos meus preferidos, já o disse). E, desta vez, esta vossa criada atirou-se mesmo a uma Santa: eram três da tarde, havia mais do que tempo para fazer a digestão, e começou-se por uma saladinha mista, para auxiliar o estômago (eu sei, eu sei, mas eu fico com a sensação de que ajuda, não me lixem a moleirinha).
A verdade é que, devagarinho, e sem comer muitas batatas (só piquei meia dúzia do prato da mãezinha MAA, com quem ia ao teatro depois e que optou por uma alheira de que disse maravilhas), para não me estragar a epopeia, a coisa deu-se: só sobraram duas ou três cartilagens do bacon e o resto não sobrou para contar a história. Se gostei? Olhem, pázinhos, adorei, como não poderia deixar de ser: as matérias-primas são muitíssimo boas, o molho é dos meus preferidos e a ideia agrada-me sobremaneira – a despeito do que pensam os puristas (mesmo porque não sou purista em nada), não acho que uma francesinha só o seja quando replica a que se considera original (mesmo porque esta era feita com lombo de porco em vez de bife e eu não aprecio a primeira opção). Se isto é discutível? Com certeza, como quase tudo o que se pode debater, mas confesso que tenho temas que me interessam bem mais.
Uma palavrinha para o resto da ementa, que contem os pratos que fazem da Cufra um destino seguro para tanta gente, para além da minha sobremesa preferida de sempre, o Gateau Au Chocolat, a que não resisti, mesmo depois de ter o equivalente a metade de um elefante dentro do estômago – é que não há bolo de chocolate mais guloso e satisfatório, para quem gosta mesmo muuuuuiiiiito de coisas doces e achocolatadas (o segundo lugar vai ex-aequo para o Bolo de Chocolate da Sandra da Casa de Pasto da Palmeira e para o bolo do chocolate do Cafeína). F
Contas feitas, o repasto ficou em pouco mais de 16€ por estômago, o que se nos afigura como muito bom, tendo em conta os bons (e enormes) apetites.
Um bem-haja à Cufra, por aliar a tradição à inovação, tendo a humildade de reconhecer o que é bom na alteridade – coisa rara, infelizmente. Continuo a preferir o estaminé da Avenida da Boavista, quer pelo espaço, quer pela mística, mas aplaudo vivamente esta migração (inclusiva) para a Baixa.
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