Passavam já quase seis meses desde que, em Julho, numa sexta-feira antes de rumarmos ao Marés Vivas, Carapaus & Amigos passaram pel’O Forno, onde pretendiam abastecer de calorias para a noite que se avizinhava longa; ainda assim, apesar da hora previdente (não seriam ainda 20h) a que lá chegámos, rapidamente nos frustraram as expectativas: a casa estava cheia que nem um ovo e nem o facto de sermos poucos (cinco) permitiria que, esperando um pouco, pudéssemos pensar em jantar. Ainda assim, o HA, que já conhecia ao estaminé, entregou-nos um cartão para que não nos esquecêssemos de lá voltar. Porque valia a pena, disse-nos. Ora há bem pouco tempo, um dos nossos Fregueses relembrou-nos d’O Forno e voltou a tornar urgente a necessidade de lá ir, pelo que assim fizemos: marcámos a coisa para o almoço por motivos vários, um dos quais sendo a (provável) facilidade de arranjar mesa num horário que não o da noite.
O Forno (também conhecido como O Forno de Coimbrões) fica em Vila Nova de Gaia, entre as Devesas e Coimbrões, na Rua Barão do Corvo – a que não é difícil chegar, mas que exige um percurso que se revela algo confuso para alguém (como nós) para quem as ruas de Gaia continuam a ser todo um mundo por explorar. Com a ajuda da aplicação Mapas, do iPhone, não tivemos grandes dificuldades e, junto à hora marcada, 13h30, lá estávamos, prontos para a degustação: os dois Carapaus-residentes AA e AV, a honorária MAA e o já repetente (apesar de morar a Sul) PA. O estacionamento, na rua, também não se revelou tarefa árdua: trata-se de uma zona habitacional e, àquela hora, havia uma série de lugares a escassos metros, numa perpendicular à Barão do Corvo, mesmo em frente ao restaurante.
Fomos recebidos por uma mulher nova que, com um tom algo magistral (que indiciaria a censura pela hora tardia a que nos atrevêramos a reservar), nos atira um “estávamos à vossa espera”, seguido de outro “é francesinha para todos, não é? Ficaram de confirmar…” (e não ficámos nada, já agora), conduzindo-nos concomitantemente a uma despida sala interior, onde só uma mesa estava ocupada. Os únicos pontos de interesse, por ali, são a televisão, para quem gosta de ser acompanhado por um qualquer dos canais nacionais (e nós aproveitámos para pôr as notícias em dia) e a abertura por onde se espreita a cozinha. Na sala de entrada, bem mais airosa e aprazível, jaziam ainda muitos comensais, a ultimar almoços e (imaginamos) a arranjar forças para o regresso ao trabalho.
Muito provavelmente porque não estão habituados a receber clientes para além do horário habitual (ainda que continuemos a achar que almoçar perto das 14h não será assim tão descabido), fomos castigados: nem ementa, nem entradas, nem sequer um pãozinho para ir roendo enquanto esperávamos pelo prato principal (que sim senhores, foi francesinha para todos); restou-nos um vislumbre das outras iguarias que por lá se degustariam, no painel disposto na parede externa d’O Forno, e dos pratos do dia, escarrapachados em folhas A4 escritas à mão e dispostas aleatoriamente pelas paredes do restaurante. Para beber, foram três Super Bock de pressão (para eles) e uma Cola Zero (para mim), que o trabalho que vinha a seguir dispensaria qualquer vapor etílico.
Por um precalço de ordem olfactiva (vamos dizer que estávamos demasiado perto da casa de banho quando determinado cliente a visitou, para não entrar em pormenores), vimo-nos obrigados a mudar de sala quando as francesinhas estavam a poisar na mesa, o que só nos aumentou o apetite: aqueles dois ou três minutos de transporte fizeram-nos desejar espetar o dente nas maravilhas acabadinhas de sair do forno tão depressa quanto possível. E, desta vez, o paladar só confirmou o que o olhar supôs: estávamos perante uma das melhores e mais bem guarnecidas francesinhas que nos foram dadas a provar, enquanto Cardume ou sujeitos que jamais pensariam em ter um blogue deste tipo.
As francesinhas d’O Forno são servidas em recipiente de barro, comm’il faut, são de tamanho generoso, recheadas de carnes saborosas e em quantidade poucas vezes vista: havia bife tenro (dois por prato, para sermos rigorosos) salsicha fresca sem ponta de gordura e de diâmetro raro, linguíça da boa, e os tradicionais fiambre e queijo, para além de ovo estrelado (sob a fatia de queijo cimeira). O molho (que não é picante, pelo que agradará a todos) não é muito mas imediatamente nos servem mais, a pedido. Creio que estivemos 80% do tempo da refeição a gabar a iguaria, mais as batatas caseiras e a perceber como é que não descobríramos O Forno mais cedo.
Passámos aos finalmentes: a oferta de sobremesas era limitada (e sem ementa, mais uma vez) e só o AV apostou num doce da casa, uma mescla de natas, mousse e bolacha que não impressionou. Eis que chegava a fase dos cafés e da conta, sendo que esta se revelou a cereja em cima do bolo: 8€ por cabeça. 8€ por cabeça??? 6€ por francesinha??? Claro que estamos cientes de que cada um de nós só ingeriu uma bebida e que só um foi às sobremesas, mas ainda assim, nem nos nossos dias mais alarves ali gastaríamos mais de 15€ – o que, e quem nos segue sabê-lo-á, raramente conseguimos.
Por tudo isto, e apesar do serviço algo negligente e decididamente pouco simpático, eis que a francesinha d’O Forno entrou para o top daquelas que aconselhamos, sem medos, a quem no-lo pede (e insiste muito, porque não gostamos particularmente de fazê-lo).
Bons apetites desse lado também, sim, Freguesia?