Esta foi uma posta muito adiada: por nada de especial, só porque não calhou antes. Mas tinha de ser feita, sobretudo porque há muito que a RP havia dito que eu tinha de ir experimentar aquelas que para ela eram mesmo as melhores francesinhas do Porto, tanto mais que tenho nas redondezas duas das minhas preferências (falo do Café Santiago e do Santa Francesinha). Ora eu gosto de testar todas as preferências dos meus amigos que considero bons garfos: é por meio deles e não por via de guias gastronómicos “oficiais” que tenho degustado o que de melhor o mundo tem para oferecer ao palato.

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Foi assim que, quando se tratou de escolher o estaminé onde forrar o estômago antes de ir ver a nova peça do José Pedro Gomes ao Sá da Bandeira, e uma vez tendo a quadrilha em causa decidido que nos apetecia francesinha, a sugestão da JS apontando para o Lado B foi imediatamente adjudicada, por vir ao encontro desta curiosidade já com uns bons meses (se não mais de um ano). A MAA e o AG aceitaram e, marcada a mesa (grande vantagem, esta, relativamente ao Santiago: aceitam-se reservas!), encontrámo-nos às 19h30, para termos tempo para a cumberseta e para os apetites.

Era dia de calor do sério e a Baixa estava carregadinha de locais e, sobretudo, turistas, sendo que, a partir das 20h00, o Lado B encheu-se de uns e outros – com gente em espera, o que normalmente sublinha a qualidade da coisa. Ainda assim, nós íamos (literalmente) pagar para ver se a pretensão de ali se servirem “as melhores francesinhas do mundo”, o que decorre não de nenhuma sondagem ou votação efetuada mas do facto de que assim foram registadas pelo dono como marca, como poderiam sê-lo por qualquer um de nós, se estivéssemos dispostos a fazê-lo.

Uma palavra para o espaço que, não sendo exatamente belo, tem alguns apontamentos interessantes, que reiteram o nome escolhido para a chafarica: nas paredes, alguns vinis e painéis feitos com os nomes de artistas bem conhecidos e ligados à música, o que advém da circunstância de o seu proprietário (na carta o termo é “mentor”) ter sido, durante trinta anos, o dono da Jo-Jo’s Music, “a mais antiga loja de discos da cidade do Porto” (de que eu não me lembro e odeio-me por isso).

Mas passemos ao que interessa (mais): pedimos, depois de espreitar a carta, três francesinhas normais (as tais que são “as melhores”) e uma com ovo, bem como batata frita para acompanhar, mais três finos para as senhoras e uma Bohemia para o cavalheiro. Nesta altura, pareceu-nos que nos tinha calhado um empregado como deve ser, uma vez que nos aconselhou (e bem) a ficarmo-nos pelas três doses de batatas. O pior foi depois: em vez de três francesinhas simples e uma com ovo, o homem baralhou-se todo e trouxe uma simples e três com ovo; quando demos conta da ocorrência e nos manifestámos, o funcionário ainda se ofereceu para retirar a cobertura, o que negámos, por não nos fazer confusão. “Pagam o mesmo”, disse o senhor – o que me levou a crer que, porque o erro fora dele, não nos cobraria pelos ovos servidos a mais. Mas cobrou, algo que só verifiquei mais tarde – e que, naturalmente, achei de mau tom.

Chegadas as francesinhas, houve desde logo um ponto negativo (mesmo antes de pegarmos nos talheres), apontado pela JS, muitíssimo pertinente: os pratos em que vem a iguaria não são tão fundos quando deveriam e têm diâmetro diminuto, o que não permite mergulhar a coisa no molho. Em vez disso, tem de se o estar sempre a repor, para que não nos saiba a seco. E, por falar nisso, na secura do pão assenta o maior dos defeitos que tenho a apontar às francesinhas do Lado B: o pão de forma é cortado grosso e, pelos vistos, é tostado antes, por forma a que não fique empapado no molho – e eu acho isso lindo, mas não me agrada de todo que a consistência do pão seja tão massuda que se torna assoberbante e acaba por distrair da qualidade das carnes, que é assinalável (bem como a quantidade, exatamente no ponto): tudo é tenro e saborosíssimo, nesse aspeto.

Quanto ao molho, a sua maior qualidade é ser picantezinho como deve ser, nada daquelas molhadas atomatadas para quem prefere agradar a gregos e a troianos e não exagerar no piri-piri. Minha gente, estamos a falar de francesinhas: ou bem que a coisa é picante ou bem que é outra cena qualquer… De resto, e ainda que não seja mau, também não marca ou se destaca – a não ser pelo facto de ser, talvez, um tudo-nada espesso demais; imagino que, no Inverno, com o frio, aquilo se torne uma papa pouco simpática.

Não sairíamos sem a bela da sobremesa e também aqui foi complicado de fazer perceber ao funcionário aquilo que queríamos. Apesar de aparentemente estar a apontar o que pedíamos, julgo ser seguro afirmar existir ali um qualquer tipo de memória-de-peixe: apontava e, quando repetia para confirmar, esquecia-se sempre de algo – mas, com alguma paciência e pese embora o quase chilique de nos dizer que um crepe demoraria vinte minutos a fazer, lá vimos  as coisas a andar. Ou quase, vá: tínhamos sublinhado que, porque o crepe da JS demoraria mais, gostaríamos que trouxessem o meu melhor-bolo-de-chocolate-do-mundo (outro caso de bom marketing, que ali se vende) e a mousse de chocolate do AG (a MAA passou esta fase do doce) quando o crepe estivesse pronto – mais uma vez, o senhor esteve-se nas tintas e serviu as nossas sobremesas primeiro.

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E, por falar nelas, devo dizer que confirmo (pela enésima vez) que o-melhor-bolo-de-chocolate-do-mundo (marca registada) está longe do o ser mas come-se bem (sobretudo porque foi servido com chantilly e rodelas de morangos); a mousse do AG não mereceu grandes comentários e, quanto à JS, o seu crepe com chocolate quente e chantilly estava melhor do que a francesinha.

No final, concluímos que o Lado B, não sendo de todo desprezível e podendo constituir uma alternativa quando as das vizinhança falharem, não nos caiu no goto – ao que certamente ajudou o serviço pobrezinho, mas não foi este que determinou a nossa opinião. Contas feitas e cafés tomados, a dolorosa foi adequada: 15€ a cada um e não se falou mais nisso.

Tenham sempre bons apetites, sim, melhor-freguesia-do-mundo? (Não, não registámos a marca, somos uns totós.)

Lado B

Morada: Rua de Passos Manuel 190, Porto
Telefone: 222 014 269
Horário: Seg a Qui – 09h00 às 24h00 | Sex e Sáb – 09h00 às 02h00
Aceitam reservas? Sim

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6 Comments

  1. Morei durante uns anos muito perto do Lado B (quando ainda estava perto da Cedofeita). Fui lá várias vezes lanchar e tomar café, mas comer francesinha só fui mesmo uma vez. Disseram-me que era muito boa e tal, mas não me encheu as medidas. Aliás, a vossa descrição das francesinhas podia ter sido escrita por mim :p

    1. Também foi nesse estaminé de Cedofeita que me estreei no Lado B, com um vale de desconto qualquer: e gostei, mas não fiquei de todo encantada. O serviço foi sobejamente melhor do que agora (e regredir é mau) mas a francesinha manteve-se (o que é bom para quem aprecia e menos bom para quem, como eu, não sai encantado). Obrigada pelo feedback!

  2. Há cerca de duas semanas ia eu ao santa francesinha quando me deparo com um restaurante encerrado à segunda-feira… Quem encerra um restaurante à segunda-feira numa zona daquelas em que há turistas a qualquer dia… Enfim, assim sendo lá fomos ao Lado B (até porque os dois Santiagos mesmo antes das 20h já abarrotavam). Gostei, mas não me deslumbrou. O bolo de chocolate é óptimo, principalmente por ser leve e chocante, mas decididamente não é o melhor do mundo. Mas acho que é um sítio a ir para quem gosta destas coisas.

    Claúdia

    1. Muitos, muitos estaminés fecham à segunda-feira, em todas as zonas da cidade: o Santa Fancesinha fá-lo-á porque tem de haver um descanso semanal e porque não terá ainda estrutura para se manter aberto o tempo todo. :)
      Eu, francamente, não voltarei ao Lado B de livre vontade…

  3. Se pagaram 24.75 por três francesinhas com ovo, cada uma custou 8.25, o mesmo preço da francesinha normal (sem ovo). Ou seja, o senhor até disse bem, “pagam o mesmo”, a matemática dos carapaus é que foi preguiçosa. Parabéns pelo blogue!

    1. Obrigadíssima, Maria Manuel, não nos havíamos apercebido, de facto, que o ovo era grátis, apesar do registo fotográfico (que é todo nosso).
      Não se trata de “matemática preguiçosa”, já que não a praticamos, com preguiça ou sem ela: lemos “francesinhas com ovo” e não gostámos da atitude do empregado, com razão ou sem ela (pedimos francesinha sem ovo, era o que deveríamos ter comido). Se leu a posta e conhece o blogue, sabe que o que pagamos só é motivo de desagrado quando o serviço e/ou o que comemos não nos preenche. foi o caso. :)

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