Permitam-me iniciar com uma declaração de interesses: pese embora eu seja do rock, nunca liguei nenhuma ao conceito Hard Rock Café enquanto estaminé de frequência. Explico-me: acho graça entrar, dar uma voltinha para apreciar as relíquias usadas por gente de quem gosto muito (e de quem nem por isso, por que não?), queixar-me do disparate dos preços praticados e sair com a mesma destreza com que entrei, seja em que cidade for.
Só que depois o Hard Rock abriu (finalmente) no Porto – o que não acho que seja propriamente magnífico para o turismo, como se diz, porque não é isso que distingue a Invicta e atrai os visitantes (vejam lá se o Bourdain vai a estas chafaricas globalizadas ou se prefere ir enfiar-se nos nossos tascos preferidos), mas pronto, abriu. E está num edifício lindíssimo, ali entre a Rua do Almada e a Avenida dos Aliados. E era sábado e a pessoa estava ali a dois passos e a morrer de fome e a pensar onde é que havia de ir picar qualquer coisa – e olhou para o lado e pronto, estava feito.
Entrar no Hard Rock do Porto é particularmente agradável, porque o interior daquilo que anteriormente foi um hotel em nada foi vilipendiado: o contraste entre a decoração e o requinte de outrora dá origem ao casamento perfeito; são três andares amplos, com temas diversos, em que se destaca este ou aquele apontamento referente a um cantor em particular, sem que se perca a noção de que estamos numa construção grandiosa e clássica, com janelas e um pé direito alto.
Há mesas do tipo diner americano, há mesas altas (tipo balcão), há cores e materiais diversos, há azulejos hidráulicos lindíssimos e escadarias bem restauradas, há balcões modernaços e ecrãs planos que passam videoclips e concertos ininterruptamente. E também há uma das maiores valências do Hard Rock portuense, o staff: são simpáticos, apresentam-se pelo nome, dão a conhecer, explicam, têm sentido de humor, bom ar, sugerem, são rápidos e eficazes. Fomos atendidas por uma meia dúzia de pessoas, tudo malta nova, desde o empregado de sala ao chefe de turno, passando por quem nos recebeu e só temos coisas boas a dizer – sendo que o fator humano é um dos critérios que pode fazer-me nunca mais voltar a um estaminé ou regressar com prazer.
Agora o menos bom: os preços. São caros. Tudo no Hard rock é caro. Bem sei que o “caro” é sempre relativo e que estamos a pagar a experiência e a decoração e a proximidade das relíquias e tal. Mas pouco menos de 20€ por um hambúrguer ou uma salada continua a ser uma pipa de massa, sobretudo quando temos coisas de igual qualidade (e superior) na proximidade. Claro que só ali vai quem quer e nós quisemos, pelo que tratámos de minimizar a dor pedindo uma entrada que mataria dois coelhos de uma só cajadada: permitir-nos-ia provar uma carrada de pratos da lista e não ficaria assim tão cara – refiro-me ao Jumbo Combo que, por menos de 19€, nos traz todas as entradas da carta, com exceção dos Classic Nachos.
Pareceu-nos a melhor das hipóteses e pedimos, também, para beber, o belo do fino: uma Heineken e uma Sagres (porque a Super Bock não mora ali – o que será coisa para incomodar muitos, mas eu nunca fui uma fundamentalista cervejeira). Entretanto, nos minutos que tínhamos entre o pedido e o serviço (menos de dez, creio, foi tudo bastante rápido), tratei de ir conhecer e fotografar o espaço – e conheci melhor do que fotografei, como aferirão pelo registo abaixo: o meu telefone estava sem bateria, tive de usar um emprestado e alguns retratos ficaram assaz pobrezinhos, pelo que apelamos para a vossa compreensão.
Servido o pedido, depressa antecipámos que iríamos ficar de barriga cheia: vêm 3 bruschettas (com tomate e queixo curado de cabra), umas sete ou oito rodelas de cebola panadas, três enormes pedaços de peito de frango panado, 3 rolinhos Primavera (muito bem recheados), uma meia dúzia de asas de frango bem picantes e 3 tipos de molhos (mostarda, barbecue e queijo azul). Também há para lá uma amostra de salada, junto aos rolos Primavera, mas é mais para enfeitar do que outra coisa.
Nota importante: tudo estava imaculadamente cozinhado e saboroso, acabadinho de fritar. Ou seja, o género gastronómico não agradará a todos, mas a qualidade é irrepreensível. Também vimos passar enormes hambúrgueres (que se mantêm na vertical porque levam uma faca espetada, o que achei genial), generosos pedaços de entrecosto, batatas fritas apetecíveis – de resto o espaço é enorme e, cerca das 14h, estava cheio. Cheio que nem um ovo, entre turistas (muitos) e locais (diria que pelo menos metade, o que me surpreendeu).
Não poderíamos vir embora sem eu dar a conhecer às minhas papilas gustativas o Cheesecake de Oreo: pousei-lhe o olho mal cheguei e nem os ultrajantes mais de 8€ que custa foram capazes de me demover. Foram minutos de rara felicidade e juro que nem um cêntimo chorei (apesar de continuar a achar um disparate de preço): foi dos melhores cheesecakes que comi em toda a minha vida de enfardadeira e agradará a todos os que, como eu, entendem que um cheesecake tem mesmo de saber a queijo, deixem-se lá de natinhas e semifrios da treta.
No final, uma conta de pouco mais de 16€ por estômago acabou por se revelar bem menos dolorosa do que previamente antecipara: a experiência foi absolutamente positiva, e não apenas no que toca aos (bons) apetites.
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