A nossa ida ao Da Terra da baixa, recentemente inaugurado, foi antes de mais nada uma confirmação: eu e a RV (ou melhor: eu, por causa da RV, que foi quem mo deu a conhecer) fomos durante anos visitas mais ou menos assíduas do estaminé de Matosinhos e não tenho qualquer dúvida em elegê-lo como o meu sítio privilegiado para a comida vegetariana – haverá melhores, dirão os experts; certamente, respondo eu – mas gosto deste, se me dão licencinha.
O novo Da Terra, capaz de albergar pelo menos o dobro (eu atiraria mais para o triplo, mas posso estar a exagerar) dos comensais do mano matosinhense, abriu ali na Mouzinho da Silveira, num espaço com duas frentes e janelas-montra, que enchem tudo aquilo de luz (que imagino agradável, durante o dia, já que fomos ao jantar). Bem perto, o parque de estacionamento das Cardosas assegura que evitemos andar à toa, em busca de lugar para o carro, numa das zonas mais movimentadas da cidade. Curiosamente, naquela segunda-feira, andava pouca gente na rua, apesar do simpático Verão de São Martinho.
Não tivemos dificuldade em arranjar mesa, apesar de nem sequer nos termos lembrado de marcar; ainda assim, o Da Terra estava muitíssimo composto, talvez com dois terços do imenso espaço cheios. Entre mesas quadradas e redondas, cadeiras e sofás (incluindo um espaço muito janota e mais recatado, para um grupo maior) e até dois balcões para uma refeição mais rápida, cabe um mundo de gente ali dentro – com a vantagem de que pode, porque as reposições de comida são constantes (como o são no estaminé-pai).
Uma vez sentadas, foi-nos explicado o modus operandi da casa, que já conhecíamos, mas não quisemos estragar o barato a uma funcionária que não foi brindada com o dom da afabilidade: basicamente, o Da Terra funciona em regime de buffet, que custa 9,90€, excluindo bebidas e sobremesas – e ok, não é propriamente barato e só vale a pena quando vamos carregadinhas de fome (infelizmente, caso raríssimo, não era o meu caso), mas a comida vegetariana é, por norma, mais carota.
Cabe ao cliente, assim sendo, tratar da sua própria subsistência: num balcão junto à caixa, encontramos as entradas, os pratos quentes e a sopa, de que nos podemos servir livremente. Numa vitrina, estão os doces (num total de quatro, naquele dia) e a oferta de sumos naturais e outras bebidas é-nos levada à mesa, para que escolhamos. Abaixo, encontramos pratos de sopa, sobremesa e pratos principais, que começámos por encher com as entradas – e aqui radicará a minha dificuldade maior: a de descrever o que comi (esta vossa criada nunca toma apontamentos e vai com fé, a ver no que dá).
De entre saladas várias, uma tarte de lentilhas, tortilha, espetadas de tomate cherry e soja, bolinhas de soja e uns shots de ervilha, creio não ter gostado apenas destes últimos, por se encontrarem frios; paradoxalmente, uma nota designava-os como “children friendly”, o que achámos estranho, por ser coisa picante. Destaco, nas entradas, o dip de beterraba, acompanhado de umas folhas fininhas maravilhosas, que já havíamos degustado em Matosinhos e de que havíamos ficado fãs. Também gostei particularmente das espetadinhas de tomate com soja e pimento: ligeiramente grelhadas, estavam muito saborosas e desenjoavam de tudo o mais.
Nos eu toca aos pratos principais (que escolhi acompanhar de um sumo de ananás e hortelã), nada me tocou especialmente (mas, renovo, estava num dia de fracos apetites), apesar de ter experimentado de tudo – menos os arrozes, que os havia branco e integral. Saliento um tagliatelle com cogumelos e molho carbonara que, estando já meio frio, fez as minhas delícias (acho sempre a massa muito saborosa quando está já um bocadinho passada e morna – isto se não estiver num restaurante especializado na dita); também havia uma sopa, que não cheguei a provar, e dois tipos de tabuleiros com refogados de legumes bastante bons. (Mais uma vez, note-se a minha absoluta incapacidade para perceber o que estou a comer, as mais das vezes – mas gosto, a verdade é essa.)
Por fim, não resistimos às sobremesas que, não sendo propriamente baratas, normalmente valem a pena: eu, sem variar muito do que é hábito, optei pelo bolo de chocolate, que sabia antecipadamente que seria bom – e não me desiludi: é daqueles tipo fondant e tinha consistência perfeita e sabor óptimo. Já a RV apostou na tarte de açaí, de que gostou exactamente pelo mesmo motivo que eu nunca a apreciaria: tinha pouco açúcar – de resto, não me admiraria que o doce aportado à tarte fosse unicamente da responsabilidade das bananas esmigalhadas com o açaí, que constituem o corpo da tarte, depois polvilhada com o que me pareceu granola.
No fim? Quase 15€ por estômago – que não me custaram, de todo, a pagar: não só se come bem como há a preocupação de ir variando os pratos, sendo que raramente apanhei os mesmos, nas muitas visitas que já fiz, ao estaminé de Matosinhos.
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