Restaurante Antunes Porto | Carapaus de Comida

O repto foi-nos lançado há já muito tempo pelo ZM: “vão ao Restaurante Antunes, na Rua do Bonjardim, comer pernil e beber Espadal”. E nós, que tardamos mas não falhamos e, sobretudo, somos Cardume bem mandado (quando a dica vem de fonte segura), lá fomos: em mês de incursões pela baixa do Porto (que nesta altura do ano já costuma pulular de gente gira pela noite dentro mas, com este tempinho de que nem Carapau gosta, nem por isso), o Restaurante Antunes, ali mesmo no centro de tudo, numa rua pejadinha de estaminés a pedir incursões gastronómicas, vinha mesmo a calhar.

O primeiro problema prende-se com o estacionamento, a ser feito na rua, onde os lugares vagos são raros, mesmo a um dia da semana, antes das oito da noite. Por outro lado, o Restaurante Antunes fecha às 22h, pelo que não convém que nos estiquemos na hora de entrada, sob pena de termos de comer em versão fast forward (o que não é exactamente o nosso género): vai daí, marcámos mesa  (o que não era necessário, visto a casa não estar cheia, mas é um gesto que se tornou parte dos nossos hábitos) para as 19h30, aproveitando uma das poucas quartas-feiras em que nenhum de nós tinha compromissos ao final da tarde.

A entrada é marcada por um balcão comprido, do lado esquerdo, e pela mesa das sobremesas, ao fundo, mesmo à porta da sala principal, que acolherá, à vontade, entre setenta a oitenta pessoas mas que se encontrava ainda meio vazia (um casal nórdico aqui; um outro, nacional, além) a contrastar com o que se passará à hora de almoço, onde há dias em que os mais incautos não encontram mesa disponível (diz quem por lá passa a essa hora). Muito provavelmente, irão todos em busca do mesmo: os famosos assados em forno de lenha – e nós, que gostamos de perceber o porquê dos sucessos, tratámos de os provar.

A decoração do restaurante é, agora, um misto do tradicional com os coloridos enfeites das festas juninas, a antecipar o São João, que se aproxima; ainda assim, o Restaurante Antunes pauta-se pela sobriedade do restaurante tradicional português, capaz de agradar a gregos, troianos e até Carapaus. Nas mesa para cinco que nos aguardava, não havia ainda qualquer tipo de comida, nem sequer o pão – algo que nos agrada é saber que só vem para a mesa o que nos for destinado. Uma vez sentados, e acompanhados por um primeiro empregado (dos três, incluindo o dono ou gerente, que nos serviram), imediatamente nos foi disponibilizada a ementa, que os três Carapaus dispensaram, por irem de barriga feita para o Pernil de Porco Assado (normalmente, a dose é para dois, mas decidiu-se que viria uma para três); a repetente LB e a estreante SMC optaram por dividir uma dose de Posta de Vitela à Mirandesa e, para os bebentes de vinho, uma litrada de Espadal (o nome por que é designado o vinho rosado regional do Minho, uma espécie de rosé [ou rosado, efectivamente, em português] fresquinho, muito agradável).

Enquanto aguardávamos pelos pratos principais (que pouco demoraram), foram-nos servidas tostas com manteiga de alho e salsa, tudo claramente caseiro e, com as sopas de legumes (para o AV e a SMC), um pratinho com cinco mini-chamuças e outros tantos pastéis de bacalhau, tudo acabadinho de fritar e simpático ao palato, embora a chamuça, já muito ocidentalizada, pedisse açafrão. Vieram também duas saladas mistas, cujo tempero não era marcante e acabou por não desagradar a ninguém.

As carnes vieram para a mesa ainda antes das entradas acabadas, antecedidas por um toque de campainha similar ao de uma casa que, colocada por cima da passagem desta sala à de entrada, ao que parece avisa os empregados, sempre que um prato está pronto a ser servido. A ideia é engraçada mas o ding-dong  está a uma altura tal que cheguei a estremecer de susto um par de vezes: decidimos por unanimidade que se trata de factor dispensável ou que, ao menos, deve ser revisto em termos de alcance sonoro.

Ambos os pratos, visivelmente acabados de confeccionar,  foram servidos em recipientes de barro, de forma bem portuguesa (o de pernil saido do forno há minutos), por um terceiro empregado, que nos acompanhou o resto da refeição e cuja atitude foi sempre agradável: atencioso sem ser ‘lapa’, foi fazendo sugestões pertinentes e soube responder a todas as nossas questões com rigor e simpatia.

Passemos, portanto, às provas, e comecemos pelos menos bom, que eu gosto de gradações positivas. A Posta de Vitela, prato que acarreta sempre expectativas altas por parte de quem o pede, não agradou a quem a provou: a carne era baixa e demasiado clara, parecia frita e apresentou-se algo rija, ainda que em quantidade suficiente para duas (que não são sacos sem fundo, convenhamos, porque quer o AV quer eu própria daríamos conta de uma dose sozinhos). Foi servida com batata frita à rodela, caseira, de boa salgadura e um esparregado que só não salvou o prato porque se trata de um mero acompanhamento. Mas já lá vamos.

Já o pernil foi outra conversa: a carne (com alguma gordura, o que não agrada a todos mas é o que a torna mais saborosa) do Pernil de Porco Assado é tão tenra que, segundo o AV, parece fiambre; vem tostadinha por fora e rosada (mas bem passada) por dentro e não obteve reclamações, só elogios (excepção feita para o AV, que não aprecia o género mas lhe reiterou a qualidade). A acompanhar, batatas assadas, embora não tostadas (ponto negativo, segundo o AV, cujo sentido de gosto não foi absolutamente satisfeito, nesta incursão), saborosas e tenras, e o tal esparregado. A verdade é que, à primeira vista, a cor verde-alface e o ar farinhento do dito nos levou a pensar que fosse de algum modo industrial, mas já sabemos que não devemos fazer julgamentos antes de provar; e foi depois de o provar que nos rendemos e nos debatemos sobre qual seria o seu ingrediente principal. “Ervilhas, não vês a cor?”, atirou o AV; “Alface! Alface é que é”, ripostou a LB. Aqui a menina, que tem fama de perguntadora desde que aprendeu a esboçar as primeiras palavras, chamou o empregado a tirar teimas: espinafres, couve galega, grelos e nabiças (e, claro, farinha, azeite e alho) são os quatro legumes de eleição, sendo que há sempre três presentes, dependendo da disponibilidade dos fornecedores. Quanto a mim, se tivesse de eleger o produto-sensação desta incursão, não teria dúvidas: o esparregado. No que toca à quantidade do pernil, e apesar de ter servido três, a verdade é que isso só aconteceu porque o AV não adorou a carne; se tivesse comido normalmente, um de nós ficaria com fome – pelo que se confirma que a dose é para dois, se comerem bem.

Finalmente, as sobremesas: tanto as uvas como a manga, pedidas pela LB e pela SMC, respectivamente, tinham acabado, o que fez com que a LB se juntasse à Carapaua RV e passasse esta fase e levou a SMC a optar por ananás (que era, na verdade, abacaxi). O AV optou (para não variar) pela mousse, que descreveu como boa, mas algo amanteigada (eu adorá-la-ia, portanto); eu optei pelo leite creme, depois de me certificar que era queimado na altura: foi e vinha com uma camada de açúcar daquelas que parecem finas camadas de gelo, para partir com a colher (delicioso!); já o creme propriamente dito era mais pudim do que creme e pecou por já estar feito há algum tempo (talvez as sobremesas sejam feitas de manhã, para todo o dia) mas a quantidade satisfaria muito bem duas pessoas (eu afirmei por duas vezes estar “cheia que nem um padre”, depois da sobremesa, coisa que raramente me sai da boca) e vi-me aflita para o acabar.

Veio o café (apenas para o AV) e a conta – quase a melhor parte da refeição: 12,70€ por pessoa terá sido o segundo valor mais baixo que pagámos até hoje e isto, num restaurante que aceita jantares de grupo e com uma localização tão central (só teria de se negociar a hora de fecho) é pormenor muitíssimo relevante.

Ora então até breve, sim? Bons apetites, entretanto!

Restaurante Antunes | Porto
4 / 5 Carapaus
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Positivos
  • os assados de forno
  • o esparregado
  • Negativos
  • o estacionamento
  • o horário de encerramento
  • a chata da campainha
  • Resumo
    Boa comida tradicional portuguesa, num espaço janota para jantares de grupo baratinhos.
    Serviço4
    Comida4
    Preço/Qualidade4.5
    Espaço3.5
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    Restaurante Antunes

    Morada: Rua do Bonjardim 525, Porto
    Telefone: 222 006 577
    Horário: Seg a Sáb – 12h00 às 15h00 | 19h00 às 22h00
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