Uma das minhas grandes lacunas gastronómicas, no que à oferta da Invicta concerne, é(ra) o Cafeína (e, acrescento já, o seu mano Terra – mas tratarei disso em breve), circunstância que a Zomato, em parceria com o restaurante, fez o favor de alterar quando convidou os dois seres que põem esta chafarica em marcha para um almoço cujo objectivo era reunir alguns dos bloggers e foodies do Porto. Carapau AV, porque impossibilitado de comparecer, num dia útil, ao evento, passou a bola ao TD (um já habitué destas coisas). E lá fomos, ambos sem saber muito bem o que esperar, mas com a certeza de que, o que quer que fosse, seria bom.
Tivéramos a oportunidade de conhecer o Miguel e a Sara na Primavera deste ano, quando a Zomato foi lançada no Porto e eles fizeram o favor de se deslocar de Lisboa para um encontro connosco – e, a partir de então, temos mantido uma relação “profissional” (enquanto amadores, no sentido corrente e etimológico do termo) que se pauta pela proximidade e colaboração e que só nos tem trazido frutos. Este almoço foi mais um, sendo que, se me é permitido dizê-lo, foi o que me soube melhor, até à data, pela possibilidade de privar e conversar com outras pessoas que gostam de comer e contar como foi. Naquele dia, às 13h de um Outono já a dar as últimas, mas belíssimo e solarengo, sentámo-nos à mesa com mais uma dúzia de pessoas, entre as quais, para além da Sara e do Miguel, o Hugo, responsável pelo escritório do Porto da Zomato – e que conhecíamos apenas virtualmente. Conhecemos também a Directora de Comunicação do espaço, que nos deu conta com brevidade do modo como procedia ao seu trabalho.
Antes de mais, uma palavra para a zona em que se situa o Cafeína (bem como os outros três estaminés de Vasco Mourão, o homem por detrás de tantos sucessos, que nos deu o prazer da sua presença, mais para o fim da refeição): a Foz, tanto pela proximidade do mar como pela luz que emana, é um dos meus sítios preferidos do Porto, onde tenho o privilégio de trabalhar todos os dias. Depois, há os espaços (a Casa Vasco, o Portarossa e o Terra, para além do que hoje aqui nos traz), eles mesmos expoentes máximos de um bom gosto discreto mas vincado, sem excessos e cheio de carácter.
O Cafeína tem um ar clássico e requintado e, simultaneamente, acolhedor e cheio de uma luz muito própria, ao que ajudou o posicionamento da nossa mesa junto à janela. Junto a ela, aguardavam já o resto dos convivas, que conhecemos pela mão da Sara e junto de quem nos sentámos, minutos depois, abertas as “hostilidades”. E foi enquanto provávamos um couvert composto por diversos tipos de pão (boníssimos, todos eles), que barrámos com pasta de frango e pesto (uma delícia) e uma manteiga caseira acompanhada de flor de sal (um delírio para uma manteigueira como eu) que fomos trocando cromos e experiências e aprofundando o conhecimento dos nomes que, até então, não passavam de realidade virtual.
Enquanto isso, as beberagens passavam por vinhos tinto e branco (ambos agradaram), e as entradas foram servidas: de acordo com o menu que nos foi previamente dado a conhecer, fizemos a folha a Alheira de Caça Crocante (porque passada por um polme interessante), com puré de maçã e beterraba, que estava muito boa, ainda que nem eu nem o TD sejamos grandes apreciadores das frutas mescladas com os sabores salgados.
As pausas entre pratos foram as adequadas para uma refeição cujo principal objectivo era, antes de mais nada, o convívio – mas a verdade é que, para quem tinha horas marcadas para voltar à labuta, a coisa começou a tornar-se complicada (e, no entanto, absolutamente contornável, que valores mais altos se levantavam).
Seguiu-se o prato principal, Bacalhau Gratinado com “Aioli”, Migas de Grelos e Radiccio, que estava uma maravilha, mesmo para quem, como eu, não é especial admiradora do fiel amigo. Uma nota também para a apresentação dos pratos, absolutamente irrepreensível e, ela mesma, a despertar apetites.
Nesta altura, o relógio já parecia sprintar, comendo as horas de uma tarde de que não dispúnhamos, pelo que foi já com alguma ansiedade que escolhemos as sobremesas, da carta habitual do Cafeína: eu, como não podia deixar de ser, não pude resistir ao famoso Bolo de Chocolate Amanteigado (para mim, só superado pelo da Cufra, mas muito próximo deste) e o TD pediu a Tarte Tatin Quente com Natas Batidas – e foram ambos o complemento perfeito para um repasto que, por nossa vontade, teria durado mais umas horas.
Foi com pesar mas sentido de dever que nos despedimos de todos, agradecendo o convite e a experiência, proporcionadora de apetites incríveis, temperados pela benesse de podermos falar de comida com quem gosta de comer. Obrigada, uma vez mais, ao Miguel, à Sara e ao Hugo pelo privilégio; e uma palavra de apreço ao Cafeína pela iniciativa conjunta: foi um prazer e ficou-nos a certeza do regresso, tão rapidamente quanto nos seja possível.
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