Adega São Nicolau | Porto | Carapaus de Comida

Se me permitem a honestidade, começo por dizer que a Adega São Nicolau esteve longe de ser a nossa primeira escolha para a noite em causa – a verdade é que decidimos marcar um jantar para cinco pessoas com 48 horas de antecedência e a coisa estava assim para o difícil, o que só prova que a noite portuense continua vivíssima e recomenda-se. Vai daí, depois de um punhado de tentativas frustradas, seja porque os estaminés que queríamos experimentar estavam cheios, seja porque nos impunham um horário limitado (por exemplo: que nos despachássemos entre as 8h00 e as 21h30, o que para nós, que gostamos de estar à mesa, é absolutamente contranatura), não nos foi possível assegurar qualquer das reservas que primeiramente intentámos.

Já em desespero de causa, não porque na Invicta faltem opções, mas porque nos apetecia um sítio que nos proporcionasse simultaneamente boa comida e um serão bem-disposto e relaxado, ocorreu-me que o meu irmão, que viera ao Porto em trabalho no início da semana, tivera um jantar com os colegas num sítio novo, de que gostara bastante: é aqui que entra a Adega São Nicolau, sita na rua com o mesmo nome, ali mesmo à beira-rio, na Ribeira.

Por boa fortuna (e tenho noção de que foi mesmo um golpe de sorte, sobretudo depois de lá ter estado), havia uma mesa para nós, a partir das 21h (o que significa que alguém ia ser bastante expulso, a esta hora, para nos dar lugar) – e fechei o “negócio” sem pensar duas vezes.

Na noite agendada, tinha chovido violentamente à tarde mas, bendito seja São Pedro, a noite estava húmida mas sem aguaceiros; ainda assim, foi com alguma surpresa que vi a pequena (mas engenhosa) esplanada repleta de gente: pela estreita rua acima, mesas de quatro e duas pessoas contrariam a considerável inclinação, aquecidas por lareiras verticais de exterior – o que me causou uma certa inveja, já que a vista para o rio Douro e para a Serra do Pilar é, dali, deliciosa.

Claro que, bem vistas as coisas, uma mesa interior é sempre mais confortável numa noite de Outono a puxar para o frescote; ainda assim, a nossa sofria de um enorme inconveniente: era uma mesa para quatro, onde tiveram de caber cinco (e não, não no-lo comunicaram de antemão), o que é sempre algo desagradável, mesmo que caibamos, como foi o caso. Aqui, acresce que o espaço entre as mesas é diminuto, o que agrava ainda mais as circunstâncias: quem estava nas extremidades ou de costas para a passagem para a cozinha, tendia a (por mais desembaraçados e cuidadosos ou habituados a desviar-se de “obstáculos” que fossem os funcionários – e eram-no) sofrer algum contacto físico por parte de quem se desloca no ínfimo espaço interior, mesmo que apenas para ir à casa de banho.

Evidentemente que, se não fosse assim, provavelmente, não teríamos tido mesa – e apreciámos sobremaneira a gentileza – mas ainda assim, e porque não há forma de fazer esticar o espaço, era importante dar conta aos clientes dos constrangimentos, de modo a que pudéssemos decidir se nos apetecia sujeitarmo-nos a eles ou nem por isso (e nós se calhar acataríamos a coisa).

Uma nota final para a estética do espaço, que é muito interessante: as paredes são revestidas a madeira clara e fizeram-me lembrar o interior de um barco (também nos pareceu uma pipa de vinho, mas optámos pela interpretação do barco, que sempre é mais elegante) e a luz é quente e acolhedora – embora inimiga das fotografias tiradas com a câmara do telefone-a-precisar-de-ser-substituído, como vos será dado a ver pelos retratos amarelados que acompanham esta prosa.

Quanto à experiência gastronómica em si, só temos coisas boas a apontar: eu e a AC escolhemos as Lulas Grelhadas, que viriam servidas com batatas cozidas e que foram substituídas por batatas a murro, a nosso pedido; a SC e a MBC optaram pelos Bifinhos de Atum Grelhados (mesmo acompanhamento original, igual pedido de substituição) e a MB escolheu a Bochecha de Vitela Estufada, servida no tacho e acompanhada por arroz branco. E a verdade é que, às primeiras dentadas, estava feita a apreciação: das suas (salva seja) bochechas, a MB disse parecerem “um estufadinho caseiro”; os bifinhos de atum só mereceram elogios; já as nossas lulas, encontravam-se no ponto ótimo: tenras mas sem perderem a consistência. É que até as batatas, que primeiramente granjearam olhares de esguelha, por mais parecerem terem levado um tabefe mal dado do que um murro como deve ser, eram saborosas e macias como poucas e combinavam lindamente com a fina cama de azeite a saber a alho, em que repousavam.

Para beber, a nossa perita AC tratou de escolher a beberagem: fizemos a folha a duas garrafas de CARM, um maduro branco do Douro servido fresquinho, que nos soube muitíssimo bem.

A nossa única crítica, nesta dimensão, vai para a falta de legumes: pedimos que nos trouxessem verduras “com fartura”, veio apenas uma travessa de couve cozida (saborosa, mas a precisar de cor); quando quisemos repetir, não havia mais nada – e parece-nos desadequado que um estaminé com tanta afluência não esteja preparado para, num sábado à noite, servir coisas verdes aos clientes, a mais de uma hora do horário de encerramento.

Quando chegou a hora das sobremesas, foi-nos sugerido que deixássemos que escolhessem por nós, pelo que nem olhámos para a ementa – e, se por um lado me agrada que me sirvam o que de melhor a casa tem, por outro fico sempre na dúvida (sobretudo depois da falta de legumes): será que havia mais alguma coisa? Neste caso, não foi preocupante, porque gostámos bastante do que o funcionário nos trouxe: seminaristas (jesuítas pequeninos) frescos e fininhos, toucinho-do-céu saboroso, uma torta de laranja com passas fantástica, e um quindim que reuniu a preferência da maioria – embora nisso não tenhamos estado de acordo: umas gostaram mais de uma coisa, outras de outra… e eu gostei igualmente de tudo, porque não consigo comparar coisas diferentes e sou mocinha de bom palato, vá.

Passámos aos descafeinados e à conta, que se revelou também ela uma excelente surpresa: 22,70€, que passámos a 23,50€ – porque apreciámos o serviço, embora saibamos que poderá não agradar a toda a gente: não discuto a competência, mas a descontração é rainha, o que pode não convir a todos os clientes.

Em jeito de conclusão, a Adega São Nicolau é estaminé que recomendo sem hesitações, não só apenas pelo que lá nos é dado a provar, mas também pela localização privilegiada, que o torna um sítio onde locais e turistas (nacionais e estrangeiros) se encontram, num ambiente eclético e descontraído.

Adega São Nicolau | Porto
4.4 / 5 Carapaus
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Positivos
  • As doses
  • o espaço
  • a localização
  • Negativos
  • A ausência de espaço no interior
  • a falta de legumes
  • Resumo
    Em local eminentemente turístico, há lugar para os locais que gostem de comer bem, a preços médios, com uma vista de cortar a respiração.
    Serviço4
    Comida4.5
    Preço/Qualidade4.5
    Espaço4.5
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    Adega São Nicolau | Porto

    Morada: Rua de São Nicolau, 1
    Localidade: Porto

    Telefone: 222 008 232
    Horário: Seg a Sáb – 12:00 às 23:00
    Aceitam reservas? Sim

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