Ora vamos lá começar pelo início, sem perder muito tempo: há muito tempo que andava a dizer que queria aprender a fazer sushi quando, no Verão passado, a RV me ofereceu pelo aniversário um workshop orientado pelo Sushi Chef Ruy Leão, de que há muito ouvia falar pelo seu aplaudido trabalho no Quarenta e 4, em Matosinhos. Por coincidência, a JS e o AG tinham comprado vales para o mesmo evento, que acontecia em dois fins-de-semana sucessivos, certificámo-nos de que conseguíamos vagas para o mesmo dia e foi assim que, em Outubro passado, passámos de meros apreciadores/deglutidores a gente que até se safa a fazer o arroz e a cortar o peixe e a enrolar tudo e a cortar as peças. Mais: o trabalho do Ruy cativou-nos também porque ele não alinha cá em frutinhas e outras loucuras que por aí grassam, cedendo unicamente no que toca aos quentes, que são já fusão – mas não mais (o que vem ao encontro do nosso gosto pessoal).

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Em Dezembro, depois da anunciada saída do Ruy do Quarenta e 4, ainda marcámos mesa e lá fomos (nós os quatro, a BS, a DB e o RC, que costumam alinhar nestas incursões nipónicas) experimentar-lhe a arte in loco, antes que se fizesse tarde – mas confesso que, na altura, não fiquei de todo deslumbrada. Mas agora o Ruy ia abrir um estaminé só dele, cuja evolução até à abertura fomos acompanhando no Facebook: finalmente, a Shiko – Tasca Japonesa abria portas, com um nome a homenagear o projecto Shika, a motoreta com que o Ruy leva(va) as suas iguarias por aí (e é uma pena que não sejam mais requisitadas, creio que há zonas onde só se beneficiaria com a possibilidade de comer estas coisas ao almoço).

Andámos umas semanas a tentar conciliar horários e disponibilidades, até que finalmente a coisa se marcou: seria na véspera de um feriado e ficaríamos na mesa do chefe, onde sabíamos que pagaríamos 40€ à partida, só pelos comes – o que nos elevou (ainda mais) as expectativas.

No dia marcado, estávamos em pulgas, obviamente (de resto, faláramos nisso a semana inteira). E foi com o mesmo espírito que estacionámos numa ruela paralela à Rua do Sol, onde mora a Shiko: se descermos da Batalha para a Sé, encontramo-la à esquerda, mesmo antes da Universidade Lusófona (há um parque ao fundo da rua, já agora). Cá fora, a motoreta-Shika dava o mote e, na montra, um quadro de lousa anunciava o menu de almoço e o de jantar (sendo esse sempre à carta). Quando se entra, tudo chama a atenção, desde as mensagens em lousa, do lado direito, aos vasos com plantas junto ao tecto; o próprio balcão de onde saem as iguarias e as mesas têm um toque original, bem como a luz, tão acolhedora.

Já na mesa do chefe, onde fomos simpaticamente acolhidos pelo Ruy e pela Alexandra (a quem devemos agradecer o facto de o Ruy ter ficado por terras lusas), o casal por detrás deste projecto, era tempo de apreciar tudo o que nos rodeava, antes que o paladar controlasse tudo o mais. Tudo ali foi pensado até ao último detalhe: a cortiça com facas espetadas mesmo por cima das cabeças de quem tem o privilégio de ficar na “nossa” mesa, as loiças, a disposição dos pauzinhos e a garrafa do molho de soja (divino, este) – um manancial de bom gosto, o Shiko.

Explicaram-nos que nos seria servido o couvert e as entradas escolhidas pelo Chef, após o que viria sushi até que nos fartássemos. Pareceu-nos excelente negócio, que fizemos acompanhar pelo único rosé à disposição e que estava óptimo e fresquinho (para além de ter um rótulo delicioso – que querem? Carapau liga também a estas coisas). E a partir daqui, caro Cardume, foi um festim – nem no tempo da mais absoluta das monarquias alguém terá sido tão bem servido, garanto-vos.

O couvert foi, desde logo, um cartão-de-visita fenomenal: composto por aquilo a que o Ruy Leão chamou de “tremoços japoneses” (pareciam mini-favas, servidas ainda na vagem e temperadas com sal grosso, mas são na verdade Edamames, grãos de soja verde vaporizados em flor de sal), um tofu com um molho que nem vos digo nem vos conto e sementes de sésamo, mais uma tempura de tomates cherry (que são, por si só, uma experiência incrível para o palato), é coisa para agradar os mais sedentos de originalidade (sem perder a personalidade nem cair em facilitismos desajustados).

A partir daí, aquilo parecia um filme dos bons: as coisas vinham, eram comidas, vinham mais, eram deglutidas, tornavam a vir e, a cada uma, o Chef parecia superar-se. Passo a enumerar os petiscos que nos foram postos à frente (e que farão o favor de conferir na galeria de fotografias, abaixo): Okonomiyaki, descrita como a típica panqueca japonesa, com marisco e bacon, cebolo, gengibre, nori, maionese japonesa e molho típico (que é só assim uma coisa tipo óminhanossassinhôra, quero ficar aqui para sempre: saborosa como poucas coisas que tenho comido); Tempura de Caranguejo, que consiste em caranguejo de casca mole frito (pelos vistos, o bicho é apanhado em época de muda da cobertura, fenómeno que nem sabíamos existente), molho ponzu de citrinos, gengibre e alecrim (outra delícia a que qualquer descrição será incapaz de fazer jus); Tori Nanban, frango frito em molho agridoce da casa (e não suspirem, enfadados, com o pensamento de que se trata de coisa banal: nada o é, quando é supremamente confeccionado); cavala marinada e braseada, num molho que era qualquer coisa de entoar cânticos laudatórios, e acompanhada por algas miso (esta ausente da lista); e, finalmente, neste departamento das entradas, Sunomono de Peixe, algo que já havíamos experimentado no Quarenta e 4 e adorado: trata-se de uma mistura de pepino agridoce com cubos de peixe fresco (eminentemente salmão) que até a mim pôs a suspirar – logo eu, que nem sequer gosto de pepino.

Nesta altura, metade de nós havia já declarado que, se ficasse por ali, estaria satisfeito, mas o Chef não nos deu tréguas(nem eu as queria): agora era tempo de sushi – e que sushi, caramba. Não houve peça que não nos fizesse revirar olhos de satisfação ou não arrancasse um burburinho de elogios e suspiros de gáudio, tanto da mera óptica do utilizador (em que somos versadíssimos) como do ponto de vista dos aprendizes que têm mais um DIY feito-em-casa marcado para o fim-de-semana que vem. Mais: de tudo vieram sempre quatro peças, para que todos pudéssemos provar. E de uma coisa estávamos certos, nesta altura: já todos comemos sushi em muito lado, caro e barato, em Portugal e fora dele, feito por gente de renome ou nem por isso, mas estávamos perante o melhor sushi (e entradas, não as deixemos de parte) que alguma vez nos fora servido; somos quatro criaturas sobejamente diferentes em quase tudo e nos apetites também, pelo que este consenso não é de somenos, garanto.

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Claro que, já satisfeitos, mas ainda não cheios, e embora já com uma desistência (a JS é mais sensata do que os restantes, nos quais me incluo), aceitámos a oferta de mais umas peças, que saboreámos com igual entusiasmo – e ficámo-nos pelo segundo round, que até para nós já estava bom, mesmo porque queríamos partir para as sobremesas (eu lá sairia dali sem provar um docinho?!). E, quanto a estas, uma palavra, em várias sílabas: ma-ra-vi-lha. Não é raro encontrarmos estaminés (mesmo os tipicamente nacionais) em que as sobremesas não correspondem ao primeiramente saboreado ou, correspondendo, são de um preço de fazer corar mesmo o Carapau mais gastador. Aqui, não só os valores são absolutamente adequados como o que se come é digno de chafarica especializada em doces.

Como não chegávamos a consensos e o interesse era provar tudo, mandámos vir as três sobremesas listadas, para dividir por todos, sendo que só tenho elogios a fazer. É que até o Kasutera, pão-de-ló japonês com sementes de sésamo, compota de abóbora e amêndoas, era delicioso, e eu não sou de todo perdida por pão-de-ló. Os meus preferidos foram, sem surpresas, o Brownie de Coco Com Caramelo da Baronesa e o Merengueda Miss Pavlova – coisas para nos conquistarem pela gula e o remate perfeito para um repasto sem mácula.

No final, a conta de 50€ por estômago pareceu-nos imensamente barata, não só porque esperávamos pagar mais (dados os 40€ fixos e tendo nós bebido duas garrafas de vinho, dois refrigerantes e três sobremesas) mas, sobretudo porque se confirma, mais uma vez, a teoria carapauniana de que não há cá caros/baratos em termos absolutos: podemos pagar 10€ por um sushi e achar que foi um roubo (como nos aconteceu recentemente) ou deixar 50€ e achar que foi baratíssimo, como aconteceu no Shiko.

E isto, caros amigos, sucede só porque não há preço para os bons apetites, como os proporcionados pelo Sushi Chef Ruy Leão. Bem-haja por isso, o Porto já merecia uma Tasca assim.

Shiko | Tasca Japonesa

Morada: Rua Sol 238, Porto
Telefone: 223 239 671
Horário: Ter a Sáb – das 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 23h00
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