Já lera qualquer coisa sobre este novo estaminé, inaugurado no início de dezembro, na Rua da Picaria; adicionalmente, no fim de semana anterior, também à mesa, alguém me relembrou de que ele existia – e vinha a calhar para o jantar de segunda feira, visto que havia teatro no Sá da Bandeira às 21h30 e teríamos cerca de uma hora para comer qualquer coisa e pôr a escrita rapidamente em dia. É que o conceito da Casa das Arepas é justamente o de “fast food venezuelana”: se recorrermos à famigerada Wikipédia, que nestas coisas costuma ser mais ou menos fiável, temos que “a arepa é um prato de massa de pão feito com milho moído ou com farinha de milho pré-cozido nas culinárias populares e tradicionais da Venezuela, Colômbia e Panamá. É um dos pratos tradicionais e emblemáticos da Venezuela e Colômbia”, ou seja, estamos perante um novo espaço que oferece sandochas feitas a partir de arepas.
De resto, e para já (porque já li que a intenção é estender a carta, incluindo entradas e sobremesas), o que há ali é mesmo só isto: arepas. Os recheios variam e, por ora, temos alguns mais tipicamente sul americanos, intercalados com outros, claramente a puxar à portugalidade: imagine-se um que é praticamente uma francesinha, e um outro, arraçado de bacalhau com natas, ou mesmo aquele que é constituído de alheira, ovo estrelado e couve portuguesa.
Evidentemente, ou nem eu seria eu, apetecia-me desmesuradamente o que se assemelha à francesinha, mas a ideia acabou por me soar a parva: quis o Maracaibo, com frango, pimento e maionese de abacate, enquanto que a RP acabou por escolher o Bolívar, com feijão preto, bacon e queijo mozarela – todos os menus vêm com batata frita e “molho do chefe”.
Para beber, optámos pelo belo do fino, apesar de haver especialidades como os mojitos (tradicional e de frutos vermelhos) e a sangria de vinho do Porto – e ambas as opções me pareceriam muito bem, não fora o pouco tempo que tínhamos para a saborear, pelo que ficarão para uma próxima oportunidade. Também escolhemos as arepas grelhadas, já que a alternativa eram serem fritas – e temos gordura suficiente nas nossas vidas para a evitarmos, quando faz sentido que o façamos.
As sandochas não demoraram muito tempo a chegar, sendo que a casa estaria talvez com três quartos dos lugares ocupados e só se encontrava uma pessoa a servir às mesas – a RP fez uma pressãozinha aquando do pedido, dada a nossa limitação de tempo, mas creio que o serviço estava a ser relativamente rápido para toda a gente. E lá vieram, numa espécie de um prato-travessa: as batatas, a sandes e a tal molhaca. As batatas são claramente caseiras, cortada em palitos bem grossos, e bem saborosas; já o molho “do chefe” é apenas um eufemismo para o molho cocktail (maionese e ketchup) do costume, percebemos rapidamente – e, até aqui, nada de avassalador.
Já as sandochas, e ao contrário do que é comum, têm como elemento de interesse o que as reveste e não o recheio: as arepas são feitas de uma massa leve e simpática; mas, infelizmente, se a parte de baixo se apresentou fininha e crocante, a de baixo estava húmida, quase crua – e isso não me incomoda per se, mas gostaria de ver a crocância replicada. Já o recheio é assim uma espécie de meh: não é mau de todo, mas também não surpreendeu nem encantou nem avassalou.
O serviço é competente, sem grandes laivos de originalidade ou simpatia (sobretudo quando se tentou reservar, ao telefone, porque o site da Zomato o aconselhava, a empatia foi mínima – e ficámos a saber que só há marcação de mesa para um mínimo de seis pessoas), o espaço é despojado mas com alguma preocupação estética (as ripas verdes no teto e os apontamentos de vegetação demonstram-no) e, o melhor de todo, o preço é mesmo muito amigo da carteira: pagámos cerca de 6,50€ cada uma, o que não está mesmo nada mal para um jantarinho na Baixa.
Talvez regressemos, quando a ementa tiver outras atrações, mesmo porque o horário (corrido, entre as 12h00 e as 24h00) é muito simpático para quem gosta de comer fora das horas a que os estaminés da Baixa são mais disputados: não ficámos deslumbrados (porque a originalidade – ou a falta dela – acabou por ser dececionante) mas não desistimos dos bons apetites num sítio tão bem localizado e conveniente.
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