Ao contrário do que diz a tradição popular, eu cá sou pelo regresso aos lugares onde já fomos felizes. Tendo crescido no Castêlo da Maia (onde vivi entre o ano e meio e os 12 anos), aqui a meia dúzia de quilómetros do Porto, a verdade é que passei anos sem lá ir: primeiro porque a adolescência é parva, depois porque estudei e trabalhei fora, finalmente porque só regressei à Invicta há onze anos – e a verdade é que fui ao Castêlo logo depois, tendo visitado o Café nesse mesmo dia. Tornei a ir para aqueles lados entretanto, como contámos numa crónicas dos primórdios dos Carapaus, a propósito do João da Requieira, mas não com o fim de rever lugares e pessoas. Tudo mudou este Verão: aquela que é uma das minhas amigas mais antigas encontrou-me no Facebook (e vivam as redes sociais!) e rapidamente tratámos de mitigar as distâncias, sendo que uma das reuniões foi marcada justamente para o Café Castêlo, propriedade dos pais dela, onde passava a vida quando era miúda (mesmo porque ambas morávamos a metros dali).
O Café Castêlo é o típico café onde se vai , não se está – não sei se me faço entender com esta expressão, mas quero com isto dizer que há aqueles sítios onde entramos para tomar café, comprar tabaco ou pastilhas elásticas ou até para comer qualquer coisa, mas não é o sítio de que nos lembramos quando queremos marcar um rendez-vous com os amigos. É evidente que há aqueles que, fora das horas de ponta, aparecem para ler o jornal e ficar por ali um bocado, mas as horas de maior enchente serão as depois das refeições ou, claro, ao domingo todo o dia – e há ali clientes de uma vida inteira, fiquem sabendo. E é uma pena que assim seja, porque o andar de cima é agradável em dias de sol, e o que ali se come é estupidamente bom e barato: a lista não é vasta (nem tem de ser, não é esse o objetivo) e não se trata propriamente de comida dietética, mas para quem gosta de petiscos, este é o sítio para ir comer uma francesinha ou um cachorro, beber uns finos e, em dias de sorte, comer moelas ou rojões feitos pela D. Irene.
De resto, devo dizer que as moelas que ali se comem são as melhores que degustei em toda uma vida de enfardanço: a D. Irene tempera-as com um nadinha de pimentão, que altera tudo (para muito melhor); depois, são tenras e aquele molho só apetece beber de golada. O mesmo funciona para os tremoços com azeitona miúda: são tão grandes e saborosos como me lembro deles, há uns 35 anos, nas tardes de Verão em que íamos com o meu pai ali beber qualquer coisa e trincar umas coisas boas.
Depois, há as sandochas janotas, das quais apreciámos a tosta mista e o cachorro com molho, no prato, sendo que este é recheado muito à imagem do que conhecemos do Gazela ou da República dos Cachorros, mas com quantidade mais generosa: há salsicha fresca, linguiça e queijo dentro de um pão estreito e comprido cortado a meio e regado com um molho maravilhoso, ao menos para os que gostam deles caseiros, bem puxadinho no picante e com o tomate bem presente. É este mesmo molho que é usado nas francesinhas e nas mistas, sendo que ambas têm a particularidade de ser servidas em pão biju, já que ali o de forma não entra (isto explica-se pelo facto de o Sr. António, quando abriu o estaminé, ter aprendido a montar estas maravilhas na Regaleira, onde a francesinha “original” se serve justamente neste tipo de pão).
Se eu aconselho? Olhem, pazinhos, aconselho muito. É evidente que não sou imparcial, visto conhecer os donos há quarenta anos e senti-los como sendo família. Mas justamente por isso, jamais os sujeitaria a uma apreciação que não correspondesse à realidade, sob pena de choverem críticas. Por isso deixo claro que o espaço não é propriamente bonito mas que tem Sport TV (e há lá coisa melhor do que ver a bola a comer estas coisas boas, regadas a cervejinha borbulhante?), um empregado que granjeia a simpatia de todos (e que conheço há mais de trinta anos) e um horário alargado (entre as 7h00 e as 11h00) ideal para a estudantada do ISMAI e outras entidades formativas que por ali se instalaram.
Eu cá regresso em breve: vamos soprar as velas ao Café Castêlo, que comemora os seus 44 anos para a semana – e eu faço sempre questão de celebrar as vidas boas.
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Café Castêlo | Maia
Localidade: Maia
Telefone: 229 810 481
Horário: Qua a Seg – 07h00 às 23h45
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