Estava programado há muito: no dia em que fôssemos à conquista do Gerês, o jantar seria no Restaurante Abocanhado, em Brufe (Terras de Bouro), conhecido tanto pela sua gastronomia (tipicamente portuguesa, enfatizando a qualidade dos produtos da zona) como pela sua arquitectura e modo sublime como foi integrado na paisagem por quem o desenhou (a dupla António Portugal e António Maria Reis, premiados em 2005, em Miami, pelo feito). Inaugurado em 2006, é, desde então, local de peregrinação por parte de devotos desta coisa do bem comer, que lá vão propositadamente para saborear as iguarias e desfrutar do espaço. Esta vossa criada (imaginem uma vénia cheia de salamaleques) já lá fora em Setembro último, e para parte da nossa vasta comitiva o estaminé não era novidade mas nem por isso nos entusiasmou menos.

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Desta feita, a incursão revestiu-se de contornos especiais: éramos vinte (alguns habitués das inscursões do Cardume e uns quantos estreantes) e, antes do repasto, marcado para o jantar de domingo, tínhamos um dia inteiro de caminhada por terrenos acidentado e a busca de duas caches (em que o Carapau AV se revelou exímio), para abrir os apetites (se preciso fosse…). Não vos irei maçar com descrições do dia (para os mais curiosos, a reportagem fotográfica está no Câimbras Mentais) porque aqui o negócio é mesmo o que se come e o que se bebe (e sandochas de piquenique mais água bebida de garrafas de litro e meio são janotas mas não cabem).

Abocanhado | A vista da esplanada
A vista da esplanada

Passemos, portanto, ao Abocanhado, onde chegámos bem cedo e nos refastelámos numa esplanada com cadeiras a menos mas espaço que sobrasse para repouso dos nossos corpos já cansados. Nenhuma fotografia tirada pela mão de uma amadora como eu fará jus à paisagem que dali se avista: falta-lhe os cheiros, os movimentos, o ar, os sons, as matizes tal-e-qual – mas nós não deixamos de tentar.
Informados de que só poderíamos jantar a partir das 19h15 (e ainda não eram 18h), fomos pedindo o que beber (a maioria escolheu os inevitáveis finos, pois então) e trouxeram-nos pinhões ao natural e amendoins salgados, que desapareceram num ai. Enquanto isso, tivemos a ementa à disposição, para escolhermos os pratos (que vêm empratados, pelo que correspondem sempre a doses individuais).

Tendo sido informados de que não havia cabrito (o que frustrou os apetites de quatro comensais) nem lombo, a lista final elegeu: quatro tibornadas de bacalhau, cinco postas à Abocanhado, seis costeletas da Serra Amarela, uma pá de porco assada com puré de maçã, um javali com arroz de carqueja, e quatro doses de bacalhau com migas. Para abrir hostilidades, elegemos como entradas, para além do pão de mistura e manteiga (empacotada) à nossa disposição, pratinhos de rojões, tábuas de enchidos e morcela com legumes.

Restaurante Abocanhado | O javali
O javali

Tratando-se de uma mesa de vinte e um (uma vez que convidámos o senhor que nos conduziu em mini-autocarro alugado para se juntar a nós), não foi possível recolher impressões tão pormenorizadas como é nosso uso, mas podemos assegurar que as carnes mereceram aclamados elogios (tenras, saborosas, suculetas), sem excepção, enquanto que os pratos de bacalhau recolheram a quase unanimidade (tirando o bacalhau com migas, que a FMM achou insosso e a IP algo seco – mas que, em contrapartida, recebeu elogios de todos os outros que o provaram, pelo que cremos tratar-se de uma questão de gostos pessoais).

Já satisfeitíssimos em termos de fome, sobrava-nos o apetite, pelo que era tempo de eleger sobremesas: de entre a oferta (que acaba por ser mais vasta do que a respeitante às proteínas), foram eleitos melão, maçã assada, pudins de ovos, Abade de Priscos e de côco com ameixas em calda, requeijão com doce de abóbora e doce da casa. Se excluírmos a maçã assada, que estava fria (o que não agradou à AB, que as prefere acabadas de sair do forno), por entre as interjeições de regalo, só se ouviram elogios, incluindo ao (habitualmente sensaborão) “da casa”, cujos doces de ovos eram de qualidade superior.

Saliente-se ainda o facto de que quem havia ouvido falar do Abocanhado, sem o conhecer, sentiu as expectativas algo defraudadas, o que não é de admirar.

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Uma nota apenas para o serviço, que consideramos um tanto “trapalhão” para o restaurante em causa: ao empregado que nos serviu a maioria do tempo, pese embora atencioso (por vezes demais) e formal (também em excesso, não tendo sido capaz de se adaptar ao grupo que tinha à frente), falhavam-lhe pormenores como o de saber que o copo de vinho nunca se enche como ele o atestou ou que os pedidos dos clientes (“mais azeite, por favor!”) são para satisfazer. Talvez fosse novo na casa, talvez lhe faltasse formação (infelizmente, nem todos os empresários de restauração perceberam ainda que contratar profissionais sem treino específico só os prejudica), mas a verdade é que carecia do requinte que se espera de um ambiente como é o do Abocanhado.

Cafés tomados, era tempo de fazer contas e regressar ao Porto, uma vez que no dia seguinte era dia de trabalho para a maioria e tínhamos à frente uma viagem de hora e meia, pelo menos: 28,65€ a cada um (sendo que, dos 21 que comeram, só 20 pagaram, porque oferecemos o jantar ao motorista) não nos pareceu excessivo, sobretudo tendo em conta a quantidade de bebidas que foram servidas antes de jantar e sabendo nós que, ali, não é apenas a comida que se paga: toda a envolvência tem um valor incomensurável.

E é isto, freguesia! Bons apetites, sim?

 

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