La Bohème | Porto | Carapaus de Comida

Era sábado e chovia que se fartava. Não se tratava do dia ideal para uma grupeta de amigos decidir ir jantar fora, mas valores mais altos se levantavam: haveria de ser e teria de haver francesinha, que uma das convivas vem ao Porto vezes de menos e precisa de matar o vício, quando o consegue. A ideia era ir a um sítio giro, na Baixa, que nos proporcionasse bons comeres; o problema era que só decidimos o jantar no próprio dia, a meio da tarde, e os primeiros sítios giros que me vieram à cabeça (Brasão e Capa na Baixa) tinham já, naturalmente, a lotação esgotadíssima.

Quando recebi a mensagem que indicava o ponto de encontro e local de enfardanço, confesso que não percebi imediatamente que sabia o que era o La Bohème: o nome era-me vagamente familiar, mas não conhecia identificar com rigor em que circunstâncias o conhecera. Apenas quando procurei a morada, na Zomato, cheguei lá: mas afinal queriam levar-me para um sítio manhoso, na Rua das Galerias, frente a cuja porta estive tantas vezes, naquelas noites imensas, de amigos, copos e muita conversa. Não me compreendam mal: nada contra o local, mas lembro-me de um balcão corrido e sempre molhado de cerveja, nos dias mais cheios e, ao fundo, umas mesinhas sem qualquer requinte onde, em dias de chuva, com sorte, arranjávamos lugar para nos sentarmos e trincarmos uns tremoços e uns amendoins, a acompanhar os finos.

Por isso quando, passadas umas horas, já depois das 21h, entrei no La Bohème, só não me caiu o queixo porque não tenho problemas de maxilares: não é só o espaço que está renovado, bem decorado, com um ar acolhedor e contemporâneo, é também o ambiente que por lá se respira que parece outro. Continuamos a ter um balcão, agora de madeira clara e design falsamente grosseiro; por detrás, estantes altas oferecem-nos a visão de garrafas de vinhos e outras espiritualidades, sob um jogo de luzes que ilumina apenas o suficiente.

Os meus compinchas aguardavam-me numa mesa do andar de baixo, na zona de fumadores, assim escolhida porque, dos oito que éramos, três são fumadores ativos e, deste modo, tinham a prerrogativa de poderem satisfazer o apetite, se lhes aprouvesse. Na verdade, acabámos por concordar todos na desvantagem da coisa: afinal, estávamos numa cave, o sistema de exaustão obrigatório por lei não estava a funcionar, e levar com fumo durante toda uma refeição não é propriamente um sonho, mesmo para quem, como eu, não costuma incomodar-se com o facto – e é só por isso que, lá em baixo, nas nossas pontuações, não consigo dar nota mais alta ao espaço, que é, na cave, tão bonito como no andar superior.

Quando cheguei, já passava das 21h, o espaço ainda não estava lotado, embora se apresentasse já muito composto, traduzindo um ecletismo simpático: havia locais e turistas, portugueses e estrangeiros, gente nos vintes e nos sessentas e muitos risos e conversas no ar – e só isto dispõe bem. O que também nos dispôs bem foi apreciar a qualidade das francesinhas que a maioria de nós decidiu comer: o pão, ligeiramente tostado e carregadinho de queijo, fez as minhas delícias, e as carnes, sobretudo os enchidos (salsicha fresca e linguiça) estavam excecionalmente bons. As batatas eram caseiras e aos palitos e, não sendo de chorar por mais, marcharam muitíssimo bem. Já o molho, esse, era demasiado grosso para o meu gosto (e eu detesto molhos muito líquidos, mas este solidificava depressa demais) e, embora fosse saboroso, não me marcou. Claro que a coisa resolveu-se facilmente: pediu-se mais e lá veio ele, fumegante e mais líquido, para empapar o resto da sandes, que eu cá, se é para enfardar, é sempre em grande.

Entretanto, tive ainda oportunidade de provar os pimentos padron, que estavam bons, como sempre – é coisa que nunca comi mal feita (mesmo cozinhados por mim, pasme-se), pelo que o mérito há-de estar todo na matéria-prima. O caldo verde também foi muito gabado, a bela da sandes de pernil também agradou e o camembert panado com molho de tomate, não estando mau, acabou por não fazer sucesso junto da MV, que estava sem grande fome e achou que tinha escolhido algo que não lhe apetecia por aí além.

No que toca às bebidas, encetámos hostilidades com um maduro branco simpático, mas rapidamente passámos à Super Bock, que somos gente de amores fiéis. Alguns de nós (nos quais, evidentemente, me incluo) não resistiram a acabar a refeição com uma mousse de chocolate, sobremesa única mas bastante janota: amanteigada e aprimorada com suspiro ralado, que me soube muito bem.

No final, por estes bons apetites absolutamente inesperados (ao menos por mim), paguei pouco mais de 15€: optámos por não dividir a conta por todos, já que a ingestão foi muito díspar, e assim é até mais fácil perceber o que ali paga alguém que gosta de perder nada e não prescinde de entradas e saídas, sem esquecer o que fica no meio.

La Bohème | Porto
3.9 / 5 Carapaus
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Positivos
  • A decoração
  • a francesinha
  • a simpatia dos funcionários
  • Negativos
  • O facto de se poder fumar (sobretudo na cave)
  • o estacionamento na zona (pago)
  • a lentidão do serviço.
  • Resumo
    Quem diria que o bem conhecido La Bohème, onde a malta ia buscar copos para beber na rua, aos fins-de-semana, e se sentava para comer uns tremoços, em horas menos agitadas, se viria a transformar num espaço cheio de pinta e com uma das melhores francesinhas que comi nos últimos tempos? Palminhas para o ambiente eclético, que mistura gente de várias faixas etárias, entre turistas e locais.
    Serviço3.5
    Comida4
    Preço/Qualidade4
    Espaço4
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    La Bohème | Porto

    Morada: Rua da Galeria de Paris, 40
    Localidade: Porto

    Telefone: 222 015 154 | 933 347 079
    Horário: Ter a Dom – 15h00 às 02h00
    Aceitam reservas? Sim

    No Zomato
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